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oriente médio

Quase 300 morrem e 1,4 mil são feridos em confrontos no Egito

Violência no Egito deixou rastro de mortos e feridos, mas o governo disse que a polícia agiu com “toda moderação” | Asmaa Waguih/Reuters
Violência no Egito deixou rastro de mortos e feridos, mas o governo disse que a polícia agiu com “toda moderação” (Foto: Asmaa Waguih/Reuters)
Apoiadores do ex-presidente Mohamed Mursi, deitados no chão, são presos pela polícia |

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Apoiadores do ex-presidente Mohamed Mursi, deitados no chão, são presos pela polícia

Testemunhas contam que a movimentação de soldados e policiais na capital egípcia começou em silêncio, ainda na madrugada de ontem. Por volta das 7 h (1 h de Brasília), as forças de segurança do governo partiram para o desmonte violento de dois acampamentos de partidários do presidente deposto Mohamed Mursi e da Irmandade Muçulmana — provocando o que os islamitas chamaram de massacre.

Soldados do Exército se encarregaram de cercar os alvos enquanto grupos de policiais, uniformizados e à paisana, davam início à operação com bombas de gás lacrimogêneo. Rapidamente, sob as nuvens de fumaça tóxica, gritaria e corre-corre, ouviram-se disparos de rifles automáticos e pistolas. Em todo o país, os números oficiais falam em pelo menos 278 mortos — entre eles, 43 policiais — e 1.400 feridos.

"Helicópteros sobrevoavam e tratores destruíam a parede e as janelas. Polícia e soldados jogaram bombas de gás nas crianças. Continuaram atirando mesmo quando imploramos para que parassem", disse o professor Saleh Abdulaziz, de 39 anos, exibindo um ferimento na cabeça.

Abdulaziz era uma das centenas de islamitas que protestavam pela restituição do presidente Mohamed Mursi ao poder no acampamento erguido há seis semanas junto à mesquita Rabaa al-Adawiya, transformada em epicentro da luta contra o golpe militar no bairro de Cidade Nasser. Atiradores posicionados em prédios vizinhos abriam fogo contra quem tentava escapar e contra os que ousavam atirar pedras contra os invasores.

Feridos eram atendidos no chão, ao lado de cadáveres que eram enfileirados para serem recolhidos. Homens, mulheres e crianças choravam sobre corpos ensanguentados.

Há seis semanas, milhares de simpatizantes de Mursi, contrariando as ordens do governo para deixar os protestos, transformaram Cidade Nasser numa espécie de campo de refugiados. Famílias passavam dias e noites por ali, em barracas que tinham luz, tevê e até pequenas lojas. Ontem, não havia eletricidade, apesar do intenso calor.

"Eles atiraram na cabeça dos manifestantes", disse o médico Mohamed Taha, voluntário no hospital, que afirmou ter visto rostos inteiros desfigurados por balas.

Homens armados com bastões e capacetes atiravam pedras contra policiais e armavam barricadas e fogueiras com pneus. A fumaça preta e espessa era vista à distância. Nas ruas, voluntários distribuíam máscaras cirúrgicas e esguichavam vinagre e refrigerante nos rostos de pedestres para aliviar os efeitos de gás lacrimogêneo. Lojas fecharam, e os moradores, que há semanas expressavam oposição ao protesto, assistiam pelas sacadas. O chefe das Forças Armadas, general Abdel Fattah al-Sissi, era chamado de traidor.

Mortos

O cinegrafista Mick Deane, 61 anos, da emissora britânica SkyNews, e a jornalista Habiba Ahmed Abd Elaziz, 26 anos, da emissora Gulf News, morreram nos conflitos do Egito ontem. O repórter egípcio Ahmed Abdel Gawad, do jornal estatal Al Akhbar, também foi morto perto da Mesquita Rabaa al-Adawiya.

Interior

Os incidentes graves ocorreram no interior do Egito: ao menos três igrejas foram incendiadas por ativistas islamitas em Sohag, Fayoum e Minya. Os prédios foram atacados com bombas caseiras. A União da Juventude de Maspero, grupo que luta pelos direitos dos cristãos coptas no Egito — 10% da população — acusa a Irmandade Muçulmana de promover uma retaliação contra essa comunidade minoritária.

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