Durante mais de três décadas a partir do final dos anos 1960, crianças moradoras de orfanatos em Berlim foram abrigadas em casas de pedófilos, com a concordância de autoridades de Berlim Ocidental. A prática fazia parte de um "experimento" do psicólogo Helmut Kentler, que argumentava que homens pedófilos seriam pais adotivos especialmente amorosos, noticiou a Deutsche Welle nesta segunda-feira (15).
Um estudo coordenado pela Universidade de Hildesheim, Alemanha, divulgado nesta segunda-feira, concluiu que mais pessoas estavam envolvidas no chamado experimento do que se conhecia anteriormente. O estudo foi encomendado pelo Senado de Berlim para investigar o trabalho de Kentler, morto em 2008, no serviço de assistência à infância e juventude de Berlim a partir do final dos anos 1960.
Duas das vítimas já haviam relatado há alguns anos o abuso e a violência sexual que sofreram quando crianças e adolescentes por seus pais adotivos, e uma terceira vítima agora contou a sua histórias aos pesquisadores.
Os autores do estudo conduziram entrevistas, desde março de 2019, com as vítimas e outras testemunhas do caso e analisaram documentos para estabelecer quais instituições foram responsáveis pela destinação de crianças a pedófilos.
A equipe concluiu que havia uma rede que atravessava instituições acadêmicas e o departamento responsável pelo bem-estar de crianças e adolescentes no Senado de Berlim, em que posições favoráveis à pedofilia foram "aceitas, apoiadas e defendidas", segundo um comunicado do departamento do Senado para Educação, Juventude e Família divulgado nesta segunda-feira.
O relatório menciona ainda conexões dessa rede com a Escola Odenwald, no estado de Hesse, que foi fechada em 2015 depois que um grande escândalo de abuso sexual de menores veio à tona.
Ainda não está claro qual o número real de vítimas que foram entregues a pais adotivos pedófilos, que recebiam regularmente ajuda de custo. Muitos desses homens eram acadêmicos de destaque, segundo os pesquisadores.
As pessoas desse grupo "usaram a sua influência" para colocar crianças de lares adotivos, abrigos ou internatos na Alemanha Ocidental sob os cuidados de pedófilos. Alguns dos membros dessa rede tinham grande reputação profissional, como o próprio Kentler, que tinha uma posição de liderança no centro de Berlim para pesquisa educacional desde meados dos anos 1970 e foi professor de pedagogia social na Universidade Técnica de Hannover até 1996.
Kentler nunca foi processado legalmente. Quando as suas vítimas quebraram o silêncio, alguns anos atrás, o prazo de prescrição para suas ações já havia expirado, segundo noticiou a RTL. O psicólogo e sexólogo acreditava que "o contato sexual entre crianças e adultos não é prejudicial".
Ninguém questionou a transferência de crianças para pais adotivos, incluindo o que já haviam sido condenados por abuso sexual infantil, segundo a RTL, porque aparentemente tudo estava bem: as crianças estavam fora das ruas ou de instituições e os pedófilos tinham parado de cometer crimes - pelo menos fora de casa.
Um primeiro relatório sobre o "Experimento de Kentler" foi publicado em 2016 pela Universidade de Göttingen. Na época, os pesquisadores declararam que houve pouco interesse do Senado de Berlim em colaborar para revelar a verdade. Agora, senadores pressionam por mais investigações em nível nacional e por uma solução à compensação das vítimas.
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