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Manifestantes entram em confronto com a polícia de choque, em Quito, Equador
Manifestantes entram em confronto com a polícia de choque, em Quito, Equador| Foto: Rodrigo BUENDIA/AFP

Os protestos contra as medidas econômicas do governo equatoriano se agravaram nesta segunda-feira, fazendo com que o presidente Lenín Moreno transferisse a sede do governo de Quito para Guayaquil, capital financeira e maior cidade do país. O anúncio do mandatário foi feito em cadeia nacional de televisão na noite de segunda, onde ele apareceu ao lado do vice-presidente, Otto Sonnenholzner; do Ministro da Defesa, Oswaldo Jarrín, e de altos comandantes militares.

"O que tem acontecido estes dias no Equador não é uma manifestação de descontentamento, um protesto diante de uma decisão de governo; os saques, o vandalismo e a violência demonstram que há uma intenção política organizada para desestabilizar a ordem constituída, a ordem democrática", disse.

No transcorrer do vídeo, ele foi ainda mais incisivo: os protestos contra o seu governo são uma tentativa de um golpe de estado, orquestrado pelo ditador venezuelano Nicolás Maduro, o ex-presidente do Equador Rafael Correa e outros três políticos equatorianos.

Quito, a capital do Equador, está, desde a semana passada, mergulhada em protestos contra medidas econômicas austeras adotadas pela administração de Moreno. Até domingo, 477 pessoas haviam sido detidas por vandalismo, de acordo com o governo.

Tentativa de invasão da Assembleia

FOTO: RODRIGO BUENDIA/AFP
FOTO: RODRIGO BUENDIA/AFP| AFP

Na noite desta segunda-feira (7), os confrontos da polícia com os manifestantes se intensificaram em torno do palácio presidencial e houve uma tentativa de invadir a sede da Assembleia Legislativa, segundo denúncia do próprio Congresso.

De acordo com o jornal El Comercio, centenas de indígenas e camponeses de todo o país estão marchando a Quito para protestar contra o presidente. Na manhã desta terça-feira, algumas ruas da capital foram bloqueadas pelos manifestantes.

Mas, mesmo com toda a pressão popular, Moreno voltou a dizer que não voltará atrás na sua decisão de retirar os subsídios do petróleo. "É uma decisão histórica", disse no vídeo transmitido na noite de segunda-feira.

Estopim da crise

Indígenas se reúnem para tomar café enquanto se organizam para protestar contra Moreno nesta terça-feira (8) | Foto: RODRIGO BUENDIA / AFP
Indígenas se reúnem para tomar café enquanto se organizam para protestar contra Moreno nesta terça-feira (8) | Foto: RODRIGO BUENDIA / AFP| AFP

Sob o governo de Moreno, o Equador pediu auxílio financeiro internacional de cerca de US$ 10 bilhões - que vieram do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco de Desenvolvimento Interamericano, e do Banco Andino. Em contrapartida, o governo se comprometeu em reduzir seu déficit fiscal de US$ 3,6 bilhões para US$ 1 bilhão.

Com o objetivo de cumprir essa meta, Moreno decidiu acabar com os subsídios aos preços de combustíveis vigentes há 40 anos, com potencial de gerar uma economia de US$ 1,3 bilhão de dólares por ano. Ele também defende que o fim dos subsídios combaterá o contrabando de combustível e incentivará a economia.

A medida, porém, resultou em um aumento de 123% no preço dos combustíveis. O galão do diesel passou de US$ 1,03 a US$ 2,30, enquanto o da gasolina aumentou de US$ 1,85 para US$ 2,40 - a economia do Equador é dolarizada.

A decisão, anunciada na semana passada, causou grande revolta popular. Milhares de pessoas em todo o país foram para as ruas protestar. Também houve uma greve do setor de transportes, encerrada na sexta-feira. Em contrapartida, Moreno decretou estado de exceção em todo o país, um ato que o permitiu autorizar as forças armadas para conter as manifestações.

O decreto, válido por 60 dias, também dá ao presidente o poder de suspender ou limitar o exercício de direitos - como o de inviolabilidade de residência, de correspondência, liberdade de trânsito, liberdade de associação e reunião e liberdade de informação - mas o governo não usou destas prerrogativas até o momento.

FOTO: RODRIGO BUENDIA / AFP
FOTO: RODRIGO BUENDIA / AFP| AFP

Suspensão parcial da produção de petróleo

Enquanto manifestantes tentavam invadir a Assembleia Legislativa na noite de segunda-feira, na região da Amazônia empresas se viram obrigadas a suspender as atividades em três campos de petróleo "devido à tomada das instalações por grupos de pessoas que não fazem parte da operação", segundo o Ministério de Energia do Equador. O contratempo afetou 12% da produção total de petróleo do país (de 531.000 barris por dia).

Em um comunicado, a pasta disse que "rejeita todos os tipos de ações que ameaçam a operação normal da infraestrutura de hidrocarbonetos em todo o país, consideradas estratégicas, pois geram recursos diários para o benefício do país".

Na semana passada, o Equador havia anunciado que estava se retirando da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) sob a justificativa de se livrar das amarras impostas pelo teto de produção acordado entre os países-membros do grupo.

Aulas suspensas

Mais um resultado da crise equatoriana: o governo cancelou as aulas em instituições públicas e particulares de todo o país nesta terça-feira (8). "A decisão é bem-vinda, a fim de proteger a integridade de alunos e professores", afirmou o Ministério da Educação em comunicado, divulgado pelo jornal El Comercio. A suspensão pode se estender por mais dias, já que a ministra da pasta, Montserrat Creamer, disse que a situação está sendo avaliada a cada dia e que se evitará que os estudantes corram riscos.

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