Presidente russo deu sua entrevista coletiva anual nesta quinta-feira (19)| Foto: Reuters/Mikhail Metzel/RIA Novosti/Kremlin

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse nesta quinta-feira (19) que a espionagem é necessária para qualquer país do mundo, mas defendeu a regulação da atividade. Ele ainda disse sentir inveja do americano Barack Obama por poder fazer o monitoramento sem ser punido.

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Questionado sobre a espionagem feita pela Agência de Segurança Nacional americana (NSA, em inglês), Putin disse que a vigilância é necessária para evitar o terrorismo, mas que deve ser regulada por "normas e regras estritas".

"[A espionagem] sempre existiu. É uma das profissões mais antigas do mundo, ao lado de algumas outras. Não vamos enumerá-las. Não há tantas profissões tão antigas", ironizou o presidente, que foi agente da KGB, o serviço secreto russo.

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Para ele, a espionagem da NSA não deve ser motivo nem de alegria nem de arrependimento e que é um risco à privacidade, já que as agências não são capazes de processá-las por inteiro. O russo disse ainda ter inveja de seu colega americano, Barack Obama, de poder espionar e continuar impune."Sinto inveja. Invejo-o, já que ele pode fazer [escutas] e não vai acontecer nada."

Snowden

Putin negou também que tenha interrogado o delator da espionagem americana, Edward Snowden, a quem concedeu asilo temporário em agosto. "Não trabalhamos com ele e nunca fizemos isso. E não fazemos perguntas a ele sobre o que fazem os serviços para os quais trabalhou no que diz respeito à Rússia".

O presidente russo indicou também que nunca se encontrou com Snowden: "Não o conheço pessoalmente, nunca me reuni com ele. É um homem nobre, interessante, mas ele deve decidir seu futuro. Nisso, nem o ajudamos, nem o limitamos, simplesmente lhe demos asilo".

"Não nego que não me é indiferente. Acho que graças a ele mudou muito na cabeça de milhões de pessoas, incluído nas dos maiores grandes dirigentes políticos da atualidade", afirmou Putin.

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Ártico

Putin também afirmou que deverá tomar medidas firmes para evitar que grupos ambientalistas interfiram na exploração de petróleo e outras atividades econômicas no Ártico.

Em entrevista coletiva, o mandatário acusou outros países de instruírem os 30 ativistas do Greenpeace que invadiram uma plataforma em setembro, mas não mencionou que nações teriam interesse em prejudicar a extração de petróleo.

Embora tenha criticado a ação, Putin deu sinais de que os ativistas poderão ser liberados junto com a anistia aprovada ontem pelo Parlamento. "A anistia não foi feita para os ativistas do Greenpeace, mas, se eles se beneficiarem dela, tudo bem."

Os ambientalistas, incluindo a brasileira Ana Paula Maciel, foram soltos em novembro após dois meses de prisão preventiva. Inicialmente indiciados pelo crime de pirataria, eles respondem também por vandalismo.

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Os condenados por vandalismo são um dos beneficiados pela anistia e o Greenpeace acredita que seus ativistas deverão ser liberados. No entanto, não há informações se foram retiradas as acusações por pirataria, o que poderia impedi-los de deixar a Rússia.

A prisão dos "30 do Ártico", como o Greenpeace chama o grupo de ativistas, motivou críticas do Ocidente e foi amplamente vista como um sinal de que Putin não irá tolerar qualquer tentativa de impedir a Rússia de explorar os recursos do Ártico.

Ucrânia

Putin disse que a ajuda financeira à Ucrânia não tem como objetivo afastar o país vizinho da União Europeia. Para ele, a redução do preço do gás e a compra de títulos da dívida pública ucraniana são uma ajuda para "um país e um povo irmão".

A queda de cerca de 30% no preço do gás fornecido pela russa Gazprom e a aquisição de US$ 15 bilhões (R$ 34,5 bilhões) em títulos da dívida pública foram acertadas após reunião entre Putin e o presidente ucraniano, Viktor Yanukovich.

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O acordo acontece após três semanas de protestos de opositores a Yanukovich, que rejeitou a adesão à União Europeia e provocou a irritação de seus rivais. Após o acordo com a Rússia, os manifestantes acusaram o mandatário de vender a Ucrânia para Moscou.

O russo descartou qualquer relação entre o acordo com os ucranianos e as negociações para a entrada da União Europeia, assim como negou que tenha sido uma resposta aos protestos no centro da capital Kiev.

"Afirmamos com frequência que é um povo irmão, um país irmão, então devemos atuar como parentes próximos e apoiar o povo ucraniano que se encontra em uma situação difícil", disse Putin, que também rejeitou as acusações de que Moscou esteja "asfixiando" a economia ucraniana.

"Não temos nada contra este acordo, apenas afirmamos que temos que defender nossa economia", declarou Putin, em relação à adesão ucraniana à União Europeia.

Putin reiterou que a decisão de reduzir o preço do gás é temporária, mas que espera chegar a um "acordo de cooperação de longo prazo" no setor de energia. Analistas dizem que o resgate é uma aposta feita num momento de fragilidade para a economia russa, e que a decisão foi tomada por questões geopolíticas.

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Acordo

Segundo o acordo firmado, a Rússia comprará US$ 15 bilhões (R$ 34,5 bilhões) em títulos da dívida pública ucraniana e reduzirá em cerca de 30% o preço do gás vendido a Kiev.Mesmo com o pacto com Moscou, Yanukovich não descartou a associação com os europeus, embora tenha pedido 20 bilhões de euros (R$ 66 bilhões) a Bruxelas para poder entrar no bloco.

O acordo russo foi encarado pela oposição e por analistas como um dos passos para manter a influência de Moscou sobre Kiev. O Kremlin também deseja incluir o país na União Euroasiática, bloco econômico formado por ex-repúblicas soviéticas e que já conta com a participação de Armênia, Belarus e Cazaquistão.

A intenção, de acordo com os analistas, é diminuir o influência da União Europeia em relação aos países do leste europeu.

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