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Pela segunda noite seguida, Madri e outras cidades espanholas registraram protestos violentos contra a prisão do rapper catalão Pablo Hasél, detido na terça-feira (16) após ter sido condenado por "glorificar o terrorismo" e por ter insultado a monarquia e as forças de segurança da Espanha em suas músicas e nas redes sociais.
Nesta quarta-feira, a polícia de Madri usou balas de borracha e gás lacrimogêneo para conter os protestos, mais de 50 pessoas saíram feridas. Centenas de pessoas foram às ruas da capital espanhola pedir pela libertação de Hasél e protestar contra a violência policial. Alguns manifestantes começaram a atirar garrafas e pedras contra os policiais, que responderam com o uso de cassetetes na multidão. Manifestantes também incendiaram latas de lixo e mobiliário urbano para fazer barricadas nas ruas de Madri e de Barcelona.
A polícia da Catalunha, Mossos d'Esquadra, informou que dez pessoas foram detidas em Barcelona, 12 em Lleida, cinco em Girona e duas em Tarragona por "atos violentos e desordem pública" durante os protestos desta quarta-feira. Em Madri, pelo menos 14 pessoas foram presas.
Uma jovem que participava dos atos em Barcelona na terça-feira foi ferida durante os distúrbios e perdeu um olho, segundo o jornal El País. Um centro de direitos humanos local relatou que ela foi ferida por um disparo de bala de borracha dos Mossos. O departamento de saúde regional confirmou que a mulher perdeu um olho, passou por uma operação, está internada e passará por outra operação na quinta-feira.
Um jornalista da Reuters que cobria os protestos em Barcelona foi ferido por balas de borracha da polícia de choque, relatou o site de notícias.
Como foi a prisão
O rapper Pablo Hasél, conhecido por seus posicionamentos radicais de esquerda, não se entregou às autoridades na sexta-feira passada, como determinava uma sentença do ano passado que o condenou a nove meses de prisão e a pagar uma multa de quase 30 mil euros. Na ocasião, a corte julgou que os seus comentários ultrapassavam os limites da liberdade de expressão e se enquadravam em "expressões de ódio e ataques à honra". Uma sentença inicial, de 2018, de dois anos de prisão foi reduzida para nove meses após apelação.
Na segunda-feira (15), o rapper buscou refúgio em uma universidade em Lleida, na Catalunha, dizendo que queria "tornar as coisas o mais difícil possível para a polícia". As autoridades precisaram derrubar barricadas instaladas pelo músico e cerca de 50 apoiadores.
"Nunca vamos parar. Eles nunca nos vencerão, mesmo com toda a repressão", disse Hasél ao ser retirado do local.
O caso acendeu o debate sobre liberdade de expressão e a chamada "lei da mordaça" na Espanha. O governo do esquerdista Pedro Sánchez prometeu uma reforma no código penal para que artistas não sejam presos por "excessos verbais feitos no contexto de atos artísticos, culturais ou intelectuais".
Mais de 200 artistas, entre eles o cineasta Pedro Almodóvar e o ator Javier Bardem, assinaram um manifesto de apoio a Pablo Hasél. No texto, divulgado na semana passada, os artistas denunciam que "a perseguição a rappers, tuiteiros, jornalistas, bem como a outros representantes da cultura e arte, por tentarem exercer o seu direito à liberdade de expressão, tornou-se uma constante".
Para os autores do manifesto, com a prisão do rapper, a Espanha se equipara a países como Turquia ou Marrocos, "que também contam com vários artistas presos por denunciarem os abusos cometidos pelo Estado".
O que diziam as mensagem do rapper
As mensagens que levaram à condenação de Pablo Hasél foram publicadas entre 2014 e 2016, em 64 posts no Twitter e uma canção no YouTube "que denegriram várias instituições ao mesmo tempo que dedicam frases que glorificam certas pessoas condenadas por terrorismo".
Segundo o El País, em uma das mensagens, publicada em março de 2016, o rapper escreveu junto a uma fotografia de um membro do grupo terrorista Grapo - organização armada de extrema esquerda banida da Espanha: "As manifestações são necessárias, mas não suficientes, apoiemos àqueles que têm ido além".
Pelo Twitter, o rapper chamou as forças policiais de "mercenários de m****" e as acusou de tortura e assassinato de imigrantes, além de ter exaltado o ETA e outros grupos terroristas. Ele também chamou a família real espanhola de mafiosa e o rei emérito Juan Carlos I de "ladrão" e "bêbado tirano". A acusação destacou tuites em que Hasél se referiu a Juan Carlos I e à sua família como "parasitas", "mafiosos", "crime organizado", entre outros. Segundo os promotores, as palavras "ferem a dignidade do rei emérito" e por isso constituem crime de injúria à Coroa.