Bagdá Temendo conflitos entre sunitas leais a Saddam Hussein e xiitas inimigos do ex-ditador enforcado ontem o primeiro-ministro do Iraque, Nouri al Maliki, pediu a unidade de todos os iraquianos. Cidade xiitas e curdas celebram a morte de Saddam com intensos disparos no ar, enquanto árabes em peregrinação na Arábia Saudita se disseram insultados pela execução durante um feriado sagrado muçulmano.
As últimas palavras de Saddam, que governou o Iraque com mão-de-ferro de 1979 a 2003, foram, também, um apelo pela unidade iraquiana. "Espero que permaneçam unidos e que não confiem na coalizão iraniana, essa gente é perigosa", disse o ex-ditador, condenado à morte pela execução de 148 aldeões xiitas de Dujail, em 1982. Depois, subiu ao patíbulo "decidido e sereno", com um exemplar do Alcorão nas mãos, segundo Muafaq al Rubai, testemunha da execução.
"O ex-presidente também afirmou que não tinha medo de nada e não se intimidou diante do carrasco. Pediu que o exemplar do Alcorão fosse entregue a uma pessoa. Alguém anotou o nome e prometeu atender ao último pedido", explicou Rubai. "Foi um processo 100% iraquiano. Só havia iraquianos, nenhum estrangeiro".
O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, afirmou que a execução do ex-presidente iraquiano Saddam Hussein é um marco no caminho do país à democracia. "Fazer justiça no caso de Saddam não vai encerrar a violência no Iraque, mas é um importante marco no caminho para uma democracia que possa governar, sustentar e se defender", disse em um comunicado o presidente norte-americano, que está em seu rancho no Texas. "Muitas decisões difíceis e mais sacrifício ainda deverão ocorrer", reconheceu Bush.
A coalizão liderada pelos Estados Unidos derrubou o regime de Saddam em 2003, argumentando que o ditador possuía um arsenal de armas de destruição em massa. Nenhuma foi descoberta. Desde então, quase 3 mil militares dos EUA e milhares de iraquianos morreram no país e Bush reconheceu que não estava vencendo a guerra. As forças norte-americanas estão em alerta no Iraque para eventual aumento da violência após a execução. Bush passou parte do tempo no Texas discutindo com assessores um novo plano para o Iraque. Na sexta-feira, conversou com o primeiro-ministro britânico Tony Blair, seu principal aliado na guerra, sobre a nova estratégia. Segundo a Casa Branca, Bush foi informado na noite de sexta-feira pelo assessor de Segurança Nacional, Stephen Hadley, que Saddam seria executado em algumas horas, mas de acordo com o porta-voz Scott Stanzel ele já estava dormindo quando o enforcamento ocorreu.
Adiamento
O meio-irmão de Saddam Hussein, Barzan al-Tikriti, e o antigo presidente do Tribunal Revolucionário Awad al-Bandar, também condenados pelo massacre de Dujail, tiveram a execução adiada no último minuto.
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