Cães são usados para aterrorizar e até morder presos rebeldes que se recusam a deixar suas celas em cinco estados americanos, informou uma entidade de direitos humanos na terça-feira, comparando essa prática aos abusos ocorridos na penitenciária de Abu Ghraib, no Iraque.
A Human Rights Watch disse não saber de outro país onde isso aconteça. Segundo a ONG, trata-se de um segredo bem guardado, que tem semelhanças com o caso dos soldados americanos que aterrorizavam presos iraquianos com cães.
- Em Abu Ghraib, não era para os cães morderem o preso. Aqui, estamos usando cães para aterrorizar. Se a intimidação pelo cão não funciona, o cão então vai e morde - disse Jamie Fellner, diretor da Human Rights Watch para os EUA.
Segundo um relatório de 20 páginas, esses casos acontecem em Connecticut, Delaware, Iowa, Dakota do Sul e Utah. Segundo o texto, os cães entram em ação quando um preso se recusa a deixar sua cela. Se a rebeldia continuar, o preso é mordido e removido enquanto tenta se defender do cão.
"Em algumas prisões, a cultura institucional permite extrações da cela simplesmente para mostrar aos presos 'quem manda' ou para retaliar contra presos que desafiam, mesmo que não haja uma emergência real", disse o relatório.
- Em Abu Ghraib, sempre negaram que o uso de cães fosse para esse propósito. Aqui é uma política - disse Fellner.
O texto diz ainda que Massachusetts e Arizona abandonaram essa prática neste ano.
O Departamento de Correções de Connecticut disse que suas 22 equipes caninas são cruciais para manter a segurança das prisões.
- Se necessários, elas são usadas em extrações de celas - admitiu uma porta-voz.
Nos demais Estados citados, as autoridades não quiseram comentar.
A Human Rights Watch pediu à Associação Correcional Americana, de Washington que proíba a prática em seu código nacional de conduta para diretores de prisões.
Os EUA têm uma população carcerária de cerca de 2,2 milhões de pessoas, aproximadamente um quarto do total mundial. A taxa de pessoas presas no país quadruplicou em 25 anos, alimentada por políticas policiais de linha-dura adotadas nas décadas de 1980 e 90. Só nos últimos dez anos, a população carcerária dos EUA cresceu em 500 mil pessoas.
- O fator desconhecido com um canino é que se trata de um animal, cria-se um risco desnecessariamente alto de ferimento. Há tantas outras formas de fazer isso. Essa gente fazendo isso está pedindo para ser responsabilizada - disse Steve J. Martin, ex-diretor do sistema prisional do Texas e co-autor de um livro sobre as prisões do Estado.