O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse nesta quinta-feira (19) que a espionagem é necessária para qualquer país do mundo, mas defendeu a regulação da atividade. Ele ainda disse sentir inveja do americano Barack Obama por poder fazer o monitoramento sem ser punido.
Questionado sobre a espionagem feita pela Agência de Segurança Nacional americana (NSA, em inglês), Putin disse que a vigilância é necessária para evitar o terrorismo, mas que deve ser regulada por "normas e regras estritas".
"[A espionagem] sempre existiu. É uma das profissões mais antigas do mundo, ao lado de algumas outras. Não vamos enumerá-las. Não há tantas profissões tão antigas", ironizou o presidente, que foi agente da KGB, o serviço secreto russo.
Para ele, a espionagem da NSA não deve ser motivo nem de alegria nem de arrependimento e que é um risco à privacidade, já que as agências não são capazes de processá-las por inteiro. O russo disse ainda ter inveja de seu colega americano, Barack Obama, de poder espionar e continuar impune."Sinto inveja. Invejo-o, já que ele pode fazer [escutas] e não vai acontecer nada."
Snowden
Putin negou também que tenha interrogado o delator da espionagem americana, Edward Snowden, a quem concedeu asilo temporário em agosto. "Não trabalhamos com ele e nunca fizemos isso. E não fazemos perguntas a ele sobre o que fazem os serviços para os quais trabalhou no que diz respeito à Rússia".
O presidente russo indicou também que nunca se encontrou com Snowden: "Não o conheço pessoalmente, nunca me reuni com ele. É um homem nobre, interessante, mas ele deve decidir seu futuro. Nisso, nem o ajudamos, nem o limitamos, simplesmente lhe demos asilo".
"Não nego que não me é indiferente. Acho que graças a ele mudou muito na cabeça de milhões de pessoas, incluído nas dos maiores grandes dirigentes políticos da atualidade", afirmou Putin.
Ártico
Putin também afirmou que deverá tomar medidas firmes para evitar que grupos ambientalistas interfiram na exploração de petróleo e outras atividades econômicas no Ártico.
Em entrevista coletiva, o mandatário acusou outros países de instruírem os 30 ativistas do Greenpeace que invadiram uma plataforma em setembro, mas não mencionou que nações teriam interesse em prejudicar a extração de petróleo.
Embora tenha criticado a ação, Putin deu sinais de que os ativistas poderão ser liberados junto com a anistia aprovada ontem pelo Parlamento. "A anistia não foi feita para os ativistas do Greenpeace, mas, se eles se beneficiarem dela, tudo bem."
Os ambientalistas, incluindo a brasileira Ana Paula Maciel, foram soltos em novembro após dois meses de prisão preventiva. Inicialmente indiciados pelo crime de pirataria, eles respondem também por vandalismo.
Os condenados por vandalismo são um dos beneficiados pela anistia e o Greenpeace acredita que seus ativistas deverão ser liberados. No entanto, não há informações se foram retiradas as acusações por pirataria, o que poderia impedi-los de deixar a Rússia.
A prisão dos "30 do Ártico", como o Greenpeace chama o grupo de ativistas, motivou críticas do Ocidente e foi amplamente vista como um sinal de que Putin não irá tolerar qualquer tentativa de impedir a Rússia de explorar os recursos do Ártico.
Ucrânia
Putin disse que a ajuda financeira à Ucrânia não tem como objetivo afastar o país vizinho da União Europeia. Para ele, a redução do preço do gás e a compra de títulos da dívida pública ucraniana são uma ajuda para "um país e um povo irmão".
A queda de cerca de 30% no preço do gás fornecido pela russa Gazprom e a aquisição de US$ 15 bilhões (R$ 34,5 bilhões) em títulos da dívida pública foram acertadas após reunião entre Putin e o presidente ucraniano, Viktor Yanukovich.
O acordo acontece após três semanas de protestos de opositores a Yanukovich, que rejeitou a adesão à União Europeia e provocou a irritação de seus rivais. Após o acordo com a Rússia, os manifestantes acusaram o mandatário de vender a Ucrânia para Moscou.
O russo descartou qualquer relação entre o acordo com os ucranianos e as negociações para a entrada da União Europeia, assim como negou que tenha sido uma resposta aos protestos no centro da capital Kiev.
"Afirmamos com frequência que é um povo irmão, um país irmão, então devemos atuar como parentes próximos e apoiar o povo ucraniano que se encontra em uma situação difícil", disse Putin, que também rejeitou as acusações de que Moscou esteja "asfixiando" a economia ucraniana.
"Não temos nada contra este acordo, apenas afirmamos que temos que defender nossa economia", declarou Putin, em relação à adesão ucraniana à União Europeia.
Putin reiterou que a decisão de reduzir o preço do gás é temporária, mas que espera chegar a um "acordo de cooperação de longo prazo" no setor de energia. Analistas dizem que o resgate é uma aposta feita num momento de fragilidade para a economia russa, e que a decisão foi tomada por questões geopolíticas.
Acordo
Segundo o acordo firmado, a Rússia comprará US$ 15 bilhões (R$ 34,5 bilhões) em títulos da dívida pública ucraniana e reduzirá em cerca de 30% o preço do gás vendido a Kiev.Mesmo com o pacto com Moscou, Yanukovich não descartou a associação com os europeus, embora tenha pedido 20 bilhões de euros (R$ 66 bilhões) a Bruxelas para poder entrar no bloco.
O acordo russo foi encarado pela oposição e por analistas como um dos passos para manter a influência de Moscou sobre Kiev. O Kremlin também deseja incluir o país na União Euroasiática, bloco econômico formado por ex-repúblicas soviéticas e que já conta com a participação de Armênia, Belarus e Cazaquistão.
A intenção, de acordo com os analistas, é diminuir o influência da União Europeia em relação aos países do leste europeu.
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