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A Rússia publicou decreto nesta segunda-feira (21) para enviar militares para as regiões de Donetsk e Lugansk, no leste da Ucrânia, logo após o anúncio do presidente Vladimir Putin de reconhecimento da independência das duas repúblicas autoproclamadas por separatistas pró-russos em 2014 na região de Donbass.
O decreto do Kremlin fala em forças para “manutenção da paz”, mas não está claro quantos militares seriam enviados, quais atividades desempenhariam e quando seriam deslocados para a Ucrânia.
Entretanto, um alto funcionário do governo dos Estados Unidos disse à CNN que as tropas russas devem se deslocar na noite desta segunda-feira ou na manhã de terça-feira (22) para Donbass.
O receio do Ocidente era que um pedido de ajuda militar por Donetsk e Lugansk fosse o pretexto que Putin procurava para invadir a Ucrânia. Moscou tem um histórico de intervenções militares para ajudar aliados políticos, como o envio de “forças de paz” para o Cazaquistão em janeiro para debelar protestos que o governo local classificou como “ameaça terrorista”.
No pronunciamento em que anunciou que a Rússia reconhece as repúblicas separatistas em Donbass, Putin descreveu que a “Ucrânia moderna” foi criada artificialmente pelos comunistas, na época da União Soviética, e que governos patrocinados pelo Ocidente estariam reprimindo a identidade russa em Donetsk e Lugansk.
Logo após Putin anunciar o reconhecimento das duas repúblicas separatistas, a secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, divulgou comunicado informando que o governo americano emitirá uma ordem executiva para proibir novos investimentos, comércio e financiamento por pessoas dos Estados Unidos nas “chamadas regiões das repúblicas populares de Donetsk e Lugansk” e para fornecer autoridade “para impor sanções a qualquer pessoa determinada a operar nessas áreas da Ucrânia”.
Washington também adotará em breve medidas adicionais relacionadas “à flagrante violação de hoje dos compromissos internacionais por parte da Rússia”.
“Para ficar claro: essas medidas são separadas e seriam adicionais às medidas econômicas rápidas e severas que estamos preparando em coordenação com os aliados e parceiros caso a Rússia invada ainda mais a Ucrânia”, destacou Psaki.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse em entrevista coletiva que o reconhecimento russo era “um mau presságio e um sinal muito sombrio” e “mais uma indicação de que as coisas estão indo na direção errada na Ucrânia”.
“É claramente uma violação do direito internacional, é uma violação flagrante da soberania e integridade da Ucrânia. É um repúdio ao processo [de paz] de Minsk e aos Acordos de Minsk”, argumentou o premiê.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, apresentou o mesmo argumento no Twitter. “O reconhecimento dos dois territórios separatistas na Ucrânia é uma violação flagrante do direito internacional, da integridade territorial da Ucrânia e dos Acordos de Minsk. A União Europeia (UE) e os seus parceiros reagirão com unidade, firmeza e determinação em solidariedade à Ucrânia”, afirmou.
Josep Borrell, alto representante da UE para Assuntos Estrangeiros e Política de Segurança, acrescentou que colocará um “pacote de sanções na mesa dos ministros” europeus.
Os Acordos de Minsk, mencionados por Johnson e Leyen, visam a resolução do conflito entre Kiev e separatistas no leste ucraniano (no qual mais de 14 mil pessoas foram mortas desde 2014) e reconhecem como parte da Ucrânia os territórios hoje controlados pelos separatistas.
O anúncio de Putin de reconhecimento da independência das repúblicas de Donetsk e Lugansk foi o ponto crítico de mais um dia de escalada das tensões entre Rússia e Ucrânia.
Mais cedo, a Rússia alegou ter matado cinco membros de um suposto grupo ucraniano de sabotagem e reconhecimento que teria entrado em território russo e que um projétil disparado a partir da Ucrânia teria destruído completamente um posto avançado de fronteira na região de Rostov. Kiev refutou as duas informações.
Além disso, os Estados Unidos denunciaram às Nações Unidas que a Rússia teria elaborado uma lista de cidadãos da Ucrânia que poderiam ser assassinados ou detidos em caso de uma invasão russa.
Em comunicado, o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, lembrou que em 2015 o Conselho de Segurança das Nações Unidas, que inclui a Rússia, “reafirmou seu pleno respeito pela soberania, independência e integridade territorial da Ucrânia” e que “Donetsk e Lugansk fazem parte da Ucrânia”.
“Moscou continua a incentivar o conflito no leste da Ucrânia, fornecendo apoio financeiro e militar aos separatistas. Também está tentando encenar um pretexto para invadir a Ucrânia mais uma vez”, acusou Stoltenberg, antes da notícia sobre o envio das tropas russas para Donbass.