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Ásia

Quais são os recursos militares na fronteira disputada entre Índia e China

Um caça indiano sobrevoa montanhas perto de Leh, a capital conjunta do território de união de Ladakh, 22 de junho de 2020 (Foto: Tauseef MUSTAFA / AFP)

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Semanas de escalada de provocações na fronteira entre China e Índia culminaram em um choque entre patrulheiros dos dois lados que deixou mortos e feridos na região montanhosa de Ladakh, na segunda-feira. Houve troca de acusações entre Pequim e Nova Délhi, que se comprometeram a esfriar as tensões.

Os eventos geraram especulações sobre a possibilidade de um conflito militar propriamente dito entre as duas potências nucleares. Imagens de satélite mostram os dois lados reforçando suas posições – mas não confirmam algumas das alegações mais extremas, como a de que milhares de chineses tinham ocupado território indiano.

As tropas andam desarmadas na fronteira no Himalaia, em cumprimento a um acordo bilateral firmado em 1996. Por isso, os soldados indianos e chineses usaram armas improvisadas no confronto, como pedaços de paus e pedras. Pelo menos 20 indianos morreram e o número de baixas no lado chinês não é conhecido - a China frequentemente reluta em divulgar esses dados.

Após o confronto, os ministros de Relações Exteriores dos dois países conversaram e concordaram em reduzir as tensões, emboram os dois lados tenham acusado um ao outro de serem responsáveis pelas mortes.

Os dois vizinhos há décadas disputam linhas de fronteira mal definidas que foram estabelecidas em grande parte pelos britânicos. Nenhum dos dois aceita completamente o desenho da fronteira atual, que é chamada de Linha de Controle Real.

Especialistas apostam que a crise não deve levar a uma guerra declarada, mas pode significar meses de provocações e conflitos na fronteira. As condições da região remota e de terreno acidentado limitam ações militares; a logística é complicada e as tropas precisam de vários dias para se aclimatar à altitude.

Enquanto a Índia prepara suas tropas e armamentos para uma possível escalado do conflito, o ministro da Defesa indiano viajou para a Rússia nesta segunda-feira para reforçar a cooperação militar entre os países e negociar uma compra de emergência de peças para suas aeronaves e tanques de origem russa. Segundo o Indian Today, as peças são para caças Sukhoi-30MKi e tanques de batalha T-90. A Índia também busca um adiantamento da entrega de sistemas de defesa antiaérea S-400 da Rússia, que está atrasada por problemas no pagamento.

Na sexta-feira (19), o primeiro-ministro indiano Narendra Modi disse que o seu país está "ferido e furioso" após o choque e alertou que o exército tem liberdade total para responder a qualquer ato de violência.

Em caso de um conflito militar grave, analistas acreditam que as forças chinesas estariam em vantagem, segundo a Foreign Policy. Mas a Índia se envolve em disputas frequentes com o Paquistão e talvez tenha maior experiência militar do que a China, que não combate em uma guerra desde a invasão do Vietnã em 1979.

Especialistas chineses ouvidos pelo Global Times, jornal ligado ao Partido Comunista da China, disseram que os indianos que estão se gabando de preparativos para as forças armadas e de negociações diplomáticas estão "cegamente otimistas". Para eles, o lado indiano se recusa a reconhecer a superioridade de armamentos e pessoal militar da China em relação à Índia.

Na falta de comunicações oficiais precisas de Nova Délhi e Pequim, surgiram especulações e informações conflitantes. Entre essas estava a alegação de que 10 mil soldados do Exército de Liberação Popular da China atravessaram a Linha de Controle Real e estavam ocupando território indiano que não faz parte das áreas disputadas. No entanto, imagens de satélite não comprovaram essa afirmação.

O Australian Strategic Policy Institute analisou imagens de satélite e disse que, embora a realidade não seja tão dramática como o que foi especulado, há "evidências que indicam fortemente que forças do Exército de Libertação Popular regularmente atravessaram para o território indiano temporariamente em rotas de patrulha de rotina". Ambos os lados continuamente aumentaram os números de tropas e posições militares em todas as áreas chaves perto da fronteira, disse ainda o instituto.

Uma análise do think tank britânico International Institute for Strategic Studies (IISS) também reuniu evidências significativas de que os dois países reforçaram os seus postos nos seus lados da fronteira, nos quatro pontos principais da Linha de Controle Real onde ocorrem as tensões.

O Exército da China possui três companhias de defesa de fronteira próximas à área de Aksai Chin, além de uma esquadra de barcos de patrulha no Lago Pangong. Essas unidades totalizam de 500 a 600 militares. Nas circunstâncias atuais, provavelmente foram destacados reforços para a área, aumentando as forças para 1.000 a 1.500, segundo o IISS.

O Exército chinês também mobilizou forças de combate adicionais para a região, além das forças de patrulha.

No final de maio, companhias de tanques de batalha e baterias de artilharia de campanha haviam sido mobilizadas para as posições chinesas em um dos quatro pontos de tensões na fronteira, no norte e no leste de Gogra.

No setor do Rio Galwan, uma companhia pequena de soldados chineses foi retirada de um ponto de patrulha no final de maio e o principal acampamento do Exército foi instalado 3 quilômetros mais para o interior do território ocupado pela China. Esse é o local do confronto entre as tropas que terminou em morte. "Há poucos indícios de que esse destacamento esteja equipado com armamento ou artilharia e a estrada planejada pela China ao longo do vale permanece inacabada, complicando a capacidade do ELP de manter uma presença mais substancial nessa área no momento", diz o IISS.

Já a situação na margem norte do Lago Pangong parece ser a maior barreira para o sucesso das conversas para reduzir as tensões. Desde o começo de maio, a China reforçou a presença nessa área disputada.

O site indiano The Print relatou que os chineses começaram a construir uma estrutura semelhante a um fosso para impedir que os indianos patrulhem a área.

A margem norte do lago, com 134 quilômetros de extensão, tem algumas saliências chamadas de "dedos". A Índia alega que a Linha de Controle Real está no Dedo 8, enquanto a China diz que está no Dedo 2. Os chineses aumentaram a presença entre os Dedos 3 e 4, onde teriam construído o fosso que impede a passagem indiana.

"Essa aparente tentativa de solidificar o controle chinês sobre a área disputada agora parecer ser o principal ponto de contenção entre os dois lados", avaliou o IISS.

Os ministros de Relações Exteriores da Índia, China e Rússia terão uma videoconferência na terça-feira (23) para tentar buscar uma solução para a crise.

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