Em meio a manifestações em massa pedindo a saída do presidente islamita Mohamed Mursi, o Exército do Egito deu ontem um ultimato de 48 horas para que o governo solucione a crise, sob pena de uma intervenção militar.
O anúncio, lido na tevê estatal pelo chefe militar egípcio, general Abdel Fattah al-Sisi, diz que os protestos refletem oposição "sem precedentes" contra o governo.
O general disse que os militares vão anunciar "um novo caminho para o futuro" e reforçar medidas "para ajudar todas as facções, incluindo os jovens". Não está claro qual seria a ação tomada pelo Exército, nem se exigem a saída de Mursi do poder.
A suspeita é de que se planeja um golpe contra ele, primeiro presidente eleito democraticamente da história do Egito. Seu governo acaba de completar um ano. Mais tarde, os militares lançaram comunicado aplacando os temores de golpe.
Após o ultimato, Mursi se encontrou com o chefe das Forças Armadas, Abdel Fattah al-Sisi, e com o primeiro-ministro do país, Hisham Kandil. O resultado da reunião, no entanto, não foi divulgado.
A chegada ao poder de Mursi é um dos marcos da Primavera Árabe.
Segundo um assessor do presidente citado pelo jornal britânico Guardian, Mursi encarou o ultimato como indicativo de um golpe.
Já a Irmandade Muçulmana partido ligado ao presidente disse que "estuda" a situação.
Soldados
Os manifestantes que há dias lotam as praças, por sua vez, receberam com loas o ultimato militar, visto como um sinal claro de apoio. Diversos soldados foram aclamados nas ruas.
Comunicado
Militares negam "golpe" e dizem que o objetivo é pressionar políticos
Folhapress
As Forças Armadas do Egito divulgaram comunicado ontem em que negam que uma declaração feita mais cedo pelo seu comandante aponte para um golpe militar e disse que o objetivo era pressionar os políticos para chegarem a um consenso.
Negando ter ambições políticas, os militares disseram que estavam respondendo ao "pulso das ruas egípcias" ao emitir um ultimato para que os líderes políticos se unam após gigantescas manifestações ontem contra o presidente Mursi.
O principal grupo de oposição política a Mursi e seus aliados da Irmandade Muçulmana, a Frente de Salvação Nacional, pegaram embalo no ultimato das Forças Armadas e recusaram o diálogo com Mursi.
"Não conversaremos com Mursi porque não o consideramos mais [um presidente] legítimo", afirmou a frente, composta por políticos de esquerda, por meio de seu porta-voz, Khaled Dawoud.
Dawoud afirmou, ainda, que a frente havia concordado em apontar o prêmio Nobel Mohamed ElBaradei, um de seus líderes, para negociar com os militares.
No domingo, a Frente de Salvação Nacional havia pedido a continuidade dos protestos até que Mursi fosse derrubado. Os manifestantes exigem a saída de Mursi e ameaçam fazer uma campanha de desobediência civil caso isso não aconteça.