O ditador da Rússia, Vladimir Putin, e o presidente da Bolívia, Luis Arce, durante encontro em junho| Foto: EFE/EPA/KIRILL MOROZOV /SPUTNIK / KREMLIN
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No começo do mês passado, o presidente da Bolívia, Luis Arce, que recentemente enfrentou problemas sérios em seu país, incluindo uma suposta tentativa de golpe de estado, cujos responsáveis estão sendo investigados, encontrou-se com o ditador da Rússia, Vladimir Putin, em São Petersburgo, durante uma reunião que prometeu mais do que simples cortesias diplomáticas.

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Durante a conversa entre os dois líderes, que ocorreu no Palácio de Constantino, houve um claro direcionamento para fortalecer os laços bilaterais, com ênfase na exploração das vastas reservas de lítio da Bolívia pela Rússia. Além disso, ambos os países destacaram a importância de concluir a construção do centro de pesquisa nuclear em El Alto, um projeto ambicioso que está em marcha na Bolívia pelas mãos da gigante estatal russa Rosatom.

No encontro, Arce, que atualmente também enfrenta uma disputa política interna com Evo Morales, destacou o interesse da Bolívia em "ampliar sua cooperação" com a Rússia. Putin, por sua vez, reconheceu que o volume de comércio entre Rússia e Bolívia atualmente ainda é pequeno, mas expressou otimismo em relação ao potencial de crescimento dessa relação bilateral.

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A Bolívia possui uma das maiores reservas de lítio do mundo, estimadas em 23 milhões de toneladas, o que representa uma oportunidade estratégica significativa para ambos os países.

No ano passado, os bolivianos assinaram um acordo de mais de US$ 400 milhões com a Uranium One Group, uma empresa que pertence à Rosatom. Por meio deste acordo, a empresa russa obteve autorização para explorar o lítio boliviano na região de Salar de Uyuni, localizada no sudoeste do país sul-americano.

A Uranium One Group já está projetando a construção de uma planta industrial no local. Segundo Arce, essa instalação começará a funcionar a partir de 2025.

Conforme informações, a planta industrial passará por três fases de implementação. Inicialmente, ela deverá produzir até 1.000 toneladas de carbonato de lítio por ano, avançando gradualmente até alcançar 14.000 toneladas por ano na fase final.

Além da questão do lítio, Arce e Putin discutiram ainda a conclusão do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Tecnologia Nuclear que está sendo construído na cidade de El Alto, localizada no departamento de La Paz. Este projeto está em marcha desde 2018, também sob supervisão da empresa russa Rosatom.

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A instalação, que contará com um reator nuclear, está prevista para entrar em operação em meados de 2025, conforme afirmou Arce, que destacou também no encontro com Putin a importância do projeto, considerado por ele como “vital” para a “soberania tecnológica” da Bolívia.

Segundo a Rosatom, o centro está sendo construído por fases. A empresa disse em seu site que as duas primeiras fases dele já foram completadas. Elas incluem um departamento de medicina nuclear e radioterapia, inaugurado em 2022, e um centro de irradiação para melhoramento de sementes e controle de pragas, iniciado no ano passado. A terceira fase, a mais complexa, envolve o reator nuclear e deverá ser concluída até o começo do ano que vem.

"Esta é a mais delicada e mais longa", afirmou Arce sobre essa fase.

Além dos projetos envolvendo a exploração de lítio e do centro nuclear, o encontro entre Arce e Putin também abordou a importação de combustíveis, como diesel, para a Bolívia, já que o país enfrenta neste momento uma queda na produção nacional de hidrocarbonetos.

Arce também destacou os acordos no setor da educação que foram firmados com a Universidade de São Petersburgo. Tais acordos incluem a promoção de bolsas de estudos para os jovens bolivianos e também o envio de professores da universidade para ensinar o idioma russo no país.

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Há também planos para expandir a base comercial da Bolívia no mercado russo, com a exportação de produtos como café, palmito e chocolate.

Influência russa

Os acordos firmados entre Moscou e La paz podem simbolizar uma nova era de cooperação entre a Bolívia e a Rússia, que são observados com cautela pelos Estados Unidos, já que ela ocorre em um contexto de ampliação das relações internacionais do país sul-americano com o chamado “Eixo do Mal”.

A Bolívia também vem estreitando nos últimos anos seus laços com a China comunista e o regime islâmico do Irã.

Em abril deste ano, a ministra das Relações Exteriores da Bolívia, Celinda Sosa, visitou a China para fortalecer a cooperação bilateral em áreas como turismo, tecnologia e energia. Os chineses também tem um forte interesse pelas reservas de lítio do país.

Além disso, La Paz também já firmou no ano passado acordos com Teerã nas áreas de defesa e segurança, com os bolivianos demonstrando forte interesse em adquirir drones fabricados no Irã. Tal acordo gerou preocupações entre os vizinhos latino-americanos e também nos EUA.

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A afinidade política entre a Bolívia e a Rússia já estava se refletindo na postura do país sul-americano em órgãos internacionais, como as Nações Unidas, onde a Bolívia sempre se absteve de votar nas resoluções que condenavam a invasão russa na Ucrânia.

Segundo analistas, com esses acordos, Putin busca não apenas fortalecer a presença russa na América Latina, mas também assegurar recursos que atualmente são considerados como vitais para o futuro, como o lítio, uma matéria-prima essencial para a indústria de baterias e tecnologia de ponta.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]