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Estados Unidos

Principal liga de beisebol dos EUA boicota estado após mudança em lei eleitoral

all star game
All-Star Game seria realizada em Atlanta, na Geórgia, mas foi transferido para Denver, no Colorado, por questões políticas (Foto: Todd Kirkland / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / AFP)

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As ligas norte-americanas de esportes têm uma forma muito conhecida de promover seus astros: o Jogo das Estrelas, ou All-Star Game. Mais conhecido no Brasil através da liga de basquete, NBA, o Jogo das Estrelas também é realizado em outras ligas como a de futebol americano e beisebol. Mas neste ano, a Major League Baseball (a principal liga de beisebol dos EUA) resolveu estrelar também na política.

Na última sexta-feira (2), a MLB anunciou que transferiu o All-Star Game e o sorteio de escolha dos jogadores novatos (conhecido como draft) de Atlanta, no estado da Geórgia. Denver, no Colorado, será o novo local do jogo. A mudança ocorreu porque recentemente o estado aprovou uma lei que supostamente restringiria as possibilidades de votação, alguns críticos chegaram a afirmar que a lei inclusive tornaria mais difícil o acesso de negros às urnas.

O próprio presidente dos EUA Joe Biden chegou a afirmar que as leis lembravam as leis segregacionistas do sul dos EUA, na era Jim Crow. E, sobre a mudança do local do jogo, afirmou na última quarta-feira que “apoiaria fortemente”. O democrata também elogiou a presença cada vez maiores dos astros do esporte na política: “Acho que os atletas profissionais de hoje estão agindo de forma incrivelmente responsável”, disse ele.

Quem também se manifestou a favor da medida foi o superastro da NBA, LeBron James, que há pouco se tornou co-proprietário do Boston Red Sox, time da MLB: "Orgulho de me considerar parte da família @mlb hoje”, afirmou o jogador que é conhecido pelo seu suporte irrestrito ao Black Lives Matter, em seu Twitter.

O que diz a lei

A lei, porém, não coloca nenhum entrave à votação por cor. Os pontos mais controversos da lei são:

  • A necessidade de se apresentar um documento de identificação (que é fornecido gratuitamente no estado) para retirar uma cédula para voto em correio, sendo que já havia um dispositivo igual para os votos presenciais.
  • Ainda sobre o voto ausente, a lei diminui pela metade (de 180 dias para 78 dias antes das eleições) o período em que os eleitores podem solicitar as cédulas de votação por correio. Também proíbe que cédulas sejam enviadas para todos os eleitores registrados e limita o número de urnas para depositar estes votos.
  • Considera uma contravenção distribuir “qualquer dinheiro ou presente, incluindo, mas não se limitando a, comida e bebida” a qualquer pessoa que estiver na fila para votar, como forma de evitar a compra de votos. Isso gerou críticas quanto a necessidade de distribuir água às pessoas que estão na fila, porém a lei prevê a possibilidade de instalação de bebedouros nos locais de votação.
  • Declara que o estado tem autoridade para intervir em algumas atribuições dos condados quanto às seções eleitorais. Segundo a lei, o conselho poderia intervir em até quatro condados ao mesmo tempo e instalar um superintendente temporário com a capacidade de contratar e demitir pessoal.

Além disso, a lei expande os dias de votação antecipada, exigindo dois dias de votação no sábado e dois dias de votação opcionais no domingo. O projeto de lei ainda ressalta que “todos os eleitores na Geórgia terão acesso a múltiplas oportunidades de votar pessoalmente no fim de semana pela primeira vez”. Ironicamente, essa medida favoreceria a comunidade negra do estado. Segundo a Associated Press, nos domingos, “muitas ‘igrejas negras’ conduzem esforços de levar ‘almas às urnas’ para incentivar os fiéis a votar”.

Na justificativa para a decisão de mudar o jogo de cidade, o Comissário da MLB afirmou que a liga “apoia fundamentalmente o direito de voto para todos os americanos e se opõe às restrições às urnas” e que “o acesso justo à votação continua a ter o nosso apoio inabalável”.

Reações

O governador da Geórgia, o republicano Brian P. Kemp, não poupou críticas a decisão da liga. “Hoje, a MLB cedeu ao medo, ao oportunismo político e às mentiras da esquerda”, afirmou ele.

Kemp também fez referência à cultura do cancelamento que tem ganhado espaço no debate público americano:

“Os georgianos – e todos os americanos – devem entender perfeitamente o que significa essa decisão impensada da MLB: cultura do cancelamento e ativistas políticos “woke” estão chegando a todos os aspectos de sua vida, incluindo esportes. Se a esquerda não concorda com você, os fatos e a verdade não importam”, acrescentou ele.

Quem também reprovou a decisão da MLB foi o ex-presidente americano Donald Trump, que foi um crítico severo de como a Geórgia conduziu as últimas eleições presidenciais.

“O beisebol já está perdendo um número enorme de fãs”, escreveu Trump em um comunicado, “e agora eles deixam Atlanta com seu All-Star Game porque têm medo dos democratas de esquerda radical que não querem identificação de eleitores”. O ex-mandatário também conclamou um “boicote ao beisebol e a todas as empresas que estão interferindo em eleições livres e justas”.

Stacey Abrams, candidata democrata que foi derrotada na última eleição estadual, afirmou que a lei “torna mais difícil para as pessoas de cor votarem no bem-estar econômico de todos os georgianos”, embora tenha lamentado pelas “famílias da Geórgia prejudicadas por eventos e empregos perdidos”.

O clube de beisebol local, o Atlanta Braves, afirmou que não apoiou a decisão da MLB e lamentou os “empregos, negócios e fãs” que foram prejudicados pela decisão.

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