O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou no domingo (18) que pediu a seu governo que explore a possibilidade de comprar a Groenlândia da Dinamarca, e disse que, em sua opinião, este seria "um grande negócio imobiliário".
"Muitas coisas podem ser feitas", disse Trump a repórteres em Morristown, Nova Jersey. Ele observou que ter a Groenlândia "seria bom" para os Estados Unidos do ponto de vista estratégico, mas advertiu: "não é prioridade". O presidente vai visitar a Dinamarca em duas semanas, mas disse que sua viagem não está relacionada a seu interesse pela Groenlândia.
Trump também falou que ser a dona da Groenlândia está "fazendo muito mal a Dinamarca" e que "eles a carregam com grande prejuízo", embora ele não tenha fornecido evidências para respaldar essas alegações.
O desejo de Trump de comprar a Groenlândia, que faz parte do reino da Dinamarca, foi divulgado pela primeira vez na semana passada pelo Wall Street Journal. Duas pessoas com conhecimento da diretiva disseram ao Washington Post que o presidente mencionou a ideia há semanas e que os assessores estão aguardando mais orientação antes de decidirem a seriedade com que devem analisá-la.
Interesse ao longo dos séculos
O interesse na ilha coberta de gelo, porém, não vem de hoje. Em 1860 os EUA estavam de olho para comprar a Groenlândia e a Islândia, com a ideia de tentar cercar o território do Canadá e convencê-los a se juntar aos EUA. O negócio não foi fechado e em 1917, os EUA reconheceram a soberania da Dinamarca sobre a Groenlândia. Mas logo depois, a maior ilha do mundo adquiriu importância estratégica para os EUA novamente, desta vez como base para aviões de guerra durante a Segunda Guerra Mundial.
A bomba atômica tornou a Groenlândia ainda mais estratégica. Nos anos pré-míssil, era especialmente importante ter uma base para bombardeiros perto das fronteiras de um adversário, e a Groenlândia estava perto o suficiente da União Soviética que os EUA poderiam ameaçar toda a parte europeia da Rússia. O local também era uma base ideal para voos de reconhecimento.
Os EUA tentaram comprar a Groenlândia novamente, mas uma oferta de US$ 100 milhões ao governo dinamarquês em 1946 não deu em nada, embora a ilha abrigasse apenas cerca de 600 dinamarqueses na época. Os EUA, porém, não precisaram comprar a ilha. A formação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), da qual a Dinamarca era membro fundador, e um acordo bilateral de defesa firmado em 1951 permitiram que os EUA estabelecessem a presença militar que necessitavam na Groenlândia.
O que a Groenlândia representa para os EUA hoje?
A base aérea de Thule foi construída no noroeste da Groenlândia. Agora, os EUA usam esse local como parte de um sistema de alerta em caso de um ataque nuclear russo. Mas o significado estratégico da Groenlândia está em ascensão novamente.
As mudanças climáticas estão apresentando novos desafios geopolíticos para as grandes potências mundiais no Ártico, onde o derretimento de geleiras está abrindo novas oportunidade para rotas comerciais e de acessibilidade a recursos naturais que lá estão.
A China declarou-se uma "nação quase ártica" no ano passado e defendeu seu desejo de uma "Rota da Seda Polar", na qual os produtos chineses seriam entregues por via marítima da Ásia à Europa. Recentemente, o país se mostrou interessado em financiar a construção de três aeroportos na Groenlândia, despertando preocupação do então secretário da Defesa dos EUA, Jim Mattis. Na época, o Pentágono defendeu que era a Dinamarca que deveria financiar as instalações, em vez de depender de Pequim.
Além disso, o recente estabelecimento da Rússia no Ártico, tanto com presença militar quanto civil, também está deixando os EUA para trás. Uma presença mais forte dos americanos na região do que apenas uma base da Força Aérea na Groenlândia tornaria mais difícil para a Rússia selar o controle da Rota do Mar do Norte e se unir à China para monopolizá-la. Segundo o Instituto de Varsóvia, a rota é vital para a política energética da Rússia.
Em junho, o Departamento de Defesa dos EUA divulgou sua estratégia para o Ártico, identificando o seu desejo por "uma região segura e estável na qual os interesses de segurança nacional dos EUA sejam salvaguardados, a pátria dos EUA seja defendida e nações trabalhem cooperativamente para enfrentar desafios compartilhados".
Haverá negócio?
A Groenlândia não será vendida para os Estados Unidos. A Dinamarca já disse que não tem intenção de vendê-la e as 56 mil pessoas que moram lá provavelmente não gostariam de mudar para a cidadania americana, caso houvesse um referendo. Uma lei dinamarquesa dá ao governo autônomo da ilha "direitos fundamentais em relação aos recursos naturais da Groenlândia". Muitos moradores esperam que o controle sobre esses recursos acabe por formar a base da independência da Groenlândia, e eles não têm problema em esperar por essa oportunidade sob o governo benevolente da Dinamarca.