Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Estratégia

Putin reacende o poderio militar russo

Curitiba – A Rússia esteve submersa em meio a várias polêmicas nesta semana. Primeiro, veio o anúncio da retomada das patrulhas aéreas utilizadas no período da Guerra Fria. Em seguida, o presidente russo Vladimir Putin anuncia um orçamento militar de US$ 200 bilhões para os próximos sete anos. E, por último, Putin é fotografado sem camisa e em diversas poses, no melhor estilo "Rambo", durante um passeio na Sibéria. Um cenário pra lá de propício para uma enxurrada de especulações no Ocidente e também na Rússia.

Ao exibir seu corpo másculo estaria Putin querendo aumentar ainda mais sua popularidade entre os russos, almejando permanecer no cargo além de 2008? Tecnicamente, Putin não pode se candidatar para um terceiro mandato – a menos que seja feita alguma alteração na Constituição (assim como ocorre hoje na Venezuela de Hugo Chávez). Após ter assumido a Presidência no lugar de Boris Yeltsin em 31 de dezembro de 1999, Putin venceu a eleição presidencial de março de 2000 e se reelegeu em 2004.

O que mais estremeceu o cenário da política internacional foi mesmo a retomada "permanente"dos vôos estratégicos de bombardeiros. Este tipo de operação militar havia sido deixado de lado em 1992, por falta de recursos que a região enfrentava pouco tempo depois da queda da União Soviética.

Moscou negou veementemente que o relançamento das patrulhas aéreas, como na época soviética, seja um retorno à Guerra Fria. "É um trabalho comum. Estamos voando com as mesmas normas de transparência que os amigos americanos", assegurou nesta semana o vice-premier russo, Serguei Ivanov.

Entre os analistas políticos há divergência. Para o especialista em Rússia e professor de História Contemporânea da Universidade de São Paulo (USP), Angelo Segrillo, o retorno das patrulhas aéreas é absolutamente normal. "O estranhamento com a volta dessa política ocorre hoje porque a Rússia teve de suspender as patrulhas aéreas nos anos 1990 devido aos altos custos deste tipo de operação. Foi por uma questão econômica."

A recuperação da economia russa nos últimos anos permitiu o retorno de uma política mais ativa com viés estratégico, ou seja, não é só uma "demonstração de força", diz Segrillo. Até 1998, a economia russa teve crescimento negativo e a queda do PIB foi maior do que a situação dos EUA durante a Grande Depressão nos anos 30, comenta.

Boris Yeltsin tinha uma postura pró-Ocidental e até certo ponto reativa e Putin assume no fim dos anos 1990 em um cenário favorável, com o aumento do preço do barril de petróleo, recorda. "É preciso lembrar que a Rússia também vê um Ocidente desconfiado, que adota políticas da Guerra Fria contra Moscou."

O Ocidente se viu surpreso diante da volta da patrulha aérea russa que há anos havia sido abandonada, diz Leonardo Arquimimo, pesquisador da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. "Esse movimento militar é estranho. Do ponto de vista estratégico é patético, porque Moscou usa relíquias da Guerra Fria nessa operação. É uma demonstração de força para mostrar que ainda existe capacidade militar dentro da Rússia."

Arquimimo argumenta que a Rússia ainda enfrenta grandes problemas em sua economia, com alto grau de dependência de importações, preços elevados ao consumidor final, falta de solidez e instabilidade. "A estratégia dos bombardeiros se revela uma ação de política externa para surtir efeito no ambiente doméstico. É a "sovietização", ou seja, se retiram práticas do passado comunista para ações contemporâneas. Um resgate do ideal da pátria soviética".

Por formação, Putin tem sensibilidade e afinidade com estratégias militares. A política ativa da Rússia ocorre num período conturbado em que os Estados Unidos praticam a política unilateral, diz Segrillo. "O reforço da postura militar propicia Moscou a dar uma resposta mais forte aos EUA". Putin é um político pragmático, estrategista. Ou seja, um bom jogador, descreve.

Boa parte do povo russo aprova o mandato de Putin por conta da recuperação econômica do país, o aumento real salários (que passaram a ser pagos em dia), lembra Segrillo. "Ele deixará o poder em 2008 com uma boa imagem, como aquele que colocou ordem na casa, um político centralizador, que até então a Rússia não tinha." Dentre os prováveis sucessores de Putin na Presidência estão o primeiro vice-primeiro-ministro Dmitri Medvedev e o também primeiro vice-premier e ex-ministro da Defesa, Serguei Ivanov.

Escudos antimísseis

Outra pedra no sapato da Rússia tem sido o plano dos Estados Unidos em instalar um escudo antimísseis no Leste Europeu, sob o argumento de defesa de possíveis ataques do Irã e Coréia do Norte. Moscou vê a iniciativa norte-americana como uma ameaça à segurança nacional. "A Rússia considera a proposta dos EUA uma afronta – representando uma ampliação do poder norte-americano na Europa Oriental, o que é determinante para o controle geopolítico do petróleo", analisa Arquimimo.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.