Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Transição

Establishment, diversidade, intervencionismo: governo Biden começa a ganhar rostos e características

biden governo
Joe Biden começu a anunciar os membros que vão integrar seu governo a partir de 20 de janeiro (Foto: Brendan Smialowski/AFP)

Ouça este conteúdo

Enquanto o presidente Donald Trump continua explorando todas as suas opções para contestar o resultado das eleições na justiça, o democrata Joe Biden já começou a escolher os nomes que vão compor seu gabinete na Casa Branca a partir de 20 de janeiro. Nesta segunda-feira (23) foram anunciados membros-chave das equipes de relações exteriores e segurança nacional da administração que, ao que tudo indica, comandará os Estados Unidos pelos próximos quatro anos.

Não houve surpresas entre os nomes que apareceram. Alguns já são bastante conhecidos dos governos democratas anteriores, como John Kerry, ex-secretário de Estado durante os anos finais do governo de Barack Obama e que deve assumir o cargo de Enviado Especial do Presidente para o Clima na presidência de Biden. Outros são menos conhecidos, mas também atuaram na administração Obama, como Antony Blinken, indicado para o cargo de secretário de Estado; Jake Sullivan, que deve ser o próximo conselheiro de segurança nacional; e Alejandro Mayorkas, a escolha de Biden para o Departamento de Segurança Interna.

Essas figuras mostram a volta do establishment político à Casa Branca e indicam uma postura centrista, focada no multilateralismo, a ser adotada pelo governo Biden  – pelo menos nas relações internacionais e na segurança nacional, as pautas de costume são outra história. É, assim como prometido pelo democrata em sua campanha eleitoral, uma grande mudança em relação aos quatro anos do governo Trump, que adotou um posicionamento mais isolacionista e ideológico na política internacional, usando amplamente das sanções e da retórica para confrontar seus inimigos – e até os aliados.

Um exemplo desta diferença: a administração Biden não estará tão disposta a reduzir a presença militar americana no exterior. Nos últimos quatro anos, Trump diminuiu significativamente as tropas americanas no Oriente Médio. Nos meses finais de sua gestão, o republicano promete levar de volta para casa quase a metade dos 4.500 militares americanos que ainda estão no Afeganistão. Por mais que Biden seja a favor de uma pequena presença dos EUA no Oriente Médio, os nomes que vão compor seu gabinete podem fazê-lo mudar de ideia, dependendo do cenário apresentado.

Blinken, por exemplo, esteve por trás da decisão do governo de Barack Obama em intervir militarmente na Líbia, que mergulhou o país africano em uma guerra civil que não dá trégua. Em 2003, sendo um dos mais importantes assessores do então senador Joe Biden, Blinken orientou o político democrata a votar pelo uso da força no Iraque, outra intervenção militar americana desastrosa que custou milhares de vidas e criou o ambiente no qual surgiu o Estado Islâmico. Ele também defendeu maior presença dos EUA na Síria e, sobre isso, afirmou recentemente: “procuramos, com razão, evitar outro Iraque, não fazendo muito, mas cometemos o erro oposto de fazer muito pouco”.

Descendente de sobreviventes do Holocausto, Blinken já afirmou várias vezes que acredita que os Estados Unidos devem interferir militarmente em outros países para salvar populações em risco, uma justificativa aparentemente louvável e que funcionou na Segunda Guerra Mundial, mas que teve resultados desastrosos no Oriente Médio recentemente.

Por mais que o futuro secretário de Estado não seja visto como um “falcão da guerra” – já esteve envolvido em articulações diplomáticas, como o acordo nuclear do Irã, e é considerado um criador de consensos – sua atuação em um dos cargos mais importantes do governo Biden pode significar uma Casa Branca mais inclinada a interferir militarmente em outros países. Por isso, e como esperado, a indicação de Blinken gerou algumas críticas da direita e da esquerda.

Diversidade

Outra característica do governo Biden ficou evidente com o anúncio destes primeiros nomes: o democrata fará jus à sua promessa por mais diversidade dentro da Casa Branca.

Nascido em Cuba, Mayorkas será o primeiro latino a chefiar o Departamento de Segurança Interna, responsável pelas políticas de imigração. Ele tem experiência como foi procurador da Califórnia e como diretor de cidadania e serviços imigratórios no governo Obama.

Avril Haines, que trabalha com Biden há mais de uma década, será a primeira mulher a chefiar a Diretoria de Inteligência Nacional. Linda Thomas-Greenfield, diplomata negra, será embaixadora dos EUA na ONU.

Outra mulher deve ocupar um cargo de destaque, embora seu nome ainda não tenha sido confirmado pela equipe de transição de Biden: Janet Yellen, ex-diretora do FED, o banco central americano, será indicada para chefiar a Secretaria do Tesouro, segundo antecipou a imprensa americana.

“Esses indivíduos são tão experientes e preparados para momentos de crises quanto são inovadores e criativos”, disse Biden sobre suas escolhas. “Suas realizações na diplomacia são incomparáveis, mas também refletem a ideia de que não podemos enfrentar os desafios profundos deste novo momento com pensamentos antigos e hábitos inalterados – ou sem diversidade de origens e perspectivas. É por isso que os escolhi”.

O processo de transição de governo nos Estados Unidos já começou, após o aval de Trump nesta segunda-feira. Biden deve anunciar mais nomes de seu futuro gabinete nesta semana.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.