O presidente da Rússia, Vladimir Putin, assinou na sexta-feira um decreto exigindo que os membros das Forças Armadas, os destacamentos de voluntários e grupos mercenários como o Wagner jurem fidelidade à bandeira nacional. O decreto foi assinado dois dias depois de o avião particular que transportava o chefe do Wagner, Yevgeny Prigozhin, cair na região central da Rússia. Segundo as primeiras investigações, os dez ocupantes da aeronave, incluindo outros líderes do Wagner, morreram.
Anteriormente, o Wagner havia se recusado a se subordinar ao Ministério da Defesa russo, gerando um conflito que levou ao fracasso da rebelião armada da organização paramilitar, há dois meses. Apesar de ter acusado Prigozhin de traição após o motim, Putin prestou condolências aos mortos na queda do avião e elogiou Prighozin.
Apesar de Prigozhin ter sido amplamente dado como morto, até hoje seu óbito não foi confirmado legalmente com testes de DNA, necessários devido ao estado em que se encontram os corpos dos ocupantes do avião que caiu na quarta-feira. A identificação através da análise comparativa do material genético pode demorar vários dias, uma vez que depende da entrega de amostras dos familiares diretos do falecido, explicou o médico legista Vladimir Skakun ao portal digital Fontanka.
Imprensa lembra que Putin não perdoa traições; ditador da Belarus disse ter advertido Prigozhin
As autoridades russas prosseguem com a investigação da queda do avião, e a detonação de um artefato explosivo colocado no compartimento do trem de pouso do Embraer Legacy 600, está sendo considerada a possível causa da queda da aeronave. Alguns meios de comunicação também levantaram a possibilidade de a aeronave ter sido abatida, intencionalmente ou por engano, por mísseis das unidades de defesa antiaérea que protegem uma residência de Putin localizada próxima à rota seguida pelo avião de Prigozhin. As autoridades russas também não descartam um defeito técnico ou mesmo um erro de pilotagem como causa do acidente, enquanto nas redes sociais não falta quem afirme que tudo é uma armação e que Prigozhin está vivo.
O ditador da Belarus, Aleksandr Lukashenko, que mediou o encerramento do motim do Grupo Wagner em junho, disse na sexta-feira que advertiu Prigozhin, através de Putin, de que tinha informações sobre um possível ataque contra ele. Lukashenko acrescentou que o líder do Wagner confirmou o recebimento da notificação.
O autocrata russo é unanimemente considerado pela imprensa independente e pela oposição como o principal suspeito por trás do desastre aéreo, mas o Kremlin rechaçou categoricamente as acusações da oposição e as declarações de políticos ocidentais de que Putin estaria por trás da queda do avião de Prigozhin. “É uma mentira absoluta”, enfatizou o porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov. No entanto, muitos meios de comunicação recordaram que, em uma mensagem televisiva à população no dia do motim, 24 de junho, Putin disse não perdoar a traição do Grupo Wagner.
Após o acordo que pôs fim à revolta dos mercenários e que incluiu a transferência do grupo para Belarus, o Wagner foi despojado do seu armamento pesado. Agora, com a queda do avião de Prigozhin, a companhia mercenária ficou sem cabeça, já que na aeronave também estaria Dmitri Utkin, seu mais destacado comandante e cujo codinome “Wagner” foi adotado para todo o grupo, do qual foi cofundador. Ex-oficial da inteligência militar russa (GRU), Utkin lutou na Chechênia, na Síria e na Ucrânia, e recebeu o título de Herói da Rússia. Em uma de suas poucas fotografias conhecidas, aparece com a cabeça raspada e diversas tatuagens nazistas. Também entre os dez ocupantes do Embraer Legacy 600 estaria Valeri Chekalov, responsável pela segurança pessoal de Prigozhin e de parte de seus negócios.
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