O leste e o oeste de Caracas, capital da Venezuela, parecem pertencer a duas cidades diferentes nos últimos dias. Duas realidades paralelas que se olham a distância com diferente atitude diante dos protestos, mas com uma preocupação comum pela situação do país.
O oeste caraquenho é um dos maiores redutos do chavismo na Venezuela, como mostram as sucessivas vitórias eleitorais e o aparente clima de tranquilidade que reina nas ruas indiferentes à tensão política.
Os ônibus que passam pelo Parque del Oeste, em Catia, para levar os caraquenhos à praia, contrastam com os ataques e barricadas que transformaram em uma corrida de obstáculos o dia a dia dos motoristas no leste da cidade. O leste está tomado pelos protestos contra o governo do presidente Nicolás Maduro, e é cenário de manifestações diárias. Ninguém sabe que loja vai abrir ou fechar, nem a que horas.
Mais de três semanas de protestos já se passaram desde que uma manifestação pacífica em 12 de fevereiro acabou em violência e com o assassinato de três jovens.
Diferenças
Josefina Braca tem fotos de todos os tamanhos com o ex-presidente Hugo Chávez na parede do Comando Paroquial José Félix Rivas (no oeste), o primeiro que o líder bolivariano criou em Caracas e situado a poucos metros da Praça La Pastora, um dos bairros mais tradicionais da cidade.
Ela garante que os protestos do leste da capital não serão sentidos, e que ali não há nem haverá barricadas como as do leste. "Estão se enforcando com as próprias cordas", disse.
A poucos quarteirões de distância, Luis Azavache, dono de uma pequena mercearia, considera que a situação não é tão tranquila. "Estamos vivendo um estado de crise absoluta porque não há compatibilidade entre a MUD (a aliança opositora Mesa da Unidade) e o governo", comentou o comerciante, que se declarou "votante", "trabalhador" e "pró-governo".
Escombros
Os protestos fazem com que, há várias semanas, as ruas dos municípios Chacao, Baruta e Sucre, e algumas de El Libertador, apareçam diariamente cobertas de escombros e sacolas de lixo arrebentadas ou pegando fogo. Eles deixam um rastro de resíduos e terminam convertendo-se em barricadas e barreiras para o trânsito.