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Recep Tayyip Erdogan está em Moscou nesta quinta-feira (5) para conversar com Vladimir Putin, com o objetivo de encontrar uma solução para aliviar as tensões na Síria, onde a ameaça de conflito direto entre Rússia e Turquia não está totalmente descartada.
A reunião acontece quando dezenas de soldados turcos foram mortos nas últimas semanas em intensos combates na região de Idlib, a última fortaleza rebelde e jihadista no noroeste da Síria, onde a Turquia intervém contra as forças do regime de Bashar al-Assad.
Assad, apoiado pela força aérea russa, lançou em dezembro uma ofensiva em Idlib, que causou uma catástrofe humanitária, com quase um milhão de deslocados em direção à fronteira com a Turquia.
Ainda nesta quinta-feira, pelo menos 15 civis, incluindo uma criança, foram mortos em ataques aéreos russos em Idlib, de acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).
"A situação em Idlib se agravou tanto que exige que tenhamos uma conversa pessoal e direta", disse Putin no início do encontro com seu colega turco no Kremlin.
Ele expressou condolências a Erdogan pela morte dos soldados turcos na Síria, enfatizando, porém, que "o exército sírio também sofreu pesadas perdas" nas últimas semanas.
"Precisamos conversar sobre isso para que não se repita e não destrua as relações russo-turcas", disse Putin.
Por sua parte, Erdogan afirmou esperar que as decisões tomadas hoje "apaziguem a região (de Idlib) e nossos dois países".
Na véspera de sua partida para Moscou, o presidente turco já havia expressado a esperança de obter um "cessar-fogo o mais rápido possível na região" de Idlib.
A escalada resultou em tensões diplomáticas entre Moscou, aliado do regime sírio, e Ancara, que apoia os rebeldes, representando um risco real de confronto direto entre os dois países que se estabeleceram como atores principais no conflito sírio.
O enviado da ONU para a Síria, Geir Pedersen, pediu na quarta-feira uma solução diplomática "imediata" na Síria.
"Um cessar-fogo pode ser anunciado no final das discussões entre Putin e Erdogan, mas será apenas para o espetáculo", relativiza, no entanto, um diplomata ocidental.
"Acho que Putin dirá a Erdogan que é hora de acabar com suas ações na Síria", acrescentou.
Acusações mútuas
"A vitória na Síria se tornou uma questão de prestígio para a Rússia e pessoal para Putin", assegura Yuri Barmine, analista do Conselho russo de Assuntos Internacionais, sugerindo que Moscou, que intervém militarmente em solo sírio desde setembro 2015 não está pronto para fazer concessões.
A escalada de tensões em Idlib já fez fracassar os acordos concluídos entre os presidentes Putin e Erdogan em Sochi em 2018 para encerrar os combates nessa região e estabelecer uma zona desmilitarizada.
Também deu origem a acusações afiadas entre as duas capitais, que fortaleceram sua cooperação nos últimos anos na questão síria, apesar de seus interesses divergentes.
A Turquia acusou a Rússia de não respeitar os acordos de Sochi, que previam a garantia do status quo no terreno e a suspensão dos bombardeios em Idlib.
Em resposta, Moscou acusou Ancara de não cumprir sua parte dos compromissos e de não fazer nada para "neutralizar os terroristas" nesta região.
Neste contexto, a Turquia, que já abriga 3,6 milhões de sírios em seu território, exigiu na quarta-feira apoio europeu a "soluções políticas e humanitárias turcas na Síria", essenciais, segundo Ancara, para estabelecer uma trégua e resolver a crise migratória.
A UE rejeitou a chantagem migratória de Ancara.
Na última sexta-feira (28), Erdogan ordenou a abertura das fronteiras de seu país e dezenas de milhares de pessoas se dirigiram para a Grécia, causando confrontos entre refugiados e policiais na fronteira grega.