Mais de mil pessoas foram detidas neste sábado (23) durante protestos pela Rússia contra a prisão do líder opositor Alexei Navalny, em uma demonstração do aumento da repressão contra críticos do presidente Vladimir Putin.
Os protestos, que estão sendo descritos como a maior manifestação anti-governo na Rússia desde 2019, ocorreram em quase cem cidades do país. Em Moscou, estima-se que mais de 40 mil pessoas tenham ido às ruas, segundo noticiou a Reuters. O Ministério do Interior da Rússia disse que cerca de 4 mil pessoas protestaram na capital.
Há relatos de confrontos violentos entre policiais e manifestantes em Moscou. O grupo OVD-Info, que monitora ações policias na Rússia, afirmou que mais de 1.614 manifestantes foram detidos neste sábado no país, incluindo a esposa de Navalny, Yulia Navalnaya, que foi presa em uma praça central de Moscou após falar aos manifestantes.
A Anistia Internacional condenou as autoridades russas pela repressão e prisões em massa. "Autoridades russas desferem represálias implacáveis contra manifestantes pacíficos; o que vimos hoje apenas confirmou isso. A polícia ignorou o seu dever de garantir o direito de reunião pacífica e, em vez disso, espancou indiscriminadamente e prendeu arbitrariamente os manifestantes, muitos dos quais eram jovens", afirmou Natalia Zviagina, diretora da Anistia Internacional na Rússia.
Os protestos ocorrem menos de uma semana após a prisão de Navalny, detido em uma cidade russa ao voltar da Alemanha, onde estava em tratamento após ser envenenado, crime que ele atribui a Putin. O Kremlin nega envolvimento, mas se recusou a abrir uma investigação sobre o caso. Navalny convocou a população a sair as ruas, logo após ser condenado a 30 dias em prisão preventiva.
O líder opositor enfrenta três acusações - segundo ele, todas motivadas politicamente - que podem condená-lo a anos de prisão.
Qual é a preocupação de Putin
Crítico de Putin por mais de uma década, Navalny coordena uma rede de ativistas que usam as redes sociais para expor denúncias de corrupção e pressionar o governo russo.
O líder opositor já foi condenado criminalmente duas vezes: por desvio de fundos e fraude. Ele denunciou as condenações como perseguição política e a Corte Europeia de Direitos Humanos questionou as sentenças, que foram suspensas.
Navalny tentou concorrer contra Putin nas eleições de 2018, mas foi impedido de se candidatar por causa de uma das suas condenações anteriores. Mesmo assim, ele reuniu um grande número de apoiadores.
Na terça-feira (19), o grupo de Navalny publicou um vídeo no YouTube com acusações de corrupção em escala gigantesca contra Putin. O vídeo alega que o presidente russo construiu um "palácio" bilionário na costa russa do Mar Negro e que teve uma filha fora do casamento.
O vídeo, que já teve mais de 70 milhões de visualizações, afirma que a construção luxuosa custou pelo menos 1,35 bilhão de euros. A investigação inclui o que diz ser as primeiras fotos públicas do interior da propriedade.
O palácio em si teria mais de 17 mil metros quadrados e incluiria um home theater, um bar, um cassino com máquinas e uma piscina. No local da construção existe uma igreja, um anfiteatro, diversas residências e um túnel que leva à costa, segundo o vídeo.
"Isso está no lugar mais bem guardado da Rússia, e esse é o maior segredo de Putin, que é protegido por centenas, até milhares, de pessoas - desde guardas, jardineiros e construtores desconhecidos até as pessoas mais ricas e famosas da Rússia", narra o vídeo de quase duas horas.
Para a oposição russa, o palácio se tornou um símbolo da corrupção desenfreada nos mais altos níveis do governo russo. Um porta-voz do Kremlin disse que o vídeo era "uma fraude" e "nonsense total".
O governo de Putin teme que os protestos ganhem força e se tornem incontroláveis, e por isso tem aumentado os esforços para coibir rapidamente as manifestações nas grandes cidades, com o uso de detenções em massa, bloqueio de internet e perseguição a opositores políticos.
Apesar disso, Putin nunca se refere a Navalny pelo seu nome, e a mídia estatal o retrata como um blogueiro sem importância.
A volta de Navalny à Rússia e os protestos devem arranhar a imagem de Putin, disse Nikolai Petrov, pesquisador no programa da Rússia e Eurasia da Chatham House, à Associated Press. Putin tem trabalhado de sua residência desde o início da pandemia, e a percepção de que ele se manteve longe do público não será bem vista na comparação ao retorno corajoso de Navalny ao país onde foi envenenado e podia ser preso.
"Não importa se as pessoas apoiam ou não Navalny; elas veem essas duas imagens, e Putin perde", avaliou Petrov.
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