Os principais sindicatos da Grécia deram nesta quarta-feira demonstração de força com uma greve geral, apoiada por 80% de empregados dos setores público e privado, em protesto contra as medidas do governo para enfrentar a crise.
Envolvendo mais de um milhão de pessoas, a greve paralisou o país durante a maior parte do dia, marcado por grandes protestos e alguns incidentes violentos entre manifestantes e a polícia.
Com capuzes, cerca de 150 radicais quebraram os vidros de algumas lojas no centro de Atenas e a tropa de choque da polícia respondeu lançando gás lacrimogêneo para dispersá-los.
Todas as repartições públicas, hospitais, universidades e grande parte do transporte urbano não funcionaram na Grécia, enquanto todos os serviços de trens e aviões foram suspensos até as 6 horas de quinta-feira. Nos hospitais públicos, os médicos só atenderam casos de máxima urgência, enquanto os canais de televisão e as rádios não transmitiram noticiários. No setor turístico não houve greve, assim como em alguns supermercados e lojas.
Os sindicatos se mostraram satisfeitos com a elevada adesão à greve e mais protestos contra as medidas do governo para as próximas semanas.
O objetivo é que o governo "compreenda que não pode suprimir os direitos trabalhistas", disse Stathis Anestis, porta-voz do sindicato GSEE, que reúne trabalhadores do setor privado.
Duas grandes manifestações tomaram o centro de Atenas, com especial força dos trabalhadores comunistas, que não dão trégua ao governo do primeiro-ministro, George Papandreu.
"Não à austeridade e ao desemprego", dizia um cartaz da União de Empregados Civis. O índice de desemprego no país ronda 10% e, como admitiu o governo, pode chegar a 20%.
Em outras faixas, era possível ainda ler "Não pagaremos pela crise dos ricos" e "O povo e suas necessidades são mais importantes que os mercados".
Giorgos Peros, porta-voz do sindicato comunista Pame, disse que o povo quer seguir lutando por seus direitos e não haverá coesão com o governo sobre as políticas antipopulares.
A polícia grega calcula que a participação nas manifestações tenha rondado 20 mil pessoas, embora os sindicatos estimem pelo menos o dobro.
A greve se dirige contra as estritas medidas de austeridade impostas à Grécia pela União Europeia (UE) pelo crescente endividamento do país. Papandreu, eleito em outubro, quer cortar os salários dos funcionários públicos, diminuir a despesa social em 10% e aumentar alguns impostos para reduzir o déficit público em quatro pontos porcentuais ainda este ano.
Diante da greve de hoje, o primeiro-ministro expressou compreensão com o mal-estar popular, embora tenha reiterado que o Estado grego simplesmente "não tem mais dinheiro".
O déficit fiscal da Grécia ultrapassou 12,7% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado, quatro vezes o limite máximo definido pelas regras orçamentárias da União Europeia e Atenas deve refinanciar este ano cerca de US$ 53 bilhões de euros do total.
Ainda nesta quarta-feira, a Standard & Poor's alertou que poderá rebaixar a classificação da dívida soberana da Grécia em uma ou duas notas em março, o que poderia colocar o rating de longo prazo do país no nível junk.
As agências de risco estão cada vez mais pessimistas sobre o país, que tem um histórico de má gestão da dívida. A Fitch também rebaixou o rating da Grécia para BBB+ em dezembro e manteve a perspectiva negativa. No início de fevereiro, a Moodys alertou que sua avaliação da Grécia - reduzida em uma nota em dezembro - poderia ser rebaixada novamente.
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