| Foto: Ilustração: Robson Vilalba

Trabalho

Meta é entender como o microbioma afeta a saúde e a doença

Quando os cientistas do Projeto Microbioma Humano finalmente conseguiram seus objetos de estudo – 242 homens e mulheres considerados livres de doença no nariz, pele, boca, trato gastrointestinal e vagina, no caso das mulheres – os investigadores coletaram amostras de fezes e saliva e fizeram raspagens nos dentes, gengivas, narinas, palato, amídalas e garganta dos objetos de estudo.

Eles retiraram amostras das dobras do cotovelo e da orelha. Ao todo, as mulheres foram amostradas em 18 lugares, incluindo 3 na vagina, e os homens em 15. Os investigadores fizeram uma reamostragem nos objetos de estudo 3 vezes ao longo da pesquisa para ver se a composição bacterial de seus corpos se manteve estável, gerando 11.174 amostras.

Para catalogar as bactérias do corpo, os pesquisadores procuraram por DNA com um gene específico, 16S rRNA, que define as bactérias e cuja leve variação de sequência pode revelar espécies bacteriais. Eles sequenciaram o DNA bacterial para descobrir genes individuais no microbioma.

Dilúvio

Os cientistas terminaram a pesquisa com um dilúvio de dados, excessivamente volumosos para se estudar com um só computador, o que criou, segundo Huttenhower, "um enorme desafio computacional".

O próximo passo, disse Huttenhower, é compreender melhor como o microbioma afeta a saúde e a doença e tentar melhorar a saúde através da alteração deliberada do microbioma. Mas, disse Relman, "ainda estamos muito no começo".

É uma tarefa, como ele mesmo disse, "gigantesca".

CARREGANDO :)

"Seres humanos são como um recife de coral, uma reunião de formas de vida convivendo juntas."

David Relman, microbiólogo de Stanford.

"Podemos muito bem servir só de embalagem [para micróbios]."

Barnett Kramer, diretor da divisão de prevenção ao câncer no Instituto Nacional do Câncer.

Por anos as bactérias era so­­mente a causa de infecções e doenças. Eram coisas­­ para serem evitadas. Ago­­ra, pes­­quisadores lançaram um­­ olhar detalhado a um ou­­tro­­ conjunto de bactérias­­ que­­ podem ter papéis ainda­­ maio­­res na saúde e na doen­­ça –­­ os 100 trilhões de bacté­­rias benéficas que vivem den­­tro­­ ou na superfície do corpo humano.

Publicidade

Sabe-se pouco sobre elas, embora sejam essenciais à vida humana, necessárias para se digerir a comida, sintetizar certas vitaminas, para formar uma barreira contra as bactérias causadoras de doenças. Mas como é a aparência delas em pessoas saudáveis? E quanto elas variam de pessoa a pessoa?

Num esforço federal que durou cinco anos, no Projeto do Microbioma Humano, que já foi comparado ao Projeto do Genoma Humano, 200 cientistas de 80 instituições sequenciaram o material genético de bactérias tiradas de quase 250 pessoas saudáveis.

Eles descobriram mais variedades do que jamais imaginado – cerca de mil variedades bacteriais em cada indivíduo. E as coleções de micróbios eram diferentes de uma pessoa para outra. Cientistas encontraram também assinaturas genéticas de bactérias causadoras de doença no microbioma de todas elas. Ao invés de fazerem com que essas pessoas adoecessem, esses micróbios causadores de doença simplesmente conviviam em paz com seus vizinhos.

Espera-se que os resultados, publicados no periódico Nature e em três edições da PLoS, mudem os horizontes de pesquisa.

Até recentemente, se pensava que as bactérias no microbioma eram apenas "habitantes passivas". Elas mal eram estudadas, segundo ex­­wplicam os microbiólogos, porque era difícil de saber qualquer coisa sobre elas. Elas estão tão adaptadas a viver em superfícies e cavidades do corpo, cercadas por outras bactérias, que era impossível para muitas delas serem criadas em colônias de laboratório. Mesmo se sobrevivessem em laboratório, elas com frequência se comportavam de maneira diferente nesse ambiente estranho. Foi somente com o advento de métodos de sequenciamento relativamente baratos e rápidos que os investigadores foram capazes de se perguntar quais eram as bactérias presentes.

Publicidade

Exames das sequências de DNA serviram como o equivalente ao antigo microscópio, segundo Curtis Huttenhower, da Faculdade de Saúde Pública de Harvard, investigador do projeto do microbioma. O trabalho tam­­bém ajuda a estabelecer­­ critérios para definir o que é um microbioma saudável, que pode ajudar em estudos sobre como os antibióticos perturbam o microbioma de uma pessoa e quanto tempo demora para ele se recuperar.