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Desde o início da guerra na Ucrânia, em fevereiro de 2022, a Justiça da Rússia, subserviente ao ditador Vladimir Putin, vem promovendo uma série de desapropriações de empresas do país.
Segundo recente reportagem do portal de notícias do grupo de mídia russo RBC, ao menos 55 empreendimentos foram alvos de “nacionalização” forçada desde que o conflito começou.
Grande parte desse movimento tem foco na região de Tcheliabinsk, no sul da Rússia, conhecida como um importante centro industrial.
Um exemplo foi a desapropriação, em fevereiro, da Usina Eletrometalúrgica de Tcheliabinsk, responsável por 80% da produção de ferroligas da Rússia. O Ministério Público reivindicou a “nacionalização” da empresa sob os argumentos de que sua privatização, nos anos 1990, teria sido ilegal e de que a empresa exportaria produtos para “estados hostis”.
A princípio, as desapropriações se concentraram sobre a indústria de defesa russa e suas fornecedoras (como no recente caso da Eletrometalúrgica de Tcheliabinsk), com o objetivo de aumentar o controle do Estado sobre a produção de armamentos, mas logo elas se voltaram também para empreendimentos sem relação direta com o esforço de guerra na Ucrânia.
O jornal The Moscow Times destacou que empresas do agronegócio, uma grande concessionária de automóveis, o maior grupo produtor de vinhos do país (Ariant) e até a fabricante de macarrão mais famosa da Rússia, a Makfa, também foram desapropriados.
No caso da Mafka, o Tribunal Distrital Central de Tcheliabinsk concordou com a alegação da promotoria de que os proprietários da empresa teriam violado leis anticorrupção ao administrarem o empreendimento enquanto ocupavam cargos públicos.
Além dos argumentos citados nos casos da Eletrometalúrgica de Tcheliabinsk e da Mafka, outra alegação comum para desapropriar empresas na Rússia tem sido a “acusação” de estarem “sob controle estrangeiro”.
Entretanto, na terra de Putin, nada é o que parece. Novamente, o caso da Eletrometalúrgica de Tcheliabinsk é um exemplo: a RBC relatou que a usina deve ser transferida para a Rostec, conglomerado de defesa estatal controlado por Serguei Chemezov, próximo do ditador da Rússia.
Em entrevista ao The Moscow Times, Nicholas Trickett, analista sênior da agência de classificação de risco S&P, disse que as desapropriações teriam o objetivo de “criar um novo grupo de interesse” de “vencedores” dentro da elite russa “que estão totalmente voltados para a continuidade” da guerra na Ucrânia. Ou seja: premiar quem apoia a agressão de Putin ao país vizinho.
“Enquanto antes o Estado [russo] visava os bolsos de investidores estrangeiros, agora é temporada de caça no mercado interno”, justificou.
No final de março, o procurador-geral da Rússia, Igor Krasnov, disse que já haviam sido “nacionalizados” 1 trilhão de rublos (cerca de R$ 56 bilhões) em ativos “estratégicos”.