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Os protestos da esquerda mexicana contra o resultado da eleição presidencial de julho levaram o caos à capital do país pelo segundo dia na terça-feira, despertando temores de uma crise longa e cada vez mais complicada.

As manifestações convocadas pelo candidato Andrés Manuel López Obrador contra a suposta fraude eleitoral transformaram o sofisticado distrito financeiro da Cidade do México num enorme acampamento.

Observadores europeus dizem não haver evidência de fraude na apertada vitória do conservador Felipe Calderón, mas o longo histórico de irregularidades eleitorais no país deixa muitos esquerdistas com suspeitas. López Obrador diz ter provas de manipulação na apuração dos votos e exige uma recontagem, à qual o grupo de Calderón se opõe.

A Justiça Eleitoral tem até 31 de agosto para se decidir sobre o pedido e mais uma semana depois disso para declarar oficialmente o vencedor. Isso significa que o impasse político pode durar mais um mês.

O peso mexicano caiu 0,85% frente ao dólar na terça-feira. A Bolsa teve baixa de 0,6%.

Os manifestantes estão acampados ao pé dos arranha-céus da avenida da Reforma, a principal da capital, provocando enormes congestionamentos no centro da cidade, uma das maiores do mundo.

Atrasada para o trabalho, a oficial de Justiça Carolina Gutierrez, 22, corria pela avenida a partir de uma estação do metrô dos arredores. Balançava a cabeça, desprezando os manifestantes. Três trens lotados haviam passado pela plataforma antes que ela conseguisse embarcar.

- É o caos para todo mundo que mora aqui - disse ela. - Não é justo. Há formas legais de resolver isso.

A uma quadra da avenida, muitos motoristas punham a cabeça para fora do carro e gritavam com os policiais que tentavam desviar o congestionado trânsito.

- Isso é um desastre - bradava um mexicano.

"Homem do Povo"

Após dormir numa barraca no Zócalo, a principal praça da cidade, em meio a milhares de simpatizantes de áreas rurais, López Obrador despertou antes do amanhecer e percorreu a avenida da Reforma, para delírio dos manifestantes acampados.

Sua chegada fazia homens e mulheres, muitas usando mantas típicas, abandonarem a fila da comida em busca de um abraço ou uma foto do candidato.

- Ele é um homem do povo - disse Constantino Matias, um padeiro que vive na periferia da capital. - Ele é a nossa esperança.

Mas López Obrador é alvo de críticas de adversários e até de alguns tradicionais aliados por paralisar a capital. Não se arrepende, porém. Em discurso na terça-feira, rejeitou as acusações de que estaria insuflando as tensões sociais.

- Só agora [os que reclamam] estão percebendo que vivemos num país muito desigual, onde uns poucos têm tudo e a maioria carece do essencial - afirmou.

Com suas bandeiras, os manifestantes bloqueiam o acesso a um prédio do Banco Central.

Os seguidores de López Obrador não demonstram intenção de abandonar a avenida da Reforma ou o Zócalo, que agora parece um campo de refugiados, com cozinhas improvisadas e um pequeno ambulatório.

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