Milão - Promotores italianos pediram ontem que o primeiro-ministro Silvio Berlusconi seja indiciado pelas acusações de ter pago para manter relações sexuais com uma adolescente de 17 anos, a marroquina Kharima El-Marough, apelidada de "Ruby", e que também aproveitou sua influência para encobrir o fato.
A promotoria abriu o pedido em Milão. Um juiz deverá decidir se aceita a petição dos promotores para abrir o processo contra o premier de 74 anos ou se recusa o pedido. Na Itália é ilegal pagar para fazer sexo com uma mulher menor de 18 anos. O pedido também pede o indiciamento por abuso de poder, uma vez que em maio de 2010 Berlusconi pressionou a polícia de Milão a libertar "Ruby", detida na época sob a acusação de ter furtado 3 mil (R$ 6,8 mil).
Berlusconi negou ter cometido um ato ilícito e disse que as acusações têm motivação política. Após a abertura do pedido, Berlusconi disse que a acusação é "repugnante" e tem como objetivo prejudicar seu governo. Ele conversou com a imprensa em Roma e afirmou que as acusações são infundadas e que os promotores violaram a lei, ao atuar fora de suas jurisdições.
Dezenas de simpatizantes do primeiro-ministro se reuniram para protestar contra a decisão da promotoria, alguns agitando bandeiras italianas durante uma manifestação em frente do tribunal de Milão.
A promotoria pode pedir apenas um julgamento para as duas acusações ou optar por processos separados. Os procuradores alegam que Berlusconi pagou para fazer sexo com Ruby, que atualmente tem 18 anos, e que usou sua influência para libertá-la da prisão, depois que ela foi detida sob suspeita de furto, supostamente por temer que sua relação com a jovem se tornasse pública.
Ruby foi colocada em liberdade e entregue a uma assistente de Berlusconi, Nicole Minetti, ex-stripper e dançarina de poste, que também é investigada por fazer parte de uma rede de prostituição.
Tanto Berlusconi quanto Ruby negaram que tenham tido relações sexuais. Ele disse que pediu à polícia para libertar a jovem, mas que foi um ato de bondade. Ruby, ao contrário de Berlusconi e de Nicole Minetti, não é investigada.
Os partidários do primeiro-ministro alegam que ele tomou a medida para evitar um incidente diplomático, já que Berlusconi acreditava que a jovem era sobrinha do presidente egípcio Hosni Mubarak.
Se Berlusconi for indiciado, será o quarto processo criminal que o bilionário premier italiano enfrentará. Ele já enfrenta julgamentos onde é acusado de corrupção e evasão fiscal todas acusações que negou repetidas vezes. O premier também enfrentou outros processos judiciais no passado e chegou a ser preso.
Um quarto julgamento poderá desestabilizar ainda mais a frágil coalizão de governo de centro-direita de Berlusconi. A Liga do Norte, partido de direita que virou o principal apoio de Berlusconi na Câmara dos Deputados, ameaçou pedir que as eleições sejam antecipadas se o governo não aprovar a lei do federalismo fiscal, que aumenta o poder de arrecadação das prefeituras e dos governos regionais. Berlusconi assinou um decreto para isso, mas ele foi rechaçado na semana passada pelo chefe de Estado, o presidente Giorgio Napolitano.