Damas de Branco na rua: familiares de presos políticos prometem passeatas diárias para denunciar repressão| Foto: Adalberto Roque/AFP

Justiça tardia

Sequestrador cubano se entrega após 42 anos

Um sexagenário cubano acusado do sequestro de um avião em 1968 e que, no ano passado, viajou voluntariamente aos Estados Unidos para se entregar ao FBI, declarou-se culpado ontem, em Nova Iorque. Luis Peña Soltren, de 67 anos, que voltou a Nova Iorque em outubro passado, admitiu as acusações de pirataria aérea e sequestro.

"Luis Armando Peña Soltren reconheceu ante a corte federal de Manhattan ter participado do sequestro violento da aeronave que fazia o voo 281 da PanAm há mais de 41 anos", explicou o promotor do distrito sul de Nova Iorque, Preet Bharara. Segundo o magistrado Alvin Hellerstein, a sentença será anunciada no próximo 29 de junho.

No dia 24 de novembro de 1968, Peña Soltren e dois cúmplices, José Rios e Miguel Castro, pegaram o voo 281 da PanAm con destino a Porto Rico armados com pistolas e punhais. Depois de ameaçar o piloto, obrigaram-no a pousar em Havana, segundo a promotoria. Ríos, que tem 68 anos, foi capturado em 1975 e condenado a 15 anos de prisão e Castro foi detido no ano seguinte, tendo sido condenado a 12 anos.

O governo cubano estava a par do desejo de Peña Soltren de entregar-se voluntariamente à polícia americana e autorizou sua partida de Cuba.

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Manifestação de partidários do governo contra dissidentes, em Havana: regime diz que protesto foi espontâneo
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Centenas de partidários do go­­verno cubano cercaram on­­tem um pequeno grupo de dissidentes que marchava em passeata pelas ruas de Havana, marcando o sétimo aniversário da prisão dos seus parentes. Os partidários do governo insultaram os manifestantes, em sua maioria mu­­lheres e mães de dissidentes políticos presos, mas permitiram que a passeata seguisse em frente.

Enquanto as Damas de Bran­­co caminhavam e gritavam "li­­berdade" foram cercadas pelos partidários do governo, que gritavam "vermes", ou "esta rua per­­tence a Fidel" gritavam os partidários do governo. Na quarta-feira, uma manifestação se­­melhante das Damas de Branco foi interrompida por policiais femininas uniformizadas, que levaram embora algumas manifestantes num ônibus do governo. No entanto, elas puderam percorrer as principais e mais famosas ruas de Centro Havana.

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O governo alega que seus partidários se reuniram de maneira espontânea, irritados com os dissidentes. Outros acreditam que o governo organizou os "atos de repúdio" e que muitos dos que neles tomaram parte são integrantes das forças de segurança de Estado.

As chamadas Damas de Bran­­co, muitas das quais mães e esposas de alguns dos 75 dissidentes presos na repressão de 18 de março de 2003, se comprometeram a protestar todos os dias nesta semana, para chamar a atenção internacional ao problema dos presos políticos em Cuba, muitos dos quais foram sentenciados a décadas de prisão.

"Nós estamos marchando em protesto porque já passamos sete anos em sofrimento, desde a prisão de 75 oposicionistas pacíficos", disse Tania Montoya Váz­­quez, cujo marido foi sentenciado a cinco anos de prisão em 2008 por atividade dissidente. "Nós marchamos a favor da li­­berdade, a favor da mudança e a favor dos direitos humanos, que deveriam ser respeitados e não violados".

"Foi Fidel que em 1959 nos deu os verdadeiros direitos hu­­manos. É claro que não estou com essas agentes apátridas", co­­mentou Evelio Provenza, um ci­­dadão que foi comprar alimentos e encontrou a passeata na rua.

Foco

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O histórico de direitos humanos em Cuba entrou em foco desde a morte do dissidente Orlando Zapata Tamoyo, que faleceu após uma greve de fome no mês passado. A morte de Zapata Ta­­moyo levou a várias críticas in­­ternacionais.

O governo de Cuba emitiu uma série de respostas nervosas às críticas, dizendo que não diminuirá a pressão. Um outro dissidente, Guillermo Fariñas, iniciou greve de fome e está sendo alimentado artificialmente.

Na quarta-feira, a televisão estatal cubana exibiu um programa de duas horas denunciando a imprensa estrangeira por ela ter participado, supostamente, de uma campanha coordenada contra Cuba, com os grupos espanhóis de mídia assinalados como os mais duros críticos.