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O partido de direita nacionalista Reagrupamento Nacional (RN), de Marine Le Pen e Jordan Bardella, foi o vencedor do primeiro turno das eleições legislativas antecipadas na França e as projeções indicam que pela primeira vez será a legenda com mais cadeiras na Assembleia Nacional, após o segundo turno, que será realizado no próximo domingo (7).
Entretanto, essa ascensão vem preocupando os mercados. Já em junho, quando o RN foi o partido mais votado nas eleições da França para o Parlamento Europeu, o que levou o presidente Emmanuel Macron a convocar eleições legislativas antecipadas, a bolsa de Paris sofreu queda, o euro se desvalorizou frente ao dólar e as avaliações negativas dos títulos da dívida francesa aumentaram.
O RN não é responsável sozinho por esse receio, já que a coalizão de esquerda Nova Frente Popular, com seu programa de aumento dos gastos públicos, foi a segunda colocada no primeiro turno das eleições legislativas, no domingo (30).
Entretanto, com propostas populistas e intervencionistas, a plataforma econômica do RN, que tem mais chances de chegar ao Executivo (no cargo de premiê ou de presidente, caso o bloqueio político se confirme e Macron renuncie), também causa preocupação.
“A possibilidade da direita nacionalista do Reagrupamento Nacional (RN) chegar ao governo, de uma vitória da aliança de esquerda Nova Frente Popular (NFP) ou o cenário mais provável de um parlamento bloqueado e cheio de populistas fiscais abalou investidores, líderes empresariais e os parceiros da França na UE”, escreveram no Financial Times os analistas Ben Hall e Ian Johnston.
Entre as propostas do RN, estão estimular reajustes salariais por meio da isenção dos valores desses aumentos nas contribuições patronais, até os limites de 10% e três salários mínimos; substituir o imposto sobre patrimônio imobiliário criado por Macron por uma taxa sobre patrimônio total (o que inclui também depósitos em contas correntes, poupanças e investimentos, além de bens); e basear os preços da energia na França unicamente naquela produzida dentro do país, o que, defende o partido, reduziria a conta de luz dos domicílios franceses em 30% a 40%.
Além disso, o RN quer reverter a reforma previdenciária de 2023, promulgada por Macron no ano passado após semanas de grandes protestos e que aumentou a idade mínima de aposentadoria na França de 62 para 64 anos. A direita nacionalista planeja reverter a idade de corte para 62 ou até levá-la para 60 anos.
Em 2022, quando Le Pen perdeu a eleição presidencial novamente para Macron (havia sido derrotada em 2017), o think tank francês Institut Montaigne estimou que as políticas econômicas defendidas por ela aumentariam o déficit do país em 101 bilhões de euros por ano.
Eulalia Rubio, pesquisadora sênior do Instituto Jacques Delors, disse em entrevista ao site Politico que, além das pautas populistas do RN, a falta de experiência administrativa do partido também assusta os mercados, que temem “incompetência ou a falta de vontade de aprovar reformas impopulares” em um eventual governo da direita nacionalista.
“O que gera uma incerteza nos mercados são as possíveis e abruptas mudanças fiscais e monetárias. São propostas que criam uma certa incerteza tanto para investidores quanto para empresas, que sempre vão defender e preferir um ambiente econômico estável, previsível”, disse João Alfredo Nyegray, professor do curso de negócios internacionais e coordenador do Observatório de Negócios Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), em entrevista à Gazeta do Povo.
“O partido de Le Pen vem defendendo a renegociação dos tratados europeus, porque, segundo eles, é necessário que a França recupere o controle sobre políticas econômicas e monetárias. Recentemente, até suavizaram a postura sobre a saída da União Europeia, mas ainda há uma ênfase bastante significativa nessas falas sobre recuperar a soberania nacional, questões econômicas, embora não sejam 100% claros sobre o que querem dizer com isso”, afirmou.
Nyegray destaca que a intenção do RN de alterar a reforma previdenciária talvez seja a grande preocupação.
“Quando Le Pen fala de reverter a reforma, que para ser aprovada já foi uma luta intensa, ela acompanha isso com uma fala de aumentar gasto público, financiado, segundo ela, em parte, pela redução dos desperdícios e de fraudes em benefícios sociais. Mas ela não provou fraudes numa escala que permitisse ao país suprir um déficit previdenciário”, disse.
Nyegray acredita, entretanto, que num eventual Executivo do RN, a legenda poderá se adaptar e deixar as pautas intervencionistas e populistas para trás.
“Se Le Pen chegar a presidente, quando ela se sentar na cadeira máxima do Palácio do Eliseu, ela possivelmente vai ter um choque de realidade sobre o que efetivamente pode ser feito e o que não pode ser feito, tanto em termos de viabilidade econômica quanto das próprias organizações econômicas da zona do euro”, projetou.