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A partir desse limite, blogueiros russos estão obrigados a se registrar junto ao órgão regulador da mídia, o Roskomnadzor, e se adaptar à legislação em vigor para os grandes meios. De acordo com a lei, os blogueiros já não podem mais se manter no anonimato. A novidade também obriga que as empresas de internet permitam às autoridades russas, quando necessário, acesso a informações de usuários.
Propaganda
Aprovada em junho de 2013, lei criminaliza "propaganda homossexual" voltada a menores e impede "ofensas aos sentimentos religiosos".
Palavrão
Em maio, foi criada uma lei que proíbe o uso de obscenidades em espaços públicos . Cabe a uma comissão determinar o que é ou não um palavrão.
Doações
Em 2012, uma lei passou a obrigar ONGs que usam dinheiro do exterior a se identificar como "agentes estrangeiros" e a fornecer informações detalhadas ao governo.
Aparentemente, não se trata de especulação imobiliária, nem de uma necessidade premente da Prefeitura de Moscou por espaço. Mas o pequeno Teatr.doc, que ocupa a espremida sala negra com ares de calabouço no centro da capital russa, a poucos passos da emblemática Praça Pushkin, está prestes a ser despejado. Criada nos idos de 2002, a companhia se notabilizou pela irreverência, audácia e a capacidade de inovar no palco com encenações de forte conteúdo crítico e político. Dali surgiram nomes importantes da cena teatral contemporânea, como a dramaturga Elena Gremina, uma das suas cofundadoras.
Em Oxford, onde participou do encontro De Volta à União Soviética para debater o teatro russo, Elena disse que não há motivos claros para a decisão, mas confessa ter se surpreendido com o apoio que tem recebido nas redes sociais.
"Não sei o que vai acontecer. Outros teatros chegaram a nos oferecer espaço. Não queremos criar problemas para ninguém. A situação política para os teatros mudou. Depois das leis que baniram os palavrões e a propaganda homossexual, por exemplo, vários textos foram adaptados. Os gays são apresentados como anti-heróis ou personagens cômicos. Só podem ser mostrados em situações negativas", disse a autora da aclamada peça Irmãos Ch, sobre a família do escritor Anton Tchekov, levada ao cinema pelo diretor Mikhal Ugarov, também cofundador do Teatr.doc e seu marido.
O que está ocorrendo com o Teatr.doc não é um caso isolado. A rádio Ekho Moskvy, conhecida pelas suas posições críticas, sofre a ameaça de sair do ar. Seu destino pode ser decidido nos próximos dias. A Memorial, organização não-governamental voltada para os direitos humanos uma das primeiras a atuar neste segmento no país, criada no período da perestroika inicialmente com o objetivo de dar assistência aos prisioneiros políticos vítimas do regime soviético , está sendo julgada neste momento e pode ter de fechar as portas.
O fim destas duas últimas instituições, de acordo com especialistas, não significa necessariamente que será sentido pelas massas. Estima-se que um em cada dez russos nunca ouviu falar na Memorial, e que, sobre a Ekho Moskvy, só sabem da verve crítica contra o regime vigente.
Pressões
Ninguém sabe o que há por trás da determinação, nem se veio ainda mais de cima, do gabinete do prefeito de Moscou, ou ainda de instâncias superiores a ele
"Embora seja difícil saber se foi o próprio Kremlin que mandou funcionários atrás do teatro, da rádio, da ONG ou de qualquer outro grupo ou mídia, a realidade é que o sistema por si só está criando incentivos e pressões que tornarão cada vez mais difícil a sobrevivência de qualquer organização verdadeiramente independente", diz o diretor do Instituto de Rússia da Universidade Kings College, Sam Greene,
Enquanto isso, o Teatr.doc espera uma resolução final. Caso contrário, mês que vem terá de deixar o endereço atual.
Novas regras da internet reduzem liberdade
Até bem pouco tempo atrás, a internet era tida como o espaço mais livre da sociedade russa contemporânea para os críticos do sistema. Debates sobre política e denúncias importantes tiveram lugar na rede nos últimos anos, assim como as convocações para os protestos que tanto assustaram o Kremlin recentemente. Ainda não se sabe como a nova lei para blogueiros será aplicada, mas os interessados já estariam buscando meios para driblá-la.
Uma outra lei aprovada no início do ano já dava ao governo poderes para bloquear páginas na internet sem maiores explicações. Foi assim que o blog do oposicionista Alexei Navalny, o blogueiro que emergiu dos protestos anti-Putin, e outros dois sites de uma organização encabeçada pelo oposicionista, ex-enxadrista e ex-candidato à Presidência da Rússia Gary Kasparov foram bloqueados.
Na semana passada, em uma reunião de seu Conselho de Segurança sobre o combate ao extremismo, Putin afirmou que a Rússia deve evitar uma "revolução colorida", em referência a revoluções populares que ocorreram nas ex-repúblicas soviéticas, notadamente a "revolução laranja" na Ucrânia.
"No mundo moderno, o extremismo é usado como um instrumento geopolítico para redefinir esferas de influência. O que vemos são consequências trágicas dessa onda revolucionária", afirmou o presidente. "Para nós isso é uma lição e um alerta. Temos que fazer o possível para que nada semelhante aconteça na Rússia."
Putin também manifestou preocupação com interferência externa. No início da semana passada havia acusado os EUA de tentarem subjugar a Rússia, culpando o Ocidente pela derrubada de um presidente ucraniano apoiado por Moscou em fevereiro, e acusando Washington de incentivar protestos contra seu governo no inverno de 2011.
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