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Justiça

Promotor pede prisão de Kadafi

Kadafi acena para o que parece ser um grupo de jornalistas depois de se reunir com uma delegação de cinco líderes árabes dispostos a mediar a crise na Líbia, no último dia 10 de abril | Louafi Larbi/Reuters
Kadafi acena para o que parece ser um grupo de jornalistas depois de se reunir com uma delegação de cinco líderes árabes dispostos a mediar a crise na Líbia, no último dia 10 de abril (Foto: Louafi Larbi/Reuters)

O promotor-chefe do Tribunal Penal Internacional (TPI), Luís Mo­­reno-Ocampo, pediu ontem que juízes emitam mandados de prisão contra o governante da Líbia, Muamar Kadafi, seu filho Saif al-Islam e também contra Abdullah al-Senussi, um membro do governo encarregado dos serviços de inteligência. "A evidência mostra que Muamar Kadafi ordenou ataques pessoalmente contra civis líbios", afirmou Moreno-Ocam­­po. O governo de Kadafi nega as acusações.

Moreno-Ocampo qualificou Saif como "o executor" da violência. Ele afirmou que há na liderança líbia uma cultura de homicídios políticos, roubo e estupro. Segundo o procurador, Kadafi e seu filho tiveram encontros para planejar a vingança e fizeram uma lista de inimigos.

Caso seja indiciado pelos ma­­gistrados, Kadafi estará sujeito a um mandado internacional de pri­­são, que deve ser seguido por todos os membros do TPI. O tribunal não tem, porém, uma força policial própria.

O pedido de inquérito foi a primeira ação no tribunal, sediado na Holanda, ligada aos levantes no mundo árabe e abriu uma ou­­tra frente potencial contra o regime de Kadafi, embora o líder autocrático mantenha-se firme contra os ataques aéreos realizados pela Organização do Tratado do Atlân­­tico Norte e o crescente apoio in­­ternacional aos rebeldes.

Os mandados internacionais de prisão podem isolar Kadafi e seu círculo interno e complicar as opções para uma solução negociada, mas podem também endurecer a decisão de Kadafi para permanecer e lutar.

Como o Conselho de Segurança da Organização das Nações Uni­­das (ONU) ordenou a investigação do TPI, Estados integrantes da ONU serão obrigados a detê-lo se Kadafi se aventurar em seus territórios.

Segundo Moreno-Ocampo, há evidências de que as forças de Ka­­dafi atacaram civis em suas casas, dispararam contra manifestantes com munição de verdade, atacaram funerais e enviaram francoatiradores para matar pessoas que estavam saindo de mesquitas.

Agora, os juízes devem avaliar as provas antes de decidir se vão confirmar as acusações e emitir mandados de prisão internacionais. "O caso está agora nas mãos deles", disse Moreno-Ocampo du­­rante uma coletiva de imprensa em Haia, Holanda.

Mas um caso anterior no qual o TPI atendeu a um pedido da ONU não resultou na prisão do procurado. Embora o presidente do Su­­dão, Omar al-Bashir, tenha sido acusado por crimes que in­­cluem genocídio na região de Dar­­fur, pelo menos três países permitiram sua visita sem que ele tivesse sido detido.

O porta-voz do governo líbio, Moussa Ibrahim, disse mais tarde a jornalistas em Trípoli que o regime nega as acusações e não vai prestar atenção a qualquer mandado de prisão. Ibrahim acusou Moreno-Ocampo de acreditar em relatos confusos da mídia de ma­­neira que "chegou a conclusões incoerentes". Ele negou que o go­­verno tenha alguma vez ordenado a morte de civis inocentes ou tenha contratado mercenários.

Ataques

Os rebeldes aplaudiram a ação do promotor do TPI. Guma el-Gamaty, porta-voz do Conselho Nacio­­nal Interino, sediado na Grã-Bre­­tanha – o braço político das forças rebeldes líbias – chamou a medida de "passo muito importante para pressionar Kadafi e seu filho" para que deixem o poder ou sejam detidos. Integrantes da Otan também saudaram a decisão de Moreno-Ocampo de pedir os mandados de prisão. As forças re­­beldes parecem ter ampliado sua influência sobre Misurata, o único reduto opositor no leste da Lí­­bia. A maior parte das forças in­­sur­­gentes está concentrada no les­­te.

Abdel Salam, que é combatente rebelde, disse ontem que as forças opositoras conseguiram avançar na cidade após os bombardeios da Otan ocorridos nos últimos dias, mas não foi possível con­­fir­­mar a informação de forma independente. Em Benghazi, a cidade onde a administração rebelde está sediada, o porta-voz militar coronel Ahmed Bani, disse que os re­­beldes derrotaram duas brigadas das forças de Kadafi que estavam instaladas na cidade de Zlitan, localizada a 140 quilômetros ao sul de Trípoli.

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