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Imagens que costumávamos ver apenas nos livros de história estão sendo transmitidas ao vivo 24 horas por dia em todas as plataformas de mídia. Tanques marchando pelas ruas e cidades europeias sendo bombardeadas, enquanto mulheres e crianças procuram segurança em comboios de refugiados ou em abrigos subterrâneos improvisados. Em meio a toda a propaganda, perguntas cruciais devem ser respondidas.
Qual é o objetivo final de Putin? Os ucranianos podem sobreviver? E qual deve ser a nossa posição diante disso?
Praticamente em uma vida anterior, servi ao Exército Territorial Britânico em uma unidade cuja missão era estudar as forças russas, entender sua doutrina e se preparar para a Terceira Guerra Mundial. Desde então, atuo como professor do Departamento de Defesa dos EUA, na Universidade do Corpo de Fuzileiros Navais, especializado em contraterrorismo e guerra irregular. Isso me levou a ser estrategista da Casa Branca para o único presidente deste século que cumpriu um mandato durante um período em que Moscou não invadiu os países vizinhos. [O autor se refere ao ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump.]
As respostas a seguir e a análise estratégica são baseadas na minha compreensão de todos os atores envolvidos, e também são construídas em discussões que tive nos últimos dias com um indivíduo que é o Kremlinologista mais respeitado do Reino Unido. Também é o líder sênior do governo dos EUA que dirige o programa projetado para fazer as forças armadas entenderem seus inimigos globais. (Sem citar nomes, por enquanto.)
Essas são as nossas descobertas:
1. Vladimir Putin sempre quis reconstituir o máximo possível da União Soviética.
Ele é um ex-coronel da KGB que chamou a perda da URSS de “a maior tragédia geopolítica do século 20”. Ele não é louco, nem está agindo irracionalmente como resultado do abuso de drogas ou corticoides. Suas ações recentes são a culminação natural de sua retórica antiOcidente de muitas décadas e declarações sobre a ilegitimidade de uma Ucrânia independente. No entanto, Putin perdeu contato com o sentimento público na Rússia. Está petrificado com a COVID-19, não faz nenhum evento público há dois anos e, portanto, está mais isolado do que nunca.
2. Até agora, o exército russo teve um péssimo desempenho.
Apesar da recente modernização sob o programa Ratnik (após o fraco desempenho durante as invasões russas da Geórgia e da Crimeia), tanques de guerra ficaram diversas vezes sem combustível durante a invasão e não conseguiram fazer movimentações básicas para evitar ataques. No entanto, apenas um terço das forças foram deslocadas até a fronteira da Ucrânia, então ainda há um reforço considerável de soldados e equipamentos. Além disso, as melhores unidades de recrutamento não teriam sido enviadas nesta primeira onda da invasão.
3. A Europa está mais unida
A Europa está mais unida do que durante os desdobramentos do combate pós-11 de setembro no Afeganistão.
Mesmo nações historicamente neutras como a Finlândia e a Suíça tomaram a decisão de armar a Ucrânia e sancionar Moscou. No entanto, um realinhamento geopolítico está ocorrendo em outros lugares. A Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos se recusaram a ficar do lado do Ocidente e da Ucrânia. As intenções da Índia e do Paquistão não são claras, e Israel se recusa a denunciar vigorosamente as ações de Putin.
4. Volodymyr Zelensky é o líder ideal
Ele é exatamente o tipo de líder necessário agora em Kiev, um homem obviamente corajoso com o necessário conhecimento da mídia com carisma para reunir seu povo e a comunidade internacional. Embora ele não seja corrupto, muitos ao redor dele são. E foi muito inteligente em ficar no país enviando o orador parlamentar para o exterior. O enviado poderia ser o núcleo de um governo ucraniano no exílio (como o general Charles de Gaulle foi para os franceses durante a ocupação nazista da França na Segunda Guerra Mundial). Tal governo no exílio seria indispensável para dar esperança aos que estão em casa e concentrar a ajuda ocidental aos combatentes na Ucrânia.
5. Armas nucleares podem entrar em cena
Em termos de escalada, armas nucleares táticas não estão fora de questão. As armas nucleares soviéticas costumavam estar sob o controle do Partido Comunista. Com a dissolução da União Soviética, o Exército russo controla essas armas agora, e não mais o Politburo (comitê comunista), que era muito mais rigoroso. Se as coisas correrem mal para Moscou, os generais podem decidir usar armas nucleares de curto alcance. (Nota: O cenário para o grande exercício militar Zapad da Rússia em 2009 incluiu um conflito sobre o envolvimento polonês em Belarus, que culminou em tropas russas em solo polonês e o lado russo lançando um ataque nuclear em Varsóvia).
O papel da América
A Rússia invadiu uma nação pacífica e independente. Se for permitido anexar a Ucrânia, Putin não vai parar por aí, assim como Hitler não parou depois da anexação dos Sudetos, do Anschluss austríaco ou da invasão da Polônia.
Embora a Otan atualmente não possa invocar o Artigo 5 do sistema de defesa coletiva da aliança, uma vez que a Ucrânia não é membro da Otan, há passos importantes que devemos tomar e cenários para os quais devemos nos preparar:
A) A Ucrânia precisa de armas do Ocidente. E munições. Muitas. Especialmente sistemas de combate a tanques que são simples, como os Javelins que o presidente Trump deu a Kiev quando era o comandante-chefe. Eles precisam de mais do que podem realmente usar agora, em vez de receber novas armas para as quais não estão treinados.
B) Os Estados Unidos têm capacidades inigualáveis de inteligência, vigilância e reconhecimento, com satélites em tempo real e inteligência de sinais. A Ucrânia precisa desesperadamente fazer sangrar as forças invasoras russas. Será difícil para Moscou manter uma ocupação efetiva de longo prazo se suas linhas de reabastecimento e redes de comando e controle forem alvos precisos da resistência ucraniana. A Otan deve fornecer essa inteligência ao governo Zelensky no direcionamento contra os invasores.
C) O mercado de ações russo perdeu mais de 50% de seu valor real desde que Putin invadiu e o Ocidente sancionou Moscou. No entanto, as nações ocidentais ainda estão financiando a guerra da Rússia. Até esta semana, só os Estados Unidos importavam diariamente mais de 600.000 barris de petróleo russo e derivados. Isso deve parar. Do jeito que está, o oleoduto Keystone XL do Canadá, que foi fechado no primeiro dia de mandato de Biden, forneceria 800.000 barris por dia para consumidores americanos. Todas as nações decentes ao redor do mundo devem parar de importar petróleo da Rússia imediatamente. Esta é a única maneira de realmente ferir Putin antes da Otan iniciar uma guerra com Moscou.
Finalmente, devemos todos nos preparar para uma guerra de longo prazo. E para coisas que antes considerávamos inconcebíveis acontecendo na vida real.
*Sebastian Gorka, Ph.D., é ex-vice-assistente de estratégia do presidente Trump, apresentador do programa “America First” e “The Gorka Reality-Check” no Newsmax. Seu último livro é “The War for America’s Soul” [A Guerra pela alma dos EUA].