Terça-feira foi mais um dia de debates e reuniões em Cancún. A novidade, porém, foi uma manifestação da Via Campesina mexicana, que acabou por atrapalhar o deslocamento dos participantes.
Acompanhe os principais fatos e relatos do dia:
Denilson Cardoso (foto 1)Biólogo e membro da Coordenação do Observatório do Clima, representando a Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem (SPVS)
Dia confuso
Ontem foi um dia muito confuso para nós. Eu não consegui chegar na conferência, pois aconteceu uma manifestação da Via Campesina e o acesso aos prédios onde são realizados os eventos estavam bloqueados. O Cancún Messe, que é o lugar por onde a gente entra para os debates, fica ao lado de uma rodovia. Os hotéis e prédios da conferência convergem todos para esta rodovia. A manifestação da Via Campesina, formada por indígenas e agricultores sem propriedade rural, é contra a COP-16. Eles alegam que a conferência não está sendo produtiva, mas os campesinos também protestaram contra o governo mexicano. Os manifestantes clamaram por seus direitos à terra, ou seja, de ter um pedaço de terra e poder acessar seus recursos. Há a possibilidade que outra manifestação ocorra nesta quarta-feira, mas ainda não havia confirmações a respeito ontem à noite.
Guilherme Zaniolo Karam (foto 2)Biólogo e analista de projetos da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza
Alternativa ecológica
Trago para vocês uma curiosidade bem funcional encontrada aqui no evento: um sistema de locação de bicicletas para deslocamentos dentro do Moon Palace, o local das negociações oficiais.
As bicicletas podem ser retiradas gratuitamente e entregues em qualquer um dos vários pontos existentes dentro do complexo. Perguntamos se era possível utilizá-las para deslocamentos maiores, mas fomos informados de que é apenas para uso restrito no Moon Palace que na verdade, é um grande hotel.
Sandro Jorge Coneglian (foto 3)Engenheiro Florestal e gerente técnico da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem (SPVS)
Interesses diversos em Cancún
Esta é a minha primeira COP do clima, portanto, à exceção do fato de acompanhar as discussões que ocorrem no Brasil, é tudo absolutamente novo. Algumas impressões podem não passar de simples especulação, mas fazem todo o sentido para quem está por aqui. A COP é antes de tudo um ambiente político, onde o clima, discutido principalmente sob a ótica técnica, é a bola da vez. No entanto, aqui afloram de tudo: consultores com crachá "party" (ou negociadores das Partes países signatários do protocolo de Kyoto), e bois de piranha, que pegam carona no clima pra emplacar projetos questionáveis sob a ótica climática e ambiental. Corretíssimas as palavras do ex-ministro do Meio Ambiente do governo Lula Carlos Minc durante um dos eventos. O que ele disse comprova as caronas que as discussões do clima concedem a projetos furados sob óticas diversas.
André Rocha Ferretti (foto 4)Engenheiro Florestal e coordenador de Conservação da Biodiversidade da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza
Projeto brasileiro
Acho importante falar sobre os debates do início da semana, que contaram com maciça participação brasileira. Destaco um desses eventos: a apresentação na segunda-feira do Projeto Biomas, pela senadora Kátia Abreu e pelo pesquisador Gustavo Ribas Cúrcio, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O Projeto Biomas busca viabilizar soluções que compatibilizem os sistemas de produção e de preservação em diferentes paisagens brasileiras, fortalecendo o uso do componente arbóreo na propriedade rural. Na saída do evento, o que se ouvia comentar era que o grande objetivo do Projeto Biomas ao invés de proteger os biomas brasileiros (Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa) é reduzir ainda mais as áreas ainda bem conservadas e protegidas por lei federal.