Com recorde histórico de abstenção de votos (52,5% dos inscritos não votaram), o primeiro turno das eleições legislativas na França cria uma agitação na política do país. Os resultados do último domingo (12) apontam, antecipadamente, para uma derrota simbólica do presidente francês, Emmanuel Macron.
Um empate técnico entre a bancada presidencial (25,75% dos votos) e a coalizão da esquerda radical (25,66%) evidencia que o presidente francês pode passar a comandar o país com uma maioria relativa na Assembleia Nacional, dependendo do resultado final, após o segundo turno, que acontece no próximo domingo (19).
Os macronistas amplificam a campanha a partir desta segunda-feira (13), para garantir a soberania da bancada presidencial nos próximos cinco anos. "Nós somos a única força política capaz de obter uma maioria forte", disse a primeira-ministra da França, Élisabeth Borne, em entrevista na sede do partido Em Marcha. Ela passou para o segundo turno das legislativas pelo departamento de Calvados.
Conforme as projeções do instituto francês Ifop-Fiducial, dos 577 deputados eleitos, as cadeiras do Palácio Bourbon deverão ter entre 275 e 310 macronistas. Já a Nupes, formada por partidos da esquerda radical, entre socialistas e ecologistas, deve garantir de 180 a 210 cadeiras da Assembleia.
Essa configuração pode impossibilitar a aprovação da maior parte dos projetos criados pelo Executivo, especialmente os mais polêmicos, como a reforma da aposentadoria. Sobretudo porque Jean-Luc Mélenchon, fundador do partido de esquerda radical França Insubmissa e líder da coalização Nupes, coloca-se como grande opositor a Macron. Para Mélenchon, as legislativas servem como um terceiro turno das eleições presidenciais. Nas votações de abril, o esquerdista ficou em terceiro lugar, mas com pouca diferença em relação a Marine Le Pen (Mélenchon com 21,95% e Le Pen com 23%).
Le Pen e o Reagrupamento Nacional
A candidata à reeleição como deputada do Reagrupamento Nacional, Marine Le Pen, que chegou às finais das presidenciais em abril, conquistou 55% dos votos no departamento de Pas-des-Calais, onde costuma ser a "candidata favorita". Apesar do score majoritário, devido à grande abstenção no último domingo, Le Pen precisa da maioria dos votos mais uma vez no segundo turno, para garantir a cadeira na Assembleia Nacional.
"No próximo domingo, é importante não deixar Emmanuel Macron ter uma maioria absoluta, da qual ele abusará para aplicar seus métodos egoístas e brutais e impor seu projeto antissocial sobre nós", disse Le Pen em coletiva de imprensa, após a divulgação do resultado do primeiro turno.
O Reagrupamento Nacional conquistou 18,68% dos votos, uma proporção maior do que nas legislativas de 2017 (de 13%), quando ainda era intitulado Frente Nacional.