O presidente russo Vladimir Putin anunciou neste domingo (31) uma nova doutrina naval ambiciosa que vê os Estados Unidos como a maior ameaça ao Kremlin e pretende posicionar a Rússia como grande potência marítima, com linhas vermelhas no Ártico e nos mares Negro e Báltico. Segundo Moscou, o documento leva em conta as dramáticas mudanças geopolíticas causadas pela guerra contra a Ucrânia. O cenário é similar ao observado em 2015, quando Putin também assinou atualização da doutrina naval russa após a deterioração das relações com o Ocidente, causada pela anexação da península ucraniana da Crimeia, um ano antes.
A doutrina se refere ao fato de que a Rússia conta com instrumentos diplomáticos e econômicos para resolver disputas, mas pode recorrer à força “se necessário”, embora sempre respeitando a legislação russa e o direito internacional. O documento, assinado por Putin por ocasião do Dia da Marinha, aponta que "os interesses nacionais da Rússia como grande potência marítima se estendem a todos os oceanos".
"Marcamos abertamente as fronteiras e áreas de interesse nacional da Rússia, tanto econômicas quanto estratégicas que são vitais. Vamos assegurar sua defesa com firmeza e por todos os meios", disse o presidente russo. Conforme a atualização, a Rússia não aceita interferência em seus assuntos no Ártico, no Cáspio e no Mar de Okhotsk (Pacífico); os mares Negro e Azov, tomados da Ucrânia; o Báltico; as Ilhas Curilas (cuja soberania é reivindicada pelo Japão); o Mediterrâneo oriental e os estreitos que levam à Ásia e à África.
Putin expõe suas ambições de grandeza justamente quando o Ocidente busca levá-lo ao isolamento. Para evitar esse ostracismo, Moscou anunciou planos para criar bases navais e centros de abastecimento a partir do Mediterrâneo oriental até à região da Ásia-Pacífico, Oceano Índico e Golfo Pérsico, um esforço que será apoiado pela construção de porta-aviões. Particularmente, a doutrina destaca o interesse em aumentar a cooperação militar-naval com Índia, Irã, Arábia Saudita e Iraque. Há anos que a Rússia tenta encontrar alternativas estratégicas para seus tradicionais parceiros europeus
Quanto ao Mediterrâneo, além de garantir sua presença permanente no porto de Tartus, na Síria, Moscou quer abrir centros de manutenção naval "no território de outros países da região", incluindo África e Oriente Médio. Outra prioridade é fortalecer o potencial da Frota do Mar Negro e a infraestrutura militar da península anexada da Crimeia.
A Marinha russa, que abandonou sua base em Cuba (Lourdes) em 2001 e a do Vietnã (Cam Ranh) em 2004, retomou as patrulhas em todo o mundo em 2008, incluindo as áreas de responsabilidade da Otan.
Também neste domingo (31), a Rússia anunciou que receberá receberá novos mísseis de cruzeiro hipersônicos Tsirkon "nos próximos meses". Segundo o presidente russo, o mar de destino desse armamento será determinado dependendo das necessidades da segurança do país, que em 2018 iniciou programa de rearmamento hipersônico sem precedentes.
Enquanto isso, diante do aumento dos combates em Donbass, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, pediu aos moradores da área controlada por Kiev na região de Donetsk que deixassem o território.
"Confie em mim. Quanto mais cedo eles fizerem isso, quanto mais pessoas deixarem a região de Donetsk agora, menos tempo o exército russo terá para matar pessoas", enfatizou, admitindo que ainda havia "centenas de milhares de pessoas, dezenas de milhares de crianças, muitas das quais se recusam a sair".
Tanto o Estado-Maior ucraniano quanto o Instituto de Estudos de Guerra relataram bombardeios russos com artilharia e aviação, embora Moscou não tenha feito progressos significativos em Donbass, na região de Kharkov, ou no sul, em Kherson.
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