A Marinha brasileira puniu dois militares da Força de Paz no Haiti que se envolveram numa crise com funcionários da Receita Federal daquele país. A versão oficial fala apenas em desentendimento. Mas o incidente tornou-se público a partir de uma conversa entre um fuzileiro naval e um soldado do Exército no site de relacionamentos Orkut, em maio passado. Nele, há o relato de que equipes dos fuzileiros navais invadiram a sede da Receita Federal haitiana, no aeroporto do país. A ação teve o objetivo de recuperar as compras feitas por eles durante uma folga em Miami, nos Estados Unidos.
Devolução de produtos
Os produtos foram apreendidos pelos funcionários da aduana quando os fuzileiros, lotados no quartel da Ilha do Governador, retornaram da viagem de folga. O número e os valores das compras ultrapassavam os limites determinados pelas leis do Haiti. A informação desagradou os integrantes da tropa de elite da Marinha brasileira, que organizaram uma ação para recuperar os produtos.
As informações tornaram-se públicas a partir de uma conversa entre dois militares no Orkut. A ação é discutida na comunidade "Dei-nos qualquer missão - Adsumus". Adsumus é o lema dos fuzileiros navais e que significa "aqui estamos". De acordo com o Centro de Comunicação da Marinha, em Brasília, o fato teria ocorrido em maio do ano passado.
Dois militares que estiveram em missão, no Haiti, sendo um do Exército e outro da Marinha, confirmaram o assalto na aduana haitiana. Eles só pediram para não serem identificados com medo de punições. O relato feito pelo Centro de Comunicação da Marinha, assinado pelo capitão-de-mar-e-guerra Paulo Maurício Farias Alves, afirma que não houve um assalto.
Nota oficial
A nota informa que "foi um evento isolado, em boa parte atribuído a dificuldades de comunicação, ocorrido em maio de 2005, ou seja, há mais de um ano, em que dois militares se desentenderam com autoridades aduaneiras".
De acordo com a Marinha, os militares envolvidos foram punidos disciplinarmente e "orientados a respeitar as autoridades locais".
Os fuzileiros navais integravam a equipe do 2º contingente. Até o momento, foram enviados ao Haiti 1.178 fuzileiros navais. Todos fizeram parte da operação Minustah, que significa Missão de Estabilização do Haiti, em inglês.
Invasão
Em tempos de paz, as unidades dos fuzileiros navais atuam na segurança das instalações da Marinha no país e das embaixadas do Brasil na Argélia, Paraguai, Bolívia e Haiti. O grupo de elite ainda realiza ações sociais em populações carentes.
Integrante da operação Minustah, no Haiti, os fuzileiros navais e o Exército, foram destacados para garantir a segurança dos chamados pontos sensíveis e estratégicos do país como o aeroporto internacional, o complexo portuário, o posto de comando de Brigada, as delegacias da Polícia Nacional, além de uma unidade das Organizações das Nações Unidas (ONU).
Segurança violada
O aeroporto onde o grupo deveria garantir a segurança acabou invadido pelos fuzileiros para recuperar as suas compras. A quantidade de mercadorias não foi revelada pela Marinha. As autoridades haitianas, que tem a sua segurança garantida por militares brasileiros, não comentam o assunto.
A nota emitida pelo Centro de Comunicação Social, da Marinha, explica que o "incidente foi prontamente contornado e os militares envolvidos punidos disciplinarmente. Além disso, todo o pessoal atuando no Haiti foi novamente orientado quanto ao relacionamento desejado. A atuação da Marinha tem recebido elogios".