Em seus primeiros comentários públicos desde o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi por agentes sauditas em Istambul há três semanas, o príncipe Salman bin Mohammed, conhecido como MBS, disse que seu país está fazendo o possível para realizar uma investigação completa e levar os responsáveis à justiça.
Falando para mais de 3.000 líderes empresariais de todo o mundo durante o evento “Iniciativa para Futuros Investimentos”, fórum econômico conhecido como “Davos no Deserto”, Mohammed não reconheceu qualquer responsabilidade no caso e classificou o assassinato como um “crime hediondo” que foi "muito doloroso para todos os sauditas" e para o mundo.
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Ele acusou críticos, sem identificá-los, de usar o caso para causar discórdia entre a Arábia Saudita e Turquia e prometeu isto não iria acontecer enquanto seu pai fosse o rei e ele, o príncipe herdeiro.
O assassinato de Khashoggi, um dos principais críticos do jovem príncipe herdeiro, tem ofuscado o fórum econômico, destinado a destacar o os planos de Mohammed para modernizar a economia do reino e diversificar a economia baseada em petróleo. O governante de fato do país é suspeito de ter ordenado a operação secreta contra o jornalista colaborador do Washington Post.
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Autoridades do governo saudita mudaram dramaticamente sua história oficial sobre o que aconteceu com Khashoggi desde o dia em que ele foi morto, em 2 de outubro. Seus restos mortais ainda estão desaparecidos, e autoridades turcas disseram que agentes sauditas desmembraram seu corpo.
Por mais de duas semanas após o desaparecimento, a família real insistiu que Khashoggi havia deixado o prédio do consulado vivo e que eles não tinham informações sobre o seu paradeiro. Foi só na sexta-feira à noite que o governo saudita reconheceu que o jornalista havia sido morto por agentes sauditas em uma “briga”.
A versão saudita dos acontecimentos mantém a culpa longe de Mohammed. Em vez disso, os sauditas demitiram cinco pessoas, incluindo altos oficiais da inteligência e assessores próximos a MBS, e prenderam outros 18.
‘Davos no deserto’
Os Estados Unidos anunciaram na terça-feira seu primeiro passo concreto para penalizar a Arábia Saudita, revogando vistos para agentes envolvidos no assassinato. O presidente Trump disse que "deixaria para o Congresso" a tarefa de determinar novas medidas contra o reino, que é um dos principais aliados americanos no Oriente Médio e um vasto mercado para os fabricantes de armas dos EUA.
A conferência, em um centro opulento no hotel Ritz-Carlton, foi boicotada por dezenas de patrocinadores de renome e executivos, incluindo Jamie Dimon, do JPMorgan Chase, Stephen Schwarzman da Blackstone e o fundador da AOL, Steve Case.
Ainda assim, autoridades sauditas anunciaram na segunda-feira que pelo menos US$ 50 bilhões em transações foram concluídas na conferência, incluindo um número de grandes empresas americanas, como a Halliburton.
Os grandes corredores do centro de conferências foram ocupados por executivos de todo o Oriente Médio, China, Rússia, Europa e Estados Unidos. Muitos disseram que os laços econômicos e de segurança entre os Estados Unidos e a Arábia Saudita são fortes demais para serem quebrados pela morte de Khashoggi.
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Khashoggi foi assunto constante durante a conferência, mas foi mencionado publicamente apenas algumas vezes. Lubna Olayan, executiva proeminente da Arábia Saudita, abriu a conferência na terça-feira dizendo que a morte de Khashoggi era "estranha à nossa cultura e ao nosso DNA”.
Também na terça-feira, o ministro da Energia da Arábia Saudita, Khalid al-Falih, disse que o assassinato foi "abominável".
"Como todos sabemos, estes são dias difíceis para nós no reino da Arábia Saudita", disse ele. "Ninguém no reino pode justificar ou explicar [o que aconteceu com Khashoggi. Desde a liderança, todos estamos muito chateados com o que aconteceu".