Uma nova perícia, realizada por um grupo de 24 técnicos da Gendarmeria (Guarda Nacional) argentina, chegou à conclusão de que o promotor Alberto Nisman, morto em 18 de janeiro de 2015, teria sido assassinado por duas pessoas.
O relatório contradiz com o dos 13 peritos que analisaram a cena logo após a morte, liderados pela promotora Viviana Fein, então responsável pelas investigações, e que concluía que, por não haver provas suficientes de um assassinato, a hipótese mais provável era a de um suicídio.
Na época, a Suprema Corte referendou este laudo. Porém, nesta semana, ao tomar conhecimento do novo estudo da Gendarmeria, declarou que jamais tinha considerado o anterior definitivo.
Novela nacional
O crime abalou o país e teve imensa repercussão internacional. Afinal, Nisman se preparava para, no dia seguinte à sua morte, apresentar ao Congresso argentino um relatório que acusava a então presidente Cristina Kirchner de encobrir as investigações do atentado à Amia (Associação Mutual Israelense Argentina), em julho de 1994.
Desde então, o enigma do caso Nisman virou uma novela nacional, na qual a cada tanto surgem novas teorias, perícias independentes que dão resultados contraditórios e novos personagens.
Agora, o novo laudo dos peritos da Gendarmeria será entregue nesta sexta-feira (22) ao juiz federal Julián Ercolini, que seguirá a nova linha de investigação sugerida pela perícia.
No documento de 200 páginas, os peritos explicam que encontraram provas de que Nisman primeiro teria levado um soco na cara e outro na altura do fígado.
Depois, teria sido forçado a consumir uma dose alta de cetamina conclusão de um estudo laboratorial que não foi feito da primeira vez e que portanto estava sob o efeito da droga quando atiraram em sua cabeça.
A análise das manchas de sangue levaram os peritos a concluir que havia duas pessoas no apartamento, e que ambas levaram o corpo até o banheiro, onde foi encontrado. Os técnicos também afirmam que houve tentativas de limpar a cena do suposto crime.
Divisão política
O assunto é tema de divisão política desde que ocorreu. Do lado dos kirchneristas, apoia-se a tese de que foi um suicídio ocorrido sob pressão, pois o juiz tinha contas e negócios ilícitos fora do país e estaria sendo ameaçado de que isso se tornasse público. De fato, depois encontrou-se uma conta não declarada em seu nome, no exterior.
Do lado dos apoiadores da então oposição, hoje governo, sustenta-se a tese do assassinato. Encomendado ou por Cristina ou por algum de seus apoiadores sem o conhecimento da presidente, mas cuja intenção seria impedir que a denúncia fosse feita.
Como a cena do incidente foi logo tomada por muitas pessoas, incluindo o então secretário de Segurança do Estado, Sergio Berni, muitas evidências se perderam ou foram alteradas, o que pode impedir que, algum dia, se chegue a uma conclusão definitiva sobre o que ocorreu.