Moradores coletam água do lado de fora de uma barraca de chá em Ahmedabad, estado de Gujarat, Índia, em 24 de novembro de 2018| Foto:

Vikram Singh está acostumado à tirania de elementos que não pode controlar, desde as chuvas que não caem até os insetos que devoram suas colheitas. Ultimamente, outro problema incontrolável está atormentando sua família — o aumento dos preços.

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"Tudo subiu", disse Singh em uma tarde recente, enquanto seus familiares colhiam o algodão escasso em suas terras no estado indiano de Gujarat. Ele listou os itens que custam mais: a lentilha, item básico da dieta de sua família, os bolos de óleo de algodão que alimentam suas vacas leiteiras, fertilizante, diesel para o trator, roupa e mensalidade escolar para seus quatro filhos.

Em toda esta nação de mais de 1,3 bilhão de pessoas, como em muitos países em desenvolvimento do mundo, outras versões desses problemas estão diminuindo fortunas.

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A alta dos preços reflete uma mudança global, à medida que o Federal Reserve americano — conhecido, não à toa, como o banco central do mundo — eleva constantemente as taxas de juros. Os investidores estão tirando dinheiro de países em desenvolvimento, mais arriscados, e investindo em economias mais seguras, mais estabelecidas, como a dos Estados Unidos. Isso derrubou o valor da moeda na Argentina, na Turquia e na Índia, deixando artigos básicos mais caros para famílias e negócios, ao mesmo tempo em que amplia o débito.

"Os agricultores estão perdendo dinheiro. Estamos apenas sobrevivendo. Ganhamos menos e gastamos mais", disse Singh.

Vacas magras

À medida que o dinheiro abandona os mercados emergentes, a atividade comercial vai diminuindo, ampliando as preocupações sobre uma desaceleração mais ampla do crescimento da economia global. Tais preocupações se somam aos problemas em mercados de ações em todo o mundo, incluindo o americano, quando os investidores percebem a probabilidade de tempos mais magros.

A mudança no fluxo do dinheiro foi em parte projetada por pessoas em Washington, a quase 13 mil quilômetros de distância da plantação de Singh no oeste da Índia. O banco central dos EUA vem aumentando as taxas de juros, pondo um fim à era do dinheiro barato desencadeada há uma década, quando o mundo mergulhou na pior crise financeira desde a Grande Depressão.

Quando as taxas eram efetivamente zero, os investidores se espalharam pelo globo em busca de retornos mais elevados, apostando alto em países de risco que ofereciam bom retorno — entre eles a Índia —, e com isso sustentando o valor das moedas. Agora que o Fed inverteu o curso, o dinheiro está voltando para os Estados Unidos, fortalecendo o dólar e deprimindo muitas moedas do mercado emergente.

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Em 2017, os investidores globais puseram US$ 315 bilhões em mercados de ações e títulos das economias emergentes, sem contar a China, de acordo com uma análise da Oxford Economics em Londres. Em 2018, o fluxo caiu para US$ 105 bilhões até outubro. Muitas economias enfrentaram reversões, com a da Turquia, Argentina, Índia, Indonésia, Malásia, Tailândia e África do Sul, todas vendo declínio geral.

"Você tem o coquetel de riscos perfeito para os mercados emergentes", disse Nafez Zouk, principal economista de mercados emergentes da Oxford.

Vulnerabilidade

Essa reviravolta expôs muitos países a uma situação dolorosa, contribuindo para crises na Turquia e na Argentina. Em ambos os países, a queda repentina das moedas deixou empresas que fizeram empréstimos em dólares com dívidas impossíveis. A Argentina foi forçada a aceitar um resgate de US$ 50 bilhões do Fundo Monetário Internacional.

A Índia não está em perigo iminente. Dados oficiais mostram a economia se expandindo a mais de 7% ao ano, embora o ritmo esteja diminuindo. A taxa de inflação oficial, abaixo de 4%, não configura uma emergência.

Mas, além desses números, há problemas significativos que fazem o dinheiro deixar a Índia, pressionando famílias e empresas.

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Como a Índia importa mais do que exporta, os efeitos são poderosos. Qualquer aumento no custo, qualquer fator que desencoraje as empresas a contratar, pode ameaçar um país em que uma em cada cinco pessoas sobrevive com não mais de US$ 1,90 por dia, de acordo com o Banco Mundial.

