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Londres – Estranho mas verdadeiro – um mineral com quase as mesmas propriedades químicas da criptonita (aquela pedra que aterroriza o Super-Homem) foi recentemente descoberto na Sérvia e agora repousa no hall de História Natural do Museu de Londres com o apelido inofensivo de "Jadarita".

Em paralelo a essa descoberta, foi anunciado que o curso de Medicina da Universidade de Harvard está conduzindo experimentos que devem levar ao desenvolvimento de uma visão biônica quase humana, um projeto estimado em US$ 6 milhões. Este experimento consiste de um olho protético que estimula os centros visuais do cérebro e mapeia os resultados. Além disso, cientistas da Universidade de Bonn anunciaram na revista New Scientist que os implantes de retina, os quais estão desenvolvendo, já estão sendo considerados por visionários como a última palavra em reabilitação visual.

A pesquisa é médica mas, num futuro não muito distante, inovações como essas nos darão computadores "vestíveis": um olho que é uma câmera real e acesso à internet num piscar de olhos.

Após ficar décadas estagnada, a ficção científica parece que finalmente está se tornando um fato, exatamente como os roteiristas e diretores de cinema da década de 20 estavam convencidos que ela viraria. O robô Robbie não é mais um brinquedinho motivo de deboche. O robô, que foi desenhado e feito nos moldes "sci-fi", pode estar um pouco defasado, mas ninguém o considera mais um brinquedo idiota de faz-de-conta. Soldados-robô já foram empregados no Iraque e Afeganistão e, quando não são mais necessários no campo de batalha, podem ser armazenados a custo mínimo.

Mês passado, a Defesa de Israel revelou o VIPeR, que não parece muito com o Arnie (a máquina é do tamanho de uma televisão pequena), mas, aparentemente, pode entrar na zona de combate sozinha, se aproximando do inimigo com um arsenal que inclui uma pistola automática e granadas. O exército sul-coreano criou, ano passado, um guardião de fronteira robô capaz de acertar alvos a mais de 500 metros de distância.

A tecnologia também pode ser usada para fins mais pacíficos. Alan Winfield, professor de Engenharia Eletrônica da Universidade de West England, em Bristol, disse nesta semana que robôs móveis podem ser usados em breve como babás eletrônicas para crianças e também para auxiliar idosos.

Para quem não se encontra nessas faixas-etárias, resta o RoCo, o primeiro computador no mundo capaz de se "expressar", desenvolvido no laboratório de mídia do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT). Esse computador é um "companheiro desktop" que "sabe" quando você está feliz ou irritado: se você estiver se sentindo para baixo e triste, o monitor olha para baixo, quando você se anima, o monitor balança para frente e para cima (como um cachorrinho).

O que mais perturba, no entanto, são pesquisas recentes que mostram que máquinas "entendem" como um menino real "funciona", apesar de a ciência ainda não ter criado um menino artificial que queira ser real, como no filme Inteligência Artificial, fábula tocante de Stephen Spielberg e Stanley Kubrick.

No começo deste ano, uma equipe de neurocientistas de Oxford e da University College London anunciaram o desenvolvimento de uma técnica poderosa que os permite "olhar" profundamente dentro do cérebro e ler a intenção das pessoas antes delas agirem. O que aconteceria se técnicas desse tipo pudessem possibilitar o escaneamento do cérebro de uma criança de 5 anos e dizer se ela estaria destinada a ser um criminoso? E se o governo fizer rondas no jardim de infância para identificar "possíveis infratores", antes mesmo que eles tenham tido a chance de cometer a infração? Isso nos parece algo que é ficção cientifica "demais" agora. Uma visão de um Estado totalmente totalitário. Porém, vale lembrar que esse plano foi aprovado há duas semanas, no mundo real, pelo Ministério do Interior da Inglaterra.

No filme Minority Report, o Departamento Pré-Crime no ano de 2054 baseia-se nas previsões de um pequeno grupo de "sensitivos" e usa isso para justificar uma pré-prisão. No mundo real, essa lógica de "pré-visão" levaria ao descrédito das informações quando o "pré-réu" fosse levado ao tribunal. Talvez pesadelos como Minority Report, onde somos convidados a aceitar as ações do Departamento Pré-Crime como normais, sejam mais significativos do que relatórios empolgados de tecnologia de ficção cientifica virando um fato.

Pois é assim que o futuro vai acontecer para nós: a nova "engenhoca" faz uma onda, os anúncios empolgados ganham um pouco de espaço na mídia e então, devagarzinho, enquanto ninguém presta atenção, a realidade se mexe e muda nossos códigos morais, nossas próprias idéias sobre livre-arbítrio, responsabilidade, privacidade e até mesmo sobre o que nos distingue como humanos. Muito tempo atrás, em 1980, um novo tipo de ficção entrava em cena: "Cyberpunk". Para fãs do gênero era como uma supernova varrendo para fora do espaço todas as velhas naves espaciais, robôs a vapor e aliens cheios de tentáculos. Para quem quer saber do que eu estou falando, basta ver o futuro cyberpunk na obra negra e elegante de Ridley Scott chamada Blade Runner.

O manifesto cyberpunk dizia algo mais ou menos assim: no futuro previsível não existirão aliens e nem viagens a planetas distantes. A tecnologia digital é que vai ficar melhor a cada dia numa velocidade incrível, "vomitando" invenções que não ficarão só na mão dos ricos. Elas serão imediatamente absorvidas pela "rua". Qualquer "pivete" vai ter um supercomputador no bolso, e tudo no mundo vai ficar bem pior. Veja você que isso foi dito bem antes dos PCs desktop, e quando ninguém nem pensava em câmeras de vídeo digitais portáteis e acesso a internet Wi-Fi.

Muitos dos defensores de ficção científica odiavam os cyberpunks. Ficção científica era para trazer progresso e avanços tecnológicos que iriam inevitavelmente criar um mundo melhor. Mas os cyberpunks estavam certos, e a verdade que eles pregavam é altamente relevante para que este novo século de ficção científica se torne verdade. Se uma criança na idade de 5 anos é identificada como uma delinqüente, e for criada nessa visão, é bem provável que ela venha, de fato, a ser uma delinqüente. Nossas invenções são exatamente como as crianças. Elas têm o potencial de serem maravilhosas, de ultrapassar todas as expectativas. Mas as crianças (e os robôs) não crescem inteligentes, afetivas, prestativas e bem intencionadas sozinhas. Depende de nós decidir se os poderes de seus cérebros vão controlar uma mão que afaga ou joga granadas.

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