Uma das principais opositoras do regime ditatorial de Nicolás Maduro, a procuradora-geral venezuelana destituída Luisa Ortega Díaz chegou ao Brasil no final da noite desta terça-feira (22) para se reunir com os procuradores-gerais de países membros do Mercosul. Com um arsenal de provas sobre o caso Odebrecht, ela se tornou uma ameaça ao madurismo em seu país. Acredita-se que, por causa desta situação, Ortega Díaz possa pedir asilo no Brasil ou nos Estados Unidos.
A procuradora ainda não ofereceu declarações completas para a mídia nem escreveu sobre isso através do Twitter, um de seus meios favoritos de comunicação. A última mensagem em sua conta, @lortegadiaz, contém o áudio de sua participação por telefone na reunião de procuradores-gerais e promotores da América Latina, no México. Nesse mesmo dia, 18 de agosto, ela fugiu da Venezuela. "Estou sendo assediada, perseguida", afirmou.
Segundo Ortega Díaz, tanto a invasão policial da casa dela, em 16 de agosto, e as acusações e perseguição judicial em contra seu marido, o deputado chavista Germán Ferrer, estão relacionadas com o progresso nas investigações sobre o caso Odebrecht envolvendo Maduro e seu governo. A procuradora denunciou ainda que 64 promotores públicos venezuelanos especializados em corrupção foram impedidos de sair do país, pela mesma razão.
Ortega Díaz também teve proibida a saída da Venezuela, declarada pelo Supremo Tribunal em junho e confirmada pela Assembleia Constituinte, que a destituiu do cargo. No entanto, ela conseguiu sair em um bote para a ilha de Aruba, a 81 km da costa venezuelana, e em seguida, tomou um avião para Bogotá, na companhia de seu marido, uma assessora próxima, e um promotor público. Uma vez na Colômbia, começaram uma série de declarações a respeito da presença dela no país, da boca de outros porta-vozes. O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, afirmou que Ortega estava "sob a proteção do governo colombiano" e que concederia asilo para ela no país, caso fosse solicitado.
Depois disso, começaram a circular informações em meios de comunicação colombianos, como a Blu Radio, sobre negociações de Ortega com diplomatas dos EUA, e sua partida iminente para esse pais. Essa informação foi corroborada pelo ex-presidente colombiano Andrés Pastrana, e tratada como uma realidade até que o departamento de migração colombiana anunciou nesta terça, em um comunicado, que Ortega tinha saído do país, mas para o Brasil. O embaixador do Brasil na Colômbia, Julio Bitelli, confirmou a informação, mas disse que "não há nada na agenda" sobre um possível asilo a Ortega no Brasil.
Em seu caminho para o Brasil, a procuradora-geral fez escala na Cidade do Panamá. Ao ser abordada por uma jornalista da TVN Notícias, meio de comunicação panamenho, confirmou timidamente seu destino, e acenou com a cabeça quando questionada sobre o tema da sua reunião com os procuradores-gerais de Mercosul - o caso de Odebrecht. “Eu vou falar de tudo o que for necessário”, disse ela, antes de partir a bordo de um carrinho de transporte interno do Aeroporto Internacional de Tocumen.
O procurador-geral da Colômbia, Fernando Carrillo, que se reuniu com Ortega antes de sua partida para o Brasil, disse que a procuradora-geral –destituída e substituída na Venezuela, mas ainda reconhecida como tal no hemisfério- está na posse de “evidências, documentos e faturas” no caso da Odebrecht na Venezuela.
Interpol
O presidente Maduro reagiu pedindo que a Interpol capturasse Ortega Díaz e o marido, com código vermelho. "O governo golpista do Brasil acolhe estes dois fugitivos da justiça, a procuradora-geral e seu marido, o chefe do cartel da Procuradoria”, disse ele como parte de suas declarações à imprensa estrangeira na terça. Maduro ainda chama Ortega Díaz de “procuradora” e lamenta ter sido vítima de uma traição “tão grande de sua parte”. “Você anda com a oligarquia colombiana, Luisa Marvelia (o nome do meio de Ortega)? Você anda com os golpistas brasileiros, Luisa Marvelia?”, ele perguntou na frente das câmeras e correspondentes.
Ele também acusou ao governo de Juan Manuel Santos de ser “o centro da conspiração contra a Venezuela”, e de encobrir os crimes de que seu governo acusa à Ortega e seu marido.
Detalhes das investigações, o impacto das denúncias, e a força das evidências que Ortega diz ter no caso Odebrecht estão ainda a ser conhecidos. Também está por se definir o destino final do exílio e as intenções imediatas da procuradora. O que está claro é que para a Venezuela, pelo momento, ela não pode voltar.