Em uma votação apertada, a secretária-geral da CDU (União Cristã-Democrata), Annegret Kramp-Karrenbauer, foi escolhida nesta sexta-feira (7) pelos delegados reunidos em Hamburgo como a sucessora de Angela Merkel na chefia do partido mais tradicional da centro-direita da Alemanha.
Conhecida como AKK e também chamada de "Merkel bis" ou "mini Merkel", Kramp-Karrenbauer, 56, representa a continuidade da linha moderada conservadora adotada por Merkel em 18 anos na liderança do partido e em 13 anos como chanceler.
Assim, Merkel ganha certo alívio para tentar terminar este quarto mandato em meio a derrotas eleitorais regionais recentes e à baixa aprovação do governo.
O principal concorrente de AKK era o advogado do mundo corporativo e milionário Friedrich Merz, 63, que propunha uma guinada à direita da CDU e do país, em uma tentativa de reconquistar eleitores perdidos para o partido de ultradireita AfD (Alternativa para a Alemanha).
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Em um segundo turno de votação, AKK foi eleita com 517 votos de 999 delegados, enquanto Merz obteve 482 votos. O primeiro turno já havia derrubado o terceiro candidato, Jens Spahn, que é ministro da Saúde do governo Merkel.
Kramp-Karrenbauer provavelmente vai liderar a CDU nas próximas eleições federais alemãs, em 2021, podendo vir a se tornar a próxima mulher mais poderosa da Europa. Merkel já afirmou que sairá de cena.
"Li muito sobre o que e quem eu sou: 'mini', uma cópia, simplesmente mais do mesmo. Caros delegados, me apresento diante de vocês como sou e como a vida me fez e tenho orgulho disso", afirmou Kramp-Karrenbauer em discurso antes da votação.
Ela apelou à sua experiência como chefe de governo do estado de Sarre: "Aprendi o que é liderar e sobretudo aprendi que liderança é mais ser forte por dentro do que ser forte por fora".
Durante a campanha, Merz mobilizou boa parte dos correligionários ansiosos por um estilo de liderança mais assertivo, ao defender cortes de impostos e um maior combate à extrema direita, que cresceu na esteira da política de portas abertas à imigração adotada pelo governo Merkel.
No fim, o partido escolheu algo mais conhecido.
"Ela é uma aposta segura: uma candidata centrista que não ameaça fazer surpresas desagradáveis", afirmou Josef Joffe, publisher do semanário Die Zeit.
"Merz era um pouco livre-mercado demais, pró-EUA e pró-defesa. Também, seu discurso na convenção pareceu engessado, em comparação ao apelo passional de AKK. Mesmo assim, ele a forçou a um segundo turno, o que sugere que AKK vai presidir um partido dividido."
Despedida
Durante a convenção do partido nesta sexta-feira, em Hamburgo, a chanceler alemã Angela Merkel fez uma defesa de seus 18 anos como chefe da CDU.
Ovacionada de pé por quase dez minutos pelos delegados, muitos emocionados e segurando um cartaz com os dizeres "obrigado, chefe", Merkel, 64, afirmou que a CDU venceu quatro eleições nacionais sob sua liderança ao se manter firme em seus princípios.
"Foi um grande prazer para mim, uma honra", disse. "Em tempos difíceis, não devemos nos esquecer dos nossos valores democráticos e cristãos."
"A CDU em 2018 não deve olhar para trás mas olhar para frente, com novas pessoas, mas com os mesmos valores."
Fazendo uma referência ao crescimento do populismo ao redor do mundo e ao que chamou de colapso dos valores ocidentais, Merkel afirmou que a ordem que ela sempre defendeu está sob risco.
"Seja a rejeição do multilateralismo, o retorno do nacionalismo, a redução da cooperação internacional ou a ameaça a guerras comerciais, a desestabilização das sociedades com as fake news ou o futuro da União Europeia, nós, democratas-cristãos, devemos mostrar o que temos diante de todos esses desafios", disse.
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Merkel surpreendeu o país em outubro ao anunciar que não buscaria a reeleição como líder da CDU na convenção anual do partido, após uma série de derrotas eleitorais regionais que tiveram como pano de fundo a política imigratória de seu governo.
"Sinto reconhecimento por ter sido presidente [do partido] durante 18 anos", afirmou Merkel. "Foi um período muito longo, no qual a CDU passou por altos e baixos", acrescentou a chanceler.
Dentro do partido, diz-se que Merkel e AKK têm uma "boa química".
Kramp-Karrenbauer se distanciou da chanceler em temas de política social e externa ao votar a favor de cotas para mulheres em direções de empresas e ao defender uma posição mais dura em relação à Rússia e à questão imigratória.
Casada, católica e mãe de três filhos, tem posição conservadora em relação ao casamento gay. Merkel é protestante, casada pela segunda vez e sem filhos.
Mas em questões europeias e da própria CDU ela adotou um estilo similar à da chanceler, dando preferência a uma abordagem prática e não ideológica. "Não tenho uma receita especial", afirmou sobre como seria sua liderança.
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