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Equipe da ambulância do NHS com pacientes do lado de fora do hospital Royal London, em Londres, Grã-Bretanha, 25 de julho de 2022.
Equipe da ambulância do NHS com pacientes do lado de fora do hospital Royal London, em Londres, Grã-Bretanha, 25 de julho de 2022.| Foto: EFE/EPA/ANDY RAIN

Há quatro anos, a irmã de Nicole Glean faleceu devido a um câncer de mama. Em entrevista à Gazeta do Povo, ela conta que, desde então, procura fazer exames de rotina para prevenir a doença, mas os médicos e clínicas do Sistema Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS, na sigla em inglês), informaram que ela só poderá fazer uma ultrassonografia se perceber algum caroço ao fazer o autoexame em casa. Essa é uma recomendação muito diferente da recebida no Brasil, por exemplo, já que a doença pode estar muito avançada e ainda assim não ser perceptível ao toque. O problema enfrentado por Nicole, que mora em Londres desde 2014, mostra apenas uma das fragilidades do sistema de saúde britânico.

Ao assumir como premiê no começo do mês, Liz Truss colocou a restauração do NHS como uma das prioridades da sua gestão, junto com o combate à inflação e à crise energética. Se isso realmente acontecer, será uma mudança de foco em relação ao comando do ex-primeiro-ministro, Boris Johnson, que, quando questionado sobre a crise de saúde, minimizava a gravidade do assunto e apontava para os investimentos na área, como os 150 milhões de libras (cerca de 905 milhões de reais) para o atendimento de ambulâncias no último ano.

O investimento milionário não foi o suficiente. De acordo com uma reportagem da BBC, devido à falta de leitos e médicos nos hospitais desde o início da pandemia de Covid-19, na cidade de Cornouailles, 25 ambulâncias faziam fila no estacionamento do hospital, sendo que algumas esperavam até duas horas pelo atendimento no começo de julho. Em Worcestershire Royal, 15 ambulâncias aguardavam até quatro horas.

“É uma pressão inédita sobre as ambulâncias. Infelizmente, os pacientes sofrerão ou até morrerão com isso”, disse o diretor executivo da Associação de Gestores de Ambulâncias, Martin Flaherty, à BBC.

O noticiário britânico também relatou recentemente a história de Jamie Rees, de 18 anos, que desmaiou após uma parada cardíaca em 1º de janeiro. A ambulância levou mais de 17 minutos para chegar ao local, enquanto em uma emergência desse tipo o tempo máximo para a chegada deveria ser de sete minutos.

Devido à longa espera, como o cérebro de Jamie não foi irrigado por muito tempo, ele nunca mais recuperou a consciência. "Disseram-nos que havia trinta e duas ambulâncias disponíveis", disse a mãe, Naomi Rees-Issitt. “Infelizmente, 17 delas estavam esperando vagas do lado de fora dos hospitais”, desabafou.

Escândalo nas maternidades 

O sistema de saúde também se envolveu no que ficou conhecido na imprensa britânica como o "maior escândalo da história do NHS". De acordo com as conclusões de um relatório independente publicado em 30 de março e divulgado pelo francês Le Monde, nas cidades rurais de Shrewsbury e Telford, na Inglaterra, 201 bebês morreram ao longo de 20 anos (131 natimortos, 70 morreram em sete dias após o nascimento), nove mães também faleceram e 94 bebês nasceram com graves sequelas neurológicas - tragédias consideradas evitáveis para estabelecimentos que registram entre 4 e 5 mil nascimentos por ano.

Donna Ockenden, parteira que conduziu a pesquisa por cinco anos, descreve os problemas do sistema de saúde: falta de pessoal, de diálogo entre parteiras e médicos, falta de escuta e compaixão pelos pais, obsessão por partos naturais com baixo uso de cesarianas – Shrewsbury e Telford se orgulhavam de ter uma das menores taxas de cesarianas do país (14% em 2005, contra uma média nacional de 23,2% na época).

“Ao longo das diferentes etapas do atendimento, a pesquisa identificou o descumprimento das recomendações clínicas nacionais, seja para monitoramento da frequência cardíaca fetal, pressão arterial materna, manejo do diabetes gestacional ou reanimação. Isso, combinado com atrasos na tomada de decisões quando algo dá errado, levou a muitos acidentes, como sepse, encefalopatia e, infelizmente, morte”, aponta o relatório.

Donna Ockenden vai mais longe. "Continuo preocupada porque os serviços de maternidade do NHS não aprendem com os graves eventos que ocorrem lá", conclui.

Jeremy Hunt, ex-ministro da Saúde, fez um alerta em fevereiro, durante o programa de investigação Panorama da BBC. "Não devemos cometer o erro de pensar que o problema está restrito a Shrewsbury. Não me surpreenderia se houvesse a mesma situação em outras maternidades do país", opinou.

No mesmo programa, Ted Baker, inspetor-chefe da Care Quality Commission, a agência de controle hospitalar inglesa, admitiu que "41% das maternidades inglesas precisam aprimorar a segurança".

Promessas de Liz Truss 

Durante a disputa pela liderança, a premiê disse concordar com a necessidade urgente de lidar com os atrasos no atendimento, prometendo instalar uma secretaria de saúde “forte” para resolver o problema. Truss também falou que está “completamente comprometida” com as promessas atuais do governo sobre os gastos do NHS, apesar de seus planos de cortes de impostos.

A premiê destacou que ainda precisará lidar com o envelhecimento da população e o aumento da demanda. Como estratégia, Truss prometeu realocar bilhões de fundos extras destinados ao serviço de saúde, colocando-os em assistência social.

“Temos pessoas em leitos no NHS que estariam melhor sendo acompanhados pela assistência social. Então, colocaremos dinheiro extra nessa área", disse a premiê no discurso de posse. Truss também afirmou que vai “trabalhar para ampliar e melhorar o atendimento para garantir que todos os britânicos tenham um bom acesso ao sistema”.

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