Em tom de desafio, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, acusou hoje o Ocidente de ter provocado a crise na Ucrânia e de somente ter aplicado sanções a Moscou para enfraquecer os russos no cenário mundial.
Putin, que falou em discurso anual a parlamentares e autoridades do alto escalão russo, disse que a Rússia não vai se isolar ou se envolver numa corrida de armas. Ele afirmou, porém, que as sanções do Ocidente fazem parte de um plano para minar a influência da Rússia e que seriam adotadas independentemente da situação na Ucrânia. Mais de 4.300 pessoas foram mortas no leste ucraniano em combates que o Ocidente e Kiev dizem ter sido alimentados por recursos de Moscou.
"Ninguém vai garantir superioridade militar em relação à Rússia", disse Putin. "Temos força suficiente, vontade e coragem para nossa defesa."
O discurso de Putin sugere que Moscou não tem intenção de recuar apesar das sanções que, junto com a forte queda vista nos preços do petróleo desde meados do ano, estão levando a economia russa à recessão.
Putin também defendeu a anexação por Moscou da região ucraniana da Crimeia, ocorrida em março, descrevendo a península como um lugar sagrado de importância histórica para os russos. "Nosso povo vive na Crimeia e o território em si é estrategicamente importante", disse.
Putin pediu ajuda ainda para a reforma da economia ucraniana, mas acusou os ocidentais e Kiev de não estarem interessados. Ele fez breve menção a tiroteios ocorridos hoje em Grozny, capital da Chechênia, e criticou o Ocidente por ter apoiado separatistas da região na década de 1990, classificando o gesto como uma tentativa de dividir a Rússia.
Sobre a economia russa, que poderá entrar em recessão no ano que vem, segundo projeções divulgadas em Moscou esta semana, Putin disse que o governo vai tomar medidas para diminuir regulamentos excessivos que prejudicam os negócios. Ele também defendeu uma redução nos gastos do governo e o controle mais rígido das despesas de estatais russas.
Putin comentou ainda que o rublo, que já perdeu cerca de 40% de seu valor frente do dólar desde o começo do ano, foi vítima de um "ataque especulativo" e pediu ao banco central russo que adote duras medidas para evitar que a moeda russa continue se desvalorizando.
"As autoridades sabem quem são os especuladores e têm as ferramentas para influenciá-los. Chegou a hora de usar essas ferramentas", afirmou o presidente russo.