Israelenses e palestinos negociaram por mais de 20 anos, sem sucesso, uma solução de dois estados para dois povos em territórios separados, mas uma nova iniciativa apresentada nesta semana pode superar esse paradigma.
Sob o título de "Dois Estados em um Espaço", o projeto, promovido por intelectuais, diplomatas e políticos, foi elaborado por equipes técnicas de ambas as partes com o objetivo de promover uma reviravolta em incontáveis iniciativas de paz e promover uma solução ao histórico conflito no Oriente Médio.
Em linhas gerais, o projeto analisa como dois Estados nacionais e soberanos podem conviver um junto ao outro e garantir ao mesmo tempo a liberdade de movimentos de seus cidadãos entre eles, levando em conta que importantes santuários para os judeus e povoações históricas palestinas estão no outro lado.
Essa fórmula pode dar resposta aos assuntos mais espinhosos submetidos durante anos a infrutíferas negociações, tais como refugiados, assentamentos e Jerusalém.
"Os palestinos sentem que perderam Haifa e Yafo, e os judeus Jerusalém e Hebron. Devemos encontrar soluções criativas", explica Awni Al Mashni, coordenador palestino do projeto.
O israelense Meron Rapoport concordou com ele, ao lamentar que "o paradigma dos dois Estados se transformou em um pesadelo, devemos pensar diferente".
Ele argumentam que, em parte, as conversas até o momento não levaram em conta os vínculos emocionais de israelenses e palestinos com o território compreendido entre o Mediterrâneo e o Rio Jordão.
Uma das equipes analisou seriamente pela primeira vez a aplicação do direito ao retorno dos refugiados palestinos para povoações de origem em Israel ou que medidas exigiria o retorno ao território israelense.
O plano continua defendendo uma solução de dois Estados, mas em vez de estarem separados, tenta seguir um modelo semelhante ao da União Europeia. Os dois integrariam de maneira escalonada uma união política e econômica, com instituições sociais e um Tribunal de Direitos Humanos.
Lideranças creem que ideia é viável
O ex-chefe de Planejamento da chancelaria israelense, Eram Etzion, acredita que, por causa da desesperança e por serem os setores mais radicais de cada lado que defendem a visão de Estado único, a proposta poderia encontrar espaço.
O ex-ministro de Interior palestino, Nasser Youssef, lamentou que desde o assassinato do primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin, em novembro de 1995, "os palestinos não tenham visto vontade do lado israelense", e destacou que dois terços de sua população apoiam uma solução de dois estados.
O projeto, a priori idealista, representa, segundo os autores, uma oportunidade para derrubar barreiras entre judeus e árabes.
Barreiras difíceis de derrubar na atual conjuntura, visto que recentemente um centro educativo árabe-judeu foi atacado em Jerusalém e em suas salas de aula apareceram pichadas com frases contra a coexistência.
Território
Na divisão dos estados, Israel teria 78% do território e a Palestina 22%, bom base nas fronteiras anteriores à Guerra dos Seis Dias, de 1967.
Demografia
Atualmente, 20% dos cidadãos de Israel são palestinos,10% da Cisjordânia ocupada é de judeus e em Jerusalém dois terços são judeus e um terço, palestino.