O ditador chinês, Xi Jinping, e o presidente russo, Vladimir Putin, em foto de 2016| Foto: EFE/Ernesto Arias
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Um novo projeto de Vladimir Putin, em parceria com a ditadura chinesa, busca ligar pelo fundo do mar a região ucraniana anexada da Crimeia à Rússia, na tentativa de estabelecer uma nova rota de transporte que seria protegida dos ataques de Kiev. As informações foram divulgadas pelo governo da Ucrânia, a partir da interceptação de conversas entre executivos russos e chineses com ligações governamentais.

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O plano surge em meio à crescente preocupação de Moscou sobre a segurança da ponte de 17 quilômetros sobre o Estreito de Kerch, estratégica na logística do Exército russo, mas que já foi alvo de bombardeios da Ucrânia em duas ocasiões.

A nova parceria entre os países mostra a disposição de Putin em manter o controle da península, a qual anexou ilegalmente em 2014, no entanto, coloca Pequim em uma situação vulnerável, visto que o país nunca reconheceu oficialmente a anexação do território ucraniano e uma cooperação nesse sentido traria riscos políticos e financeiros para o governo de Xi Jinping, que pode sofrer sanções dos EUA em suas empresas estatais.

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Segundo o jornal americano The Washington Post, que recebeu com exclusividade e-mails trocados entre os envolvidos, uma das maiores empresas de construção da China deu "sinal verde" para participar do empreendimento.

A autenticidade das mensagens foi confirmada por meio de outras informações obtidas separadamente pelo jornal, incluindo ficheiros de registo empresarial que mostram a criação de um consórcio sino-russo envolvendo indivíduos mencionados nas mensagens sobre a Crimeia.

O plano de construção do túnel também ocorre num momento em que a Rússia avança com outros projetos de infraestrutura em territórios ocupados desde 2014 ou "confiscados" desde a invasão do ano passado. Imagens recentes de satélite mostraram novas linhas ferroviárias ao longo da costa do Mar de Azov, parte de uma rota terrestre ocupada que também liga a Rússia à península.

A últimas construções envolvem empresas associadas a Arkady Rotenberg, um oligarca russo aliado de Putin, que já foi patrocinado diversas vezes pelo Kremlin, como na promoção dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, em Sóchi. O empresário, de 71 anos, adquiriu extensas propriedades na Crimeia desde a anexação ilegal e sua empreiteira foi a principal no planejamento e levantamento da ponte Kerch.

Segundo o Post, a troca de mensagens também revela os esforços da China em manter o projeto em sigilo. Um dos e-mails cita que a Chinesa Railway Construction Corporation (CRCC), empresa estatal chinesa, participará do empreendimento apenas sob “estrita disposição de total confidencialidade” e com a substituição do nome do negócio nos contratos.

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A comunicação interceptada ainda menciona um banco chinês, que estaria disposto a converter seus fundos em dólares para rublos para transferência à Crimeia, a fim de financiar o consórcio.

A CRCC já possui acordos importantes com a Rússia por meio de projetos que incluem uma extensão do sistema de metrô de Moscou, concluído em 2021.

A especialista em Rússia e sanções ocidentais no Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, Maria Shagina, explicou ao The Post que "um túnel ligando a Crimeia à Moscou seria uma extensão física da narrativa que Putin defende".

Especialistas consultados pelo jornal americano afirmaram que a construção de um túnel sob o Estreito de Kerch é "tecnicamente viável" e a China é um dos países com mais experiência e equipamentos necessários para a empreitada. Apesar disso, não seria uma tarefa fácil, rápida e barata de se construir.

Outro obstáculo ao projeto, devido ao risco de ataques ucranianos, seria a utilização de tecnologia tradicional de perfuração de túneis, em vez de métodos de construção mais atualizados que envolvem navios gigantes de dragagem na superfície da água.

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Um engenheiro com vasta experiência em elaboração de projetos de túneis afirmou que essa seria uma "operação de alto risco” para Putin e Xi Jinping.

"A construção de um túnel através do Estreito de Kerch custaria pelo menos US$ 5 bilhões [R$ 24,6 bilhões] e exigiria que as tropas russas protegessem não apenas o estreito, mas também os locais de produção de que necessita em terra", explicou o especialista.

A Crimeia continua no topo de interesse do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que prometeu repetidamente recuperar a península. Os ataques mais recentes de Kiev tiveram como objetivo cortar as principais rotas logísticas utilizadas para abastecer as tropas russas a partir da região ocupada.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]