A Catalunha voltou a ocupar um lugar central na política espanhola. Centenas de manifestantes saíram às ruas de Barcelona nesta sexta-feira (21) para protestar pela independência da região, bloqueando cerca de 20 estradas e entrando em confronto com a polícia em alguns pontos. Isso ocorre no mesmo momento em que o governo do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, se reúne com líderes regionais na capital da Catalunha.
Segundo a AFP, os manifestantes, que entoavam lemas como “seremos ingovernáveis”, consideram a reunião do gabinete ministerial em Barcelona uma provocação do primeiro-ministro espanhol, que foi eleito com a ajuda dos partidos separatistas prometendo apaziguar a crise catalã.
"Qualquer imagem potencial de confrontos entre os manifestantes e a polícia complicaria ainda mais as perspectivas já difíceis para o governo do primeiro-ministro Pedro Sanchez", disse Antonio Barroso, analista de risco político da Teneo Intelligence, em Londres.
A questão catalã deve dominar a política espanhola no ano que vem, enquanto Sánchez se prepara para uma provável eleição antecipada. O premiê lidera um frágil governo minoritário que está sofrendo para aprovar leis e apostando seu futuro político nas tentativas de reconstruir as pontes com os separatistas da região. Seus dois principais rivais estão assumindo uma posição muito mais dura, buscando capitalizar a raiva que ainda está presente no resto do país por causa da tentativa fracassada da Catalunha de se separar da Espanha.
Seis meses após os partidos defensores da independência catalã terem ajudado Sánchez a tomar o poder em um voto de desconfiança, eles se recusaram a se tornar parceiros confiáveis dispostos a apoiar seu amplo programa de governo. Ao mesmo tempo, o Ciudadanos e o Partido do Povo (PP), seus rivais de direita, acusam-no de recrutar rebeldes que tentaram dividir a Espanha. A política de diálogo de Sánchez com os separatistas também foi um fator no surgimento do Vox, um partido com uma agenda conservadora mais radical que conquistou um assento em eleições regionais na Andaluzia no início deste mês.
No entanto, Sanchez pode apontar para algum progresso em sua política de diálogo com a Catalunha.
Na quinta-feira, os partidos separatistas ERC e PDeCat apoiaram inesperadamente suas metas de déficit fiscal em uma votação no parlamento espanhol. Isso foi um impulso para o governo, mesmo que o Senado, controlado pelo PP, possa abandonar a estratégia orçamentária já na próxima semana.
Em outro desenvolvimento positivo do ponto de vista de Sánchez, quatro líderes separatistas que estão sendo julgados por sua participação no processo de independência da Catalunha do ano passado abandonaram sua greve de fome na quinta-feira. Sánchez e o presidente catalão Joaquim Torra também se reuniram em Barcelona na noite de quinta-feira, quando reconheceram suas diferenças, mas concordaram em manter abertos os canais de comunicação em busca de "uma proposta política que conte com amplo apoio à sociedade catalã".
Enquanto isso, os ministros reunidos em Barcelona devem aprovar medidas destinadas a cortejar a opinião pública catalã. O El País informou que aprovaria renomear o aeroporto El Prat de Barcelona em homenagem a Josep Tarradellas, líder catalão que retornou do exílio para se tornar o primeiro líder do governo regional após a morte do ditador Francisco Franco.
Drama ressurge em 2019
Mesmo assim, Sánchez não pode contar que o degelo nas relações durem até o ano novo: a Espanha se prepara para um julgamento de nove líderes separatistas catalães que devem começar no próximo mês. Isso aumentará as tensões que chegaram ao limite no ano passado, quando o ex-presidente catalão Carles Puigdemont fez uma tentativa fracassada de declarar ilegalmente a independência da Espanha.
O drama legal ameaça se desenrolar no mesmo momento em Sánchez dependerá do parlamento para aprovar o seu orçamento de 2019 - e portanto precisará do apoio de partidos nacionalistas da Catalunha e do País Basco. As apostas são altas para Sánchez, que admite que não vê seu mandato chegando até 2020 se não conseguir que seu orçamento seja aprovado.
O primeiro-ministro pode encontrar espaço para manobra ao explorar as diferenças entre os dois principais grupos pró-independência, formados pelos seguidores de Puigdemont e de seu ex-deputado Oriol Junqueras, que está na prisão aguardando julgamento. Torra, o atual presidente catalão, é um lealista convicto de Puigdemont, escolhido pelo ex-presidente fugitivo para substituí-lo.
As diferenças entre os dois grupos resultam da disposição do ERC de Junqueras em abrir um diálogo com Madri, enquanto o PDeCat de Puigdemont adotou uma postura mais radical. Os partidários de Junqueras também se cansaram da posição de Puigdemont, dado que seu líder está na prisão enquanto ele decide permanecer livre, fora da Espanha.
Ambos os líderes ainda estão ativamente coordenando seus partidos. Dado que ele não tem acesso à internet e ao uso limitado de linhas telefônicas, Junqueras se comunica com seus seguidores através de reuniões presenciais e um fluxo constante de cartas manuscritas, enviadas da prisão por seus colaboradores mais próximos.
Para Puigdemont, escondido em um apartamento na Bélgica, a comunicação é mais fácil, contando principalmente com o Twitter e sistemas de mensagens instantâneas, como o Whatsapp e o Signal. Ele também fez uma série de conferências online e entrevistas.
Se os protestos em Barcelona acabarem mal, eles têm potencial de prejudicar a frágil aliança de Sánchez com os separatistas ou provocar uma reação dos eleitores irritados com sua disposição de buscar o diálogo. Conflitos violentos "aumentariam ainda mais o custo político para secessionistas moderados apoiarem o orçamento em Madri", disse Barroso.