Violações dos direitos humanos e repressão sem precedentes têm sido realizadas pelas autoridades bielorrussas desde o início da invasão da aliada Rússia à Ucrânia. A censura e a pressão contra opositores, que já eram fortes no país vizinho dos russos, ganharam força desde fevereiro. O regime de Belarus faz buscas domiciliares, detenções arbitrárias, processos criminais por motivos políticos, demissões e pressão psicológica.
A reeleição de Alexander Lukashenko, amplamente contestada em 2020, provocou protestos históricos, brutalmente reprimidos. De acordo com a relatora especial das Nações Unidas sobre Belarus, Anaïs Marin, hoje, em período de guerra no Leste Europeu, Lukashenko não quer apenas reprimir, mas se vingar de opositores.
Desde maio, o gabinete da líder da oposição no exílio, Svetlana Tsikhanovskaya, é considerado uma organização criminosa e é constantemente acusado de ter planejado um ato terrorista, crime punível com pena de morte no país.
Em relatório apresentado em Nova York, no final de outubro, Marin descreveu a pressão sobre milhares de cidadãos bielorrussos que foram empurrados ao exílio. De acordo com o texto, “Alexander Lukashenko usa todos os meios para silenciar as vozes críticas ou forçá-las a sair do país”.
O regime esteve engajado em um expurgo maciço e sistemático da sociedade civil, especialmente de jornalistas, advogados, professores, artistas e defensores de direitos humanos. Mais de 600 ONGs foram liquidadas desde 2020. Segundo o documento apresentado nos Estados Unidos, os membros da sociedade civil que permaneceram no país agora têm apenas três opções: ser leais ao governo, permanecer inativos ou operar clandestinamente.
Bielorrussos em movimentação
Antes da guerra, cerca de 200 mil bielorrussos viviam na Ucrânia, um dos principais destinos de opositores e vítimas da repressão. Como poucos tinham autorização de residência permanente no país vizinho, não puderam se beneficiar da proteção temporária dentro da União Europeia, depois da invasão russa.
Cidadãos bielorrussos também sofreram restrições ou proibições de visto como parte das sanções contra Belarus, que disponibilizou seu território à Rússia para invadir a Ucrânia.
Parte dos cidadãos contrários ao regime de Lukashenko também se refugiaram temporariamente na Geórgia, onde podem viver por um ano sem documentos.
Os que não tiveram saída, na volta ao país de origem, sofreram ainda mais repressão, junto com os conterrâneos que, de uma forma ou de outra, se opõem ao apoio que o país dá à invasão russa.
A guerra na Ucrânia incentivou duas novas ondas de emigração em Belarus. A primeira ocorreu após a invasão, em 24 de fevereiro, e a outra em setembro, após o anúncio de Vladimir Putin sobre a mobilização de centenas de milhares de reservistas na Rússia.
“Os jovens bielorrussos disseram a si mesmos: o próximo passo será a mobilização em Belarus, então temos que sair”, explicou Anaïs Marin ao Le Monde.
Um país dividido
A invasão da Ucrânia também deixou mais evidentes as divergências internas entre o ditador e a oposição no país que faz fronteira com os dois países em guerra. Enquanto a Rússia iniciava a invasão à Ucrânia a partir de Belarus, e segue tendo apoio de Lukashenko, a líder da oposição, exilada na Lituânia, passou a organizar um posicionamento a favor da Ucrânia.
Em 17 de outubro, o ex-diplomata Valery Kavaleuski, conselheiro de Svetlana Tsikhanovskaya, foi enviado em missão a Kiev para estabelecer contatos com as autoridades.
“Queremos uma relação que nos permita ter uma abordagem conjunta sobre Belarus e como podemos vencer a guerra na Ucrânia”, disse Kavaleuski durante a visita.
‘Os ucranianos sabem que terão necessariamente que lidar com o regime de Lukashenko para vencer esta guerra. É crucial que Belarus se torne democrática e deixe de representar uma ameaça”, completou.
A abertura de relações oficiais entre a oposição bielorrussa no exílio e Kiev, no entanto, pode ser considerada uma “provocação” aos olhos do líder bielorrusso.
Até agora, o exército do país não participou dos combates em território ucraniano, mas a preocupação de seu envolvimento direto no conflito e a abertura de uma nova frente ao norte via Belarus aumentou ainda mais desde que Lukashenko anunciou em 10 de outubro a criação de um grupo militar conjunto com a Rússia.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, acusou Moscou de querer “atrair Belarus para a guerra” e convocou o G7 para uma missão de observação internacional na fronteira.
Ansioso para evitar novas sanções internacionais, o próprio Alexander Lukashenko está relutante em enviar tropas. Mas sua margem de manobra é mais reduzida do que nunca diante de Vladimir Putin. Existem rumores de que houve grande investimento russo no país vizinho, que sustentaria a permanência do ditador após denúncias de fraude nas eleições de dois anos atrás.
Por sua vez, a população bielorrussa não parece disposta a ver seu exército se envolver diretamente no conflito ucraniano. De acordo com um estudo publicado em agosto pelo think tank britânico Chatham House, 70% dos bielorrussos são contra.
Bielorrussos já lutam na Ucrânia desde o início da guerra, mas dentro das forças armadas ucranianas, contra os russos. Esses oponentes do regime de Lukashenko formaram dois regimentos, com mais de mil soldados. Grupos de resistência bielorrussos também organizaram dezenas de atos de sabotagem para retardar o avanço das tropas russas.
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