"A Índia é um país muito vulnerável ao reajuste das taxas de juros globais", disse Joseph E. Stiglitz, economista da Universidade de Columbia em Nova York, ganhador do prêmio Nobel e economista-chefe do Banco Mundial.

A Índia importa mais de 80% de seu petróleo. O preço do petróleo bruto Brent – referência global – mais que duplicou desde o início de 2016, e esse preço é fixado em dólares. O aumento, combinado com um declínio de 10% no valor da rupia em 2018, elevou o custo de produtos baseados em petróleo, desde o combustível até os produtos químicos usados por áreas importantes da indústria indiana.

Há cada vez mais preocupação com o aumento da dívida, enquanto o governo do primeiro-ministro Narendra Modi libera gastos destinados a ganhar apoio popular antes das eleições em 2019. Empréstimos ruins também sufocam um sistema bancário ainda dominado pelo governo.

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Indústrias em perigo

Em Gujarat, estado natal de Modi e um centro de negócio, muitas indústrias locais precisam de importações para sua produção – especialmente produtos petrolíferos. A maior cidade do estado, Ahmedabad, uma metrópole de 6 milhões de pessoas, é o lar de fábricas que produzem plásticos, desde materiais para embalagem até o usado para cobrir estufas.

Muitos dos produtos petrolíferos necessários tiveram seu preço elevado em até 35 por cento. Ao mesmo tempo, a grande oferta de fábricas de plásticos em todo o mundo impediu os produtores de aumentar os preços, prejudicando as margens de lucro.

"Fomos muito afetados", disse Jigish Doshi, presidente da Fundação Plastindia, uma aliança de grupos de comércio da indústria do plástico que coletivamente representa mais de 50 mil dessas empresas em todo o país.

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A própria empresa de Doshi, o grupo Vishakha, fabrica tubos plásticos usados na irrigação. A queda da rupia elevou o custo das matérias-primas em 15% ao longo do ano passado. "Estamos diminuindo nosso ritmo de produção", disse ele.

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Em uma concessionária Mercedes-Benz no centro de Ahmedabad, a equipe de vendas teme que a rupia mais fraca tenha inflado os custos dos veículos. Os modelos superiores são importados das fábricas na Alemanha.

A dois quarteirões de distância, em uma área tomada pelo lixo e com vista para o logotipo da concessionária Mercedes, cerca de 600 pessoas vivem sem eletricidade em barracos feitos com tábuas, plástico e placas de alumínio corrugado. As mulheres lavam panelas usando a água trazida uma vez por dia por um caminhão pipa municipal. As crianças brincam com gravetos na lama por falta de brinquedos.

Custos em alta

A maioria das famílias é de migrantes de aldeias que sobrevivem como catadores, ganhando menos de US$ 3 por dia, vasculhando ruas da cidade em busca de materiais descartados que possam vender – garrafas de plástico, papel, metal.

Laxman Gohel, de 38 anos e dois filhos, poupou o suficiente com essa atividade para abrir uma loja de chá. Ele ferve a água em um fogo a carvão, e vende cerca de 1.500 rupias por dia (por volta de US$ 21). Mas o preço do carvão vegetal mais que dobrou no ano passado, deixando-o com talvez 300 rupias de lucro diário. Ele não pode repassar os custos.

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"Essas pessoas pobres não podem me pagar mais", disse ele.

Em um beco, Shahbaz Ansari, 17 anos, trabalha meio período consertando pneus de caminhão na tenda de seu pai. Ele está no último ano do ensino médio. Após a formatura, quer trabalhar em um escritório com ar-condicionado.

Gohel zombou. "Você tem dinheiro para pagar o suborno para conseguir um emprego? Ninguém consegue um emprego depois do ensino médio."

Mesmo os filhos da classe média se preocupam com a diminuição das oportunidades.

Tomando um suco comprado em uma barraca na calçada, quatro alunos de um programa de três anos na faculdade de administração expressaram o receio de que o curso talvez não garanta o emprego que desejam.

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"A rupia está caindo dia a dia", disse Vatsal Thakkar, 18 anos. "Os salários estão diminuindo, então estou pensando em ir para o Canadá."