Dezenas de milhares de pessoas se reuniram na capital romena, Bucareste, na sexta-feira e sábado, para protestar contra a corrupção do partido governista de esquerda, o Social Democrata (PSD), e de seu líder Kiviu Dragnea. Eles também exigiam eleições antecipadas.
Na sexta, cerca de cem mil pessoas participaram das manifestações e centenas ficaram feridas quando a polícia reprimiu violentamente a tentativa de um pequeno grupo de manifestantes de entrar no prédio do governo. Segundo a agência de notícias Reuters, pelo menos 400 pessoas procuraram atendimento médico.
A polícia da Romênia usou gás lacrimogêneo e canhões de água para dispersar os manifestantes. Jornalistas relataram que também foram atacados pela polícia. Um correspondente da rede alemã Deutsche Welle contou que apanhou de policiais.
A escala da violência das forças policiais motivou novo protesto, no sábado, reunindo cerca de 40 mil pessoas. De acordo com a agência de notícias estatal da Romênia, não houve violência durante o segundo protesto. Além da capital, manifestações foram registradas em outras cidades.
Quem está protestando?
Os protestos foram organizados em grande parte por expatriados romenos que trabalham fora do país. A mídia local informou que alguns destes emigrantes voltaram para casa para participar das manifestações deste fim de semana.
Segundo dados das Nações Unidas, pelo menos 3,4 milhões de romenos saíram do país entre 2007, ano em que o país passou a integrar a União Europeia, e 2015. Segundo a Deutsche Welle (DW), o dinheiro que eles enviam para seus familiares na Romênia desempenha um papel fundamental para manter a economia do país.
No entanto, o PSD mostrou-se irritado com a rejeição dos emigrantes, já que eles têm realizado protestos anti-PSD na Europa Ocidental. Recentemente, os militantes de esquerda do PSD descreveram os expatriados como "ladrões, mendigos e prostitutas” que trabalham para desestabilizar a Romênia. Conforme contou a DW, os ataques provocaram uma reação irada entre a comunidade de expatriados.
Por que estão protestando?
Esta mobilização decorre das frustrações de longa data de alguns romenos com os social-democratas no poder (PSD). A Romênia é um dos países mais corruptos da União Europeia, segundo a Transparência Internacional. No ranking de percepção da corrupção de 2017, o país aparece em 59º lugar de 180 países avaliados (o Brasil ocupa o 96º).
A agência de combate à corrupção do país tem atuado em vários casos de corrupção e, em 2016, processou 713 funcionários públicos, segundo a agência de notícias Associated Press. Entre eles estavam vários políticos, incluindo um senador e 28 prefeitos.
Mas em julho, Laura Codruta Kovesi, a principal promotora de combate à corrupção, foi demitida. Kovesi teve apoio do presidente, Klaus Iohannis, mas o ministro da justiça, Tudorel Toader, acusou-a de ultrapassar os limites de suas delegações. Iohannis foi forçado a demiti-la depois de uma decisão judicial. O PSD também teria ameaçado discutir a suspensão do presidente se ele a deixasse no cargo por mais tempo.
Recentemente o PSD também avançou com uma revisão judicial que alguns analistas internacionais consideram uma ameaça ao Estado de Direito na Romênia. Em junho, uma dezena de países, incluindo os Estados Unidos, advertiu contra a alteração do código penal sobre abuso de poder, a qual "enfraqueceria o Estado de Direito ou a capacidade da Romênia de combater o crime ou a corrupção". Essas mudanças passaram pelo parlamento, mas agora estão sendo contestadas no tribunal constitucional do país.
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No início de 2017, manifestantes romenos foram às ruas em resposta a um decreto que afrouxou as leis de corrupção. Acreditava-se ser o maior protesto em décadas. Manifestações contra e a favor do governo continuaram desde então.
Quais foram as reações?
O presidente da Romênia, Klaus Iohannis, do partido Liberal Nacional, criticou a pesada resposta policial, chamando-a de "uma intervenção brutal, fortemente desproporcional às ações da maioria das pessoas".
"O ministério do interior deve explicar com urgência o modo como lidou com os acontecimentos desta noite", escreveu o líder centrista em um comunicado postado no Facebook. Ele também disse que pediu ao procurador-geral que investigue a legalidade da intervenção da polícia antimotim.
Depois que Iohannis criticou a resposta policial à manifestação de sexta-feira, a primeira-ministra Viorica Dancila, do PSD, disse que o presidente estava "incitando a população contra as autoridades", informou a AFP.
No Twitter, o chanceler austríaco Sebastian Kurz condenou "os violentos confrontos em Bucareste, onde numerosos manifestantes e jornalistas ficaram feridos".
"Esperamos explicações completas", escreveu.
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