Bagdá O primeiro-ministro do Iraque ordenou ontem a abertura de uma investigação sobre os sangrentos confrontos da semana passada em Kerbala, apenas horas depois de o clérigo xiita antiamericano Muqtada al-Sadr ter exigido que o governo investigasse a violência, que alguns afirmam ter sido provocada por sua milícia Exército Mahdi.
O primeiro-ministro Nouri al-Maliki prometeu uma investigação imparcial depois que seguidores do clérigo ameaçaram com ações não especificadas caso o governo não acatasse a exigência.
Oficiais de segurança afirmam que a violência em Kerbala teve início quando membros do Exército Mahdi confrontaram guardas de uma mesquita associados à Organização Badr, aliada ao Conselho Supremo Islâmico do Iraque. Mais de 50 pessoas foram mortas e centenas ficaram feridas.
O grupo Badr também vinha pedindo uma investigação, e o gabinete de al-Maliki afirmou num comunicado que uma comissão investigadora agirá com "neutralidade e profissionalismo, sem tender para nenhum lado".
Al-Sadr anunciou na última quarta-feira que sua milícia iria suspender suas atividades por um período de seis meses, numa aparente tentativa de conter críticas depois dos confrontos em Kerbala. Ontem, ele ameaçou agir por conta própria caso o governo não abrisse a investigação.
"Depois da procrastinação dos últimos dois dias, advertimos o governo iraquiano e as autoridades executivas em Kerbala que se eles não abrirem uma investigação rápida, justa e neutra, o escritório Sadr será obrigado a tomar medidas", afirmou o porta-voz Sheik Salah al-Obeidi numa entrevista coletiva em Najaf. Ele não quis detalhar quais medidas seriam tomadas.
Apesar de o governo iraquiano e o comando militar dos Estados Unidos terem aplaudido a decisão de al-Sadr de conter sua milícia, forças americanas têm mantido o Exército Mahdi sob pressão, alegando estarem atrás apenas de facções dissidentes que receberiam armas e treinamento do Irã, uma acusação que Teerã nega. O Exército dos EUA anunciou ter prendido onze dos supostos dissidentes em batidas sábado em Bagdá e outros sete em Baquba. Al-Obeidi criticou as "opressivas" ações dos EUA contra seguidores de al-Sadr.
Um comunicado do escritório de al-Sadr afirmou que mais de 200 de seus seguidores foram detidos nos últimos três dias na província de Kerbala, tornando o elogio do premier al-Maliki à desmobilização do Exército Mahdi nada mais do que "tinta no papel".
Apesar das promessas de suspender as detenções, "elas continuam", disse Jawad al-Hasnawi, um membro sadrista do Conselho da Província de Kerbala.
Mais detenções ocorreram ontem, garantiu. "Eles nos estão levando de volta à era da antiga ditadura (de Saddam Hussein)", acusou.