A deputada republicana Marjorie Taylor Greene sugeriu que os Estados Unidos sejam divididos em dois países| Foto: EFE/EPA/JIM LO SCALZO
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O Juramento de Fidelidade à Bandeira dos Estados Unidos fala que o país é uma nação “indivisível”. Entretanto, muita gente não concorda com essa afirmação.

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Ao longo da história dos Estados Unidos, surgiram várias propostas de separação de regiões do país, como o movimento Yes California, que visa a independência do mais rico estado americano, e certamente o caso mais extremo foi a secessão de estados do sul para a criação dos Estados Confederados da América, o que motivou a guerra civil entre 1861 e 1865.

O conflito matou mais de 600 mil pessoas e provocou divisões que persistem até hoje, como as discussões dos últimos anos sobre a retirada ou não de estátuas de líderes confederados de logradouros públicos no sul dos Estados Unidos.

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Com a atual polarização política no país, novas propostas de secessão estão surgindo. Em entrevista ao site de notícias City and State New York no final de novembro, a democrata Liz Krueger, senadora estadual nova-iorquina, propôs que seu estado, mais Connecticut, Massachusetts e Vermont poderiam se tornar parte do Canadá para, segundo ela, “fugir” da administração do republicano Donald Trump, que está de volta à Casa Branca.

“Pensei em sugerir ao Canadá que, em vez de todos nós tentarmos atravessar ilegalmente a fronteira à noite sem que eles percebam, o que é bem difícil porque somos muitos, eles poderiam concordar em nos deixar ser a província do sudeste, uma nova província do Canadá”, disse Krueger.

“E eu ofereci, embora ainda não tenha obtido um acordo com os outros estados, para que Nova York, Connecticut, Massachusetts e Vermont se juntassem para serem uma grande nova província, a província do sudeste do Canadá”, disse Krueger.

Republicanos também estão com ideias de separar regiões dos Estados Unidos. Uma reportagem da revista Newsweek de julho apontou que, além dos democratas New Hampshire e Califórnia, há movimentos para criação de países independentes no Alasca, Texas, Louisiana, e Flórida, todos red states (estados onde os republicanos sempre ganham a eleição presidencial).

No ano passado, a deputada republicana Marjorie Taylor Greene, uma das mais ferrenhas defensoras de Trump na Câmara americana, sugeriu que os red states formassem um país separado dos blue states (onde os democratas sempre vencem a eleição para presidente).

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“Precisamos de um divórcio nacional. Precisamos nos separar em red states e blue states e reduzir o tamanho do governo federal”, disse Greene no X.

“Todo mundo com quem converso fala isso. Das questões doentias e repugnantes da cultura woke enfiadas nossa goela abaixo até as políticas traidoras America Last [Estados Unidos em último lugar] dos democratas, estamos cansados disso”, afirmou.

É claro que nenhuma dessas propostas têm por ora a mesma possibilidade de ser concretizada como a secessão que motivou a guerra civil do século XIX, mas o fato dessas ideias serem colocadas em discussão ilustra como os Estados Unidos estão divididos, o que a própria eleição presidencial mostrou.

Embora tenha ganhado com folga no Colégio Eleitoral, Trump venceu a democrata Kamala Harris por uma diferença de apenas 1,48 ponto percentual no voto popular.

Foi a sexta menor diferença nas 55 eleições presidenciais americanas em que o vencedor ganhou tanto na votação popular quanto no Colégio Eleitoral. Além disso, o republicano não atingiu mais de 50% dos votos.

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Propostas não têm “aderência” em termos práticos, diz especialista

Em entrevista à Gazeta do Povo, Igor Lucena, economista, especialista em relações internacionais e CEO da Amero Consulting, ponderou que as propostas de secessão nos Estados Unidos são muito mais “narrativas”, nas quais políticos tentam projetar a insatisfação de parte da sua base eleitoral, do que ideias com “aderência” da população em termos práticos e reais.

“Mesmo que você tivesse um esgarçamento muito grande da questão política, que eu acho que ainda não tem, até porque o próprio presidente Trump está muito mais moderado do que se imaginava, o ponto econômico torna inviável qualquer tipo de situação de secessão”, afirmou o analista.

“Esses estados como Nova York, onde esses parlamentares colocam essas situações de secessão, não fazem a ‘conta’ de que só são estados ricos e prósperos por causa de todos os Estados Unidos. É como se a gente dissesse aqui que São Paulo poderia se tornar um país independente, porque é o mais rico e mais desenvolvido. Mas São Paulo é rico porque vende para todo o Brasil”, argumentou Lucena.

O especialista afirmou que a polarização política que essas ideias representam traduz uma crise do sistema presidencialista em todo o mundo.

“Eu acho que o que os Estados Unidos e o Brasil estão presenciando hoje, e em parte também a França, é uma crise do presidencialismo como nós conhecemos, que dá um poder muito grande ao presidente e de uma certa maneira diminui os poderes dos parlamentos. Enquanto no parlamentarismo você tem uma união de pensamentos, os representantes [parlamentares] e o primeiro-ministro precisam encontrar sempre um consenso”, disse.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]