Uma festa de elite em uma casa noturna de Moscou, realizada no dia 23 de dezembro, provocou uma retaliação do público e das autoridades da Rússia, levando a uma prisão e um processo judicial pedindo uma indenização vultosa.
Anastasia Ivleeva, atriz e apresentadora de TV que organizou o evento, explicou que a vestimenta apropriada era a "quase nudez". Os convidados ouviram, vestindo tecidos translúcidos e pouca roupa em fotos que viralizaram entre os russos.
O rapper Vacio (Nikolai Vasilyev) apareceu vestindo apenas uma meia na genitália. Ele foi preso por "vandalismo leve", uma infração que causa desordem pública ou incômodo. A pena é de 15 dias de reclusão e multa equivalente a R$10.640.
Uma decisão judicial contra a festa disse que o evento incorreu no crime de "propagar relacionamentos sexuais não-tradicionais", um dispositivo legal com frequência usado contra a liberdade dos LGBT no país.
No Instagram, Ivleeva pediu desculpas em um vídeo de 21 minutos de duração. Ela pediu encarecidamente por uma segunda chance. Antes, ela tinha dito que a festa era uma oportunidade para mostrar o seu trabalho como editora-chefe da agora extinta edição russa da Playboy.
A organizadora já está sendo processada em uma ação coletiva de 22 acusadores que querem uma indenização equivalente a R$ 53,2 milhões (um bilhão de rublos). A alegação é que sofreram danos morais ao ver as fotografias da festa. O processo foi iniciado por um ator, que pretende doar o dinheiro para os soldados que lutam na Ucrânia.
Outras celebridades que compareceram também pediram desculpas, algumas foram removidas de seu papel em festas de réveillon. "Há momentos na vida de toda pessoa em que ela entra pela porta errada", justificou-se o cantor Philipp Kirkorov, conhecido por vestimentas chamativas. "Se alguém se sentiu ofendido pela minha aparência, eu peço desculpas. Amo o meu país, sou uma jornalista que trabalha na Rússia", declarou Ksenia Sobchak, socialite que foi candidata à presidência em 2018.
A retaliação à festa é vista internamente como uma mostra de alinhamento à mensagem do regime de Vladimir Putin, no poder há 24 anos. O mandatário tem denunciado o Ocidente por suposta decadência moral. No mês passado, a Suprema Corte do país determinou que organizações LGBT são "extremistas".
"Tais confraternizações são um tiro no pé para toda a política buscada pelo Estado", disse Yekaterina Mizulina, líder de um grupo de ativismo pró-Kremlin que busca mais censura na Internet, no Telegram